Luiz Ricardo Araújo
Florence
Planos para a área central
Análise
crítica dos planos de intervenção e Operações
Urbanas direcionados à área central da cidade de São
Paulo questões de democratização do planejamento
urbano
A proposta deste trabalho é uma busca por respostas quanto ao
grau de viabilidade, democratização (seja na informação
seja na participação) e atendimento aos interesses sociais
dos planos de intervenção focalizados e Operações
Urbanas localizadas na área central, atentando às percepções
sobre o que significa e/ou qualifica uma área central e quais os
motivos de degradação da área central, aos órgãos
privados ou públicos ligados aos responsáveis pela manufatura
dos planos e suas intenções, encaixados no panorama da elite
brasileira e suas peculiaridades. Como base de análise e devido
ao tempo de pesquisa limitado, a pesquisa restringiu-se a três propostas
de intervenção: O projeto e a Operação Urbana
Anhangabaú, a Operação Urbana Centro e o Programa
Reconstruir o Centro, tendo esses projetos se destacados devido seu
caráter e seus desdobramentos.
O Projeto e a Operação Urbana Anhangabaú
A iniciativa de intervenção e remodelação
da área do Vale do Anhangabaú fora proposta na gestão
do prefeito Reynaldo de Barros, por sugestão do arquiteto
e professor da FAUUSP Benedito de Lima Toledo para que acontecesse um concurso
público de projetos de intervenção. Pode-se dizer
que a proposta de requalificação do Vale do Anhangabaú
fora um resultado dos desdobramentos da política de intervenção
urbanística focalizada na área central empreendida a partir
de 1976, na gestão do prefeito e atual presidente do banco Itaú
Olavo
Setúbal, que nomeou seu plano de "plano de Revitalização
do Centro", e foi o responsável pela reforma de grandes marcos arquitetônicos
como o edifício Martinelli, o Viaduto Santa Efigênia e o Páteo
do Colégio. Realizou-se também um inventário geral
de edificações de valor histórico, arquitetônico
e cultural, que mais tarde foi base para a lei de patrimônio, onde
foram tombados e classificados na lei de zoneamento como Z8-200. Fora o
primeiro plano de revitalização para a área central
a ser pensado pelo órgão público em São Paulo,
ou seja, o primeiro sinal formal de interesse na situação
do centro da cidade, e é interessante para esta análise que
se entenda em que panorama urbanístico fora pensado este projeto
de revitalização. O projeto fora, na verdade uma etapa de
um processo mais longo, mais extenso.
Segue abaixo um trecho do Edital do "Concurso Público Nacional
para a Elaboração do Plano de Reurbanização
do Vale do Anhangabaú São Paulo.", publicado em 1981, resultado
da parceria entre PMSP, EMURB e IAB. Este trecho expressa os objetivos
do concurso:
"2.2 O objetivo do Concurso é a elaboração de
solução global para o conjunto urbanístico do Vale
do Anhangabaú.
-
A solução deverá ressaltar em proposta de caráter
abrangente, envolvendo circulação viária e de pedestres,
uso dos espaços públicos, equipamentos a nível local
e metropolitano, disciplina e regulamentação do uso do solo
e das edificações, valorizando os edifícios tombados
pelos poderes públicos ou considerados de zona especial e demais
aspectos que o concorrente julgar pertinente
Dada a complexidade do problema, o arquiteto deverá organizar
a proposta dentro de uma visão de conjunto, assimilando, porém,
as prioridades com a vista a uma implantação gradual da solução,
especificando claramente os elementos de uma intervenção
imediata."
A proposta de intervenção da prefeitura como um todo pode
ser subdividida em duas frentes de atuação : na intervenção
arquitetônica no conjunto do perímetro correspondente ao Vale
e a iniciativa de valorizar o perímetro urbano imediato que permeia
o Anhangabaú, através da Operação urbana. O
que foi citado acima é o Edital do concurso público de arquitetos,
que corresponde o mais próximo possível às metas
pensadas pelos planejadores da EMURB e do IAB para a intervenção.
Mais quais seriam tais metas?
Como uma amostra de um processo de desgaste da área central,
a região limítrofe do Vale do Anhangabaú perdia prestígio
e os lotes nela inseridos apenas depreciavam com o tempo. Além disso,
dentro da avaliação da prefeitura da época, o Anhangabaú
era uma peça essencial para uma retomada do processo de revitalização
do centro de São Paulo, uma vez que o Vale era responsável
por comportar um grande fluxo viário nos eixos sul-norte e sul-oeste,
além de servir de ligação do passeio público
entre duas áreas importantes da área central, separando o
Largo São Bento e marcos arquitetônicos como o edifício
Martinelli e a região das galerias de pedestres e do teatro municipal.
É deste conflito entre dois grandes fluxos de circulação
que surge o plano de metas do projeto vencedor do concurso público,
de autoria da equipe de arquitetos de Jorge Wilheim em co-autoria
com Rosa Grená Kliass, escolhido dentre 93 equipes que apresentaram
proposta das 153 que se inscreveram. Somente na administração
de Jânio Quadros o projeto fora aplicado com apenas algumas mudanças.
A solução adotada por Wilheim para resolver o problema da
circulação " propunha um rebaixamento parcial do leito da
Avenida Prestes Maia e a sua cobertura, realizada por uma grande laje de
concreto que reduzia a profundidade do Vale em pouco mais de 10 m. "
o que paisagisticamente foi considerado, inclusive pelo autor do trecho
transcrito, Ângelo Bucci, uma "atitude desastrosa", por destruir
a imagem de vale do próprio Vale " Esse "túnel" estendia-se
desde o Viaduto Santa Efigênia até o Viaduto do Chá;
o seu traçado sofria as "interferências" das instalações
existentes e, por isso, não resultava linear. Essa solução
eliminava o conflito pedestre-veículo da "praça" que era
no nível da rua formosa e feita na laje de cobertura da avenida
exceto pela alça de viaduto rodoviário que, vinda do "túnel",
aflorava em meio à praça para dar acesso à Avenida
São João. De qualquer forma o viaduto elevado não
era "obstáculo" ao trânsito de pedestres na "praça"
. Desse modo o conflito pedestre-veículos era eliminado" (Bucci,
em tese de mestrado). Nesse espaço, esta "praça", aconteceriam
eventos públicos, comércio, manifestações artísticas,
entre as atividades cotidianas da região.
A grande crítica ao projeto de Wilheim no pensamento de Bucci
reside no fato que, na história da cidade, o Vale do Anhangabaú,
desgastado ou não, sempre fora um cartão postal, a "sala
de visitas de São Paulo", como dizia o antigo prefeito Prestes
Maia, que tinha o Vale como peça importante em seu plano de
avenidas. Mais do que isso, o Vale, dado o seu destaque de elemento funcional
importantíssimo, estruturador de fluxos na cidade, era um espaço
de manifestações públicas importantíssimas
como o comício da campanha "Diretas Já", que aglutinou
mais de um milhão de pessoas em ato de cidadania e civilidade
uma vez que aquele lugar atraía a atenção geral da
sociedade ( uma versão atual desse lugar pode ser considerado a
avenida Paulista ). Com a aplicação do projeto, o Vale deixou
de ser reconhecido pela cidade como um espaço metropolitano, passou
a ser um "monumento" isolado da cidade.
"No Anhangabaú, os projetos se dividem entre aqueles que foram
capazes de dar conta deste convívio pedestres e automóveis
e projetos simplistas que não enfrentaram este conflito. Então,
o grande problema do projeto de Jorge Wilheim é este, eles não
lidaram com o conflito, eles estirparam o conflito. O Vale, hoje, ficou
reduzido a um espaço de desinteresse absoluto, para todas as funções"
(Regina Meyer).
Bucci também cita a teoria de Argan para exemplificar o descompasso
do projeto de Wilheim. O Vale atual seria o "monumento" isolado, "anticidade"
como projeto de edificação, em contraponto ao "monumental",
de escala metropolitana, onde o espaço edificado é reconhecido
e abraçado por uma escala maior, que lhe dá novas funções,
estas de escala metropolitana.
Mesmo assim, a proposta de se resolver problemas de escala urbana através
unicamente de projetos de arquitetura é ingênua, para não
dizer ridícula, contando com fatores sócio-econômicos
e culturais, políticas urbanas zoneamento, leis de uso do solo,
leis de trânsito e gestões públicas e demais características
inerentes de uma cidade e que não podem se desvincular do raciocínio
do órgão planejador urbano. Tentando seguir esta linha de
raciocínio a EMURB um instrumento da Prefeitura e os demais
órgãos responsáveis pela intervenção
tomaram a decisão de que seria necessário um mecanismo de
atração de capital privado que, segundo eles, traria recursos
e prestígio de volta para a região. Esse mecanismo, já
usado na chamada "Operações Interligadas", eram chamadas
de Operação Urbana, instituída durante a gestão
de Jânio Quadros, estudada de 1989 até a sua aplicação
em 1991, na região do Vale do Anhangabaú "prevendo, na área
central, a possibilidade de comprar potencial construtivo a mais do que
os limites estabelecidos pelo zoneamento e o resultado dessa venda seria
aplicado na área" (José Eduardo de Assis Lefévre,
como membro da EMURB e atual professor da FAU USP).
Lefévre, em sua fala, como coordenador da implantação
do projeto da Operação Urbana Centro, credita o fracasso
da Operação Anhangabaú a dois condicionantes: primeiro
devido a problemas burocráticos e falta de estudo de viabilidade
o dinheiro da operação urbana jamais foi aplicado na obra
do Vale, uma vez que esta tinha terminado em 91, antes da implantação
da operação. Em segundo lugar, o limite restrito de aproveitamento
no zoneamento da área central, somado ao tamanho limitado dos lotes,
reprimia a demanda de investimentos em edificações: "Na realidade,
nós vimos muito claramente no desenrolar da operação,
depois de sua aprovação que teve a vigência de três
anos que a compra de potencial construtivo não era objeto de desejo.
Ninguém queria, poucas pessoas quiseram comprar potencial construtivo
na área central" (Ibid). Anos depois, uma nova empreitada na tentativa
de reabilitar o centro de São Paulo seria proposta. Desta vez mais
abrangente, compreenderia boa parte da região sob influência
do Programa Pró-Centro.
Operação Urbana Centro
"Para agilizar o processo de retomada das atividades e reverter a situação
da área central, concebeu-se a lei n.º 12.349, de 6 de julho
de 1997, conhecida como Operação Urbana Centro. Esta lei
é um conjunto de medidas que estimulam o investimento privado na
área, e cria um centro dinâmico e verticalizado a conviver
com o centro tradicional antigo.
Dentre outras medidas, a lei permite aumentar índices urbanísticos
para a construção de hotéis e edifícios comerciais.
Cria, também, condições excepcionais para usos de
habitação, cultura, lazer e entretenimento. A lei surgiu
para reverter a situação criada por duas décadas de
legislação restritiva do uso do solo que, ao tentar impedir
a degradação da área, acabou por provocar efeito contrário,
inibindo seu potencial de pólo articulador".
Esta é a definição da Operação Urbana
Centro disponível no link do site da prefeitura de São Paulo.
Nota-se a falta de informações disponíveis para que
a população possa entrar em contato com o programa.
Basicamente, a Operação Urbana diz respeito a mudanças
de zoneamento e uso do solo, com a atitude que os criadores da operação
acreditam ser mais velozes por não enfrentar as barreiras burocráticas
impostas na manufatura e aplicação de um plano diretor :
"Embora planejamento de uma maneira geral seja uma atividade que não
me atraia muito pelo longo tempo de maturação e pela longa
interferência visível na cidade, o âmbito das chamadas
operações urbanas são planos de bairro, mais localizados
tem condições de interferir e mexer com a cidade de uma
forma mais direta que o planejamento entendido como zoneamento que
é algo de longo prazo e que não tem interferências
tão imediatas" (Lefévre). Cria-se então a proposta
de, através desses mecanismos se comprar potencial adicional de
construção, o que proporcionaria um canal de recursos a serem
reaplicados em melhorias no sistema de equipamentos urbanos e reurbanizações
de áreas deficitárias pela cidade. O que diferenciaria a
Operação urbana centro das anteriores experimentações
na Operação Interligada é a proposta de destinação
dos recursos arrecadados com a compra do potencial adicional, que seriam
reaplicados na própria região de implantação
da operação urbana, ao invés de distribuir-se os recursos
arrecadados.
Na concepção dos responsáveis pela operação,
o foco dos investimentos possibilitados pelos novos recursos seria : a
recuperação da imagem da área central como lugar atrativo
para o grande capital, através de melhorias na acessibilidade, criação
de mais áreas verdes, limpeza na poluição visual,
entre uma série de outras atitudes; viabilizar "o conjunto construído
moderno" , adaptando prédios para receber programas de grandes empresas
reforma de elevadores, instalação de ar condicionado, sistemas
de comunicação entre outros produtos mudanças no
coeficiente de aproveitamento dos lotes inseridos na área de intervenção,
esta muitas vezes mais abrangente do que a área de influencia da
Operação Urbana Vale do Anhangabaú. O perímetro
que diz respeito à zona de intervenção de toda a Operação
"vai das ferrovias, Santos-Jundiaí, Sorocabana, vindo desde a Alcântara
Machado passando pelo Largo da Concórdia, passando pela Luz, chegando
até a Praça Júlio Prestes. O limite a oeste abrange
o eixo das grandes avenidas: Duque de Caxias, Amaral Gurgel e depois contorna
a Praça Roosevelt para pegar a Caio Prado. Esse trecho ao sul é
constituído pela ligação leste-oeste para depois pegar
a Radial Leste até a ferrovia". Dentro deste perímetro se
inscreve uma área de tratamento diferenciado que "Corresponde basicamente
à área circunscrita pela antiga rótula, rótula
do Coronel Fontenelle ou anel de radiação do Prestes Maia,
que é o eixo dos viadutos acrescidos da Rua da Consolação
e Av. Ipiranga, os viadutos, Praça João Mendes, Praça
da Sé, Praça Clóvis, inclui todo o Parque D. Pedro
incluindo a Av. Mercúrio, a Av. Exterior, Senador Queiroz, depois
a Av. Ipiranga e contorna a Praça da República" (Lefévre)
Esta é chamada "Área de Especial Interesse". Dentro
dessa área, para os três primeiros anos de implantação
da Operação Urbana, estaria previsto a viabilização
da isenção de pagamento de contrapartida monetária
mediante um estudo de viabilidade do projeto que se encaixasse nas perspectivas
da operação, sem limites de gabarito e área construída.
Para complementar o processo de arrecadação de fundos e investimentos
para o centro, criou-se um outro mecanismo chamado Lei de fachadas,
de 1997, que consiste em conceder isenção do Imposto Predial
e Territorial Urbano (IPTU), por um prazo de 10 anos, quem patrocinar ou
promover a recuperação e ou manutenção da fachada
de imóveis tombados na área de abrangência da lei."O
Pró Centro, responsável pelo acompanhamento dos processos,
já contabilizou 230 consultas de pessoas, físicas e jurídicas
interessadas. Dessas, 39 autuaram processo de isenção fiscal,
na maioria condomínios. Em 1999, os quatro primeiros foram contemplados
pela lei. Em 2000, 0 condomínio Edifício Louvre recebeu a
isenção e estão previstos outros casos"(retirado do
site).
Nota-se, colocando tais resultados em números dentro da escala
metropolitana em que se aplica a área central, que as transformações
urbanas estão muito aquém daquelas previstas, melhor, muito
aquém de serem catalisadores de novo interesse público
lê-se também capital privado objetivado por seus planejadores.
Plano Reconstruir o Centro
O Plano Reconstruir o Centro foi elaborado pela gestão administrativa
municipal que começou em 2001 e fora resultado do trabalho de profissionais
da secretaria de planejamento, da SEHAB, do Pró Centro, da Administração
Regional Sé, e de organizações não governamentais
interessadas na área central como a Associação Viva
o Centro.
Baseado no programa veiculado nos canais públicos, podemos encarar
o plano Reconstruir o Centro como em uma linha diferenciada de não
só intervenção, mas de abordagem e entendimento do
perfil e das funções da área central. Seria talvez
o primeiro plano cujo centro focalizado tivesse um caráter social
ao se dizer social refere-se a um centro de desenvolvimento de atividades
sociais próprias da malha urbana algo além de um centro
de atrativos econômicos. Suas bandeiras, portanto, são a "realizar
uma política urbana com inclusão social na área central"
e a "democratização do uso dos espaços públicos
da área central", mais do que um resgate do perfil de um centro
econômico. Os objetivos do plano, portanto são:
"organização do comércio ambulante, reordenamento
do transporte público na região, habitação,
atendimento aos moradores de rua, geração de empregos, limpeza
pública, remodelação das calçadas e iluminação.
Turismo, recreação e cultura também receberão
importante atenção. Os principais objetivos do Reconstruir
o Centro são: melhorar as condições de circulação
de pedestres e de veículos e ampliar o uso residencial."
O plano consiste em adaptar a subprefeitura da região da Sé
a partir da Administração Regional como órgão
capacitado de administrar e coordenar o processo. Sua área de abrangência
está delimitada conforme o seguinte desenho: o Centro Velho (distrito
Sé), o Centro Novo (distrito da República), e também
incluindo o conjunto de bairros centrais Bom Retiro, Santa Cecília,
Pari, Brás, Cambuci, Liberdade, Bela Vista e Consolação.
Consistido por um grande número de projetos de intervenção,
novas políticas e alterações em serviços e
equipamentos urbanos, o plano é separado em 8 tópicos, referentes
às atividades que deveriam ser desenvolvidas na área central:
-
Andar no Centro
-
Morar no Centro
-
Trabalhar no Centro
-
Descobrir o Centro
-
Preservar o Centro
-
Investir no Centro
-
Cuidar do Centro
-
Governar o Centro
Sendo o Plano Reconstruir muito recente pouquíssimos resultados
surgiram até então, poucas entidades e estudiosos foram capazes
de divulgar o seu parecer sobre as medidas do plano. Dentre elas, está
o Fórum Centro Vivo, um espaço de debates sem hierarquia
consolidada onde diversas outras entidades desde movimentos populares
da área central até membros de institutos de estudo como
o Florestan Fernandes, mais urbanistas, estudantes e funcionários
da câmara de vereadores debatem sobre os temas que concernem à
atual situação do centro da cidade e os planos de intervenção
direcionados á região. Como entidade unificada, defendem
a inclusão social e o atendimento às pessoas que não
tem acesso aos meios de produção na área central.
O Fórum Centro Vivo lançou, recentemente o parecer sobre
o plano, que fora mandado anteriormente à prefeitura. Foram selecionados
e abaixo expostos alguns dos pontos mais interessantes do parecer para
explicitar um pouco o caráter do plano e a posição
da entidade perante ele:
-
"A questão da informalidade, que é estrutural na formação
de cidades na periferia do capitalismo como São Paulo, não
pode ser tratada como ilegalidade. A condição de informalidade
em que a que a população pobre é levada a viver, para
garantir sua habitação, trabalho, etc é decorrente
da falta de políticas públicas sociais que garantam os seus
direitos como cidadãos. Essa condição repercute sobre
todas as outras relações sociais. Por isso, o problema do
comércio informal, das favelas, dos cortiços e das ocupações,
não pode ser apenas tratado do ponto de vista da lei e da sua suposta
ilegalidade, por uma leitura conservadora do direito jurídico. Ao
tratar desses problemas, consideramos que um enfoque mais progressista
não pode abrir mão de compreender como superar a informalidade
pelo ponto de vista da inclusão social e dos direitos.(...)
-
A ação não pode se restringir ao espaço público,
por isso sugerimos acrescentar o objetivo de fazer cumprir a função
social da propriedade, contra a retenção de imóveis
vazios. Não podemos aceitar que imóveis permaneçam
ociosos numa cidade com alto déficit habitacional como São
Paulo. A função social da propriedade e o direito à
moradia devem prevalecer na definição de políticas.(...)
-
Questionamos a legitimidade de operações urbanas e outras
ações do poder público que tenham por fundamento um
processo de valorização imobiliária, mesmo que sob
a justificativa de gerarem contrapartidas sociais (ver carta de princípios,
no jornal do FCV, em anexo). Acreditamos que seja esse o caso da Operação
Urbana Centro, e por isso propomos sua revogação. A Operação
Urbana Centro foi aprovada em um contexto político em que as práticas
do poder público estavam intimamente vinculadas aos promotores imobiliários,
inclusive através de esquemas ilícitos. A O.U. Centro visa
atrair um tipo de uso do chamado terciário avançado, e tem
como objetivo uma reconversão dos espaços que serve mais
aos grandes projetos imobiliários do que à reciclagem dos
edifícios para fins sociais. Ao promover a valorização
imobiliária, pode-se inviabilizar a inclusão social, objetivo
do Plano Reconstruir o Centro, uma vez que o preço dos imóveis
atualmente já dificulta a realização de uma política
habitacional, e leva muitos inquilinos à condição
de encortiçados.
A respeito dos grandes projetos imobiliários, temos preocupação
quanto ao impacto sócio-econômico e territorial que produzem.
(...)
PRODUÇÃO DE UNIDADES HABITACIONAIS
1) Não consideramos as linhas de financiamento atuais adequadas
a faixas de baixa renda. O PAC (CDHU) foi uma promessa que não saiu
do papel. O PAR (CEF) tem viabilizado alguns empreendimentos, mas beneficia
apenas famílias com renda superior a 540 reais (3 SM) e além
disso, obriga a execução de obras por empreiteiras, resultando
em apartamentos muito pequenos (muito abaixo do índice de m2 por
pessoa).recomendado pela ONU (...).
REVISÃO DA LEGISLAÇÃO
A revisão da legislação é uma ação
premente para o sucesso de qualquer intervenção pública
na área central e necessária para a viabilização
de projetos urbanísticos e habitacionais econômicos e de qualidade.
Neste sentido, Fórum Centro Vivo apresenta algumas intervenções
prioritárias em relação ao Plano Centro:
- Apoio à alteração no conjunto da legislação
urbanística e edilícia, com destaque para a aprovação
de Áreas e Zonas de Interesse Social que bloqueiem a especulação
imobiliária em curso na área central, que muitas vezes procura
se beneficiar dos financiamentos destinados à baixa renda para vender
imóveis que estavam em dificuldade de entrar no mercado.
- Proposta para que na revisão da legislação sejam
contempladas as sugestões dos Movimentos e Assessorias, como por
exemplo:
- Uma maior flexibilização das normas edilícias
(tanto das previstas no Código de Obras como no Decreto de habitação
de Interesse Social) e padrões técnicos de construção
(permitindo diversidade de projetos); A legislação é
voltada para a construção de novas unidades e não
foi pensada para a reciclagem ou reforma de edifícios.
- Permitir uso misto nos imóveis destinados à Habitação
de Interesse Social, possibilitando o uso comercial das áreas térreas,
por exemplo, para garantir a sustentabilidade do condomínio.
- Melhor aproveitamento no uso e ocupação do solo (buscar
instrumentos urbanísticos de ampliação do coeficiente
do potencial construtivo, urbanização consorciada, etc) para
imóveis destinados à habitação de interesse
social.".
Por contar com a intervenção e cooperação de
certas entidades, estas que focalizam transformações na área
central seguindo o raciocínio das entidades que as compõem
no caso da Associação Viva o Centro, as empresas como o
Bank Boston, que a financia, e representantes dos comerciantes estabelecidos
na área central e defendendo os seus interesses, o plano Reconstruir
segue por deliberações que por muitas vezes segue um processo
de priorização da atividade comercial formal como caminho
para dinamizar e reestruturar as atividades metropolitanas na região.
Tal atitude, portanto, acaba por colocar certas entidades à margem
desse processo, como a organização de comércio informal,
os moradores de rua, e outras vítimas do processo de urbanização
de São Paulo. No desenrolar do processo de aplicação
do projeto, está também prevista a revisão e reformulação
da Operação Urbana Centro.
Qual o Papel do Centro da Cidade?
Uma maneira de definir o papel de uma área central é fazer
o caminho oposto e equacionar as razões que fazem da área
em particular um centro urbano. Essa definição depende muito
da própria definição de cidade que o estudioso pode
fazer, evidenciando como definição sua infraestrutura, funcionalidades,
elementos urbanos e aspectos humanos da cidade é a cidade como
fruto da lógica capitalista de produção de espaço
e das relações humanas, que se traduzem em relações
urbanas.
Temos, para muitos teóricos urbanos, como caracterizador da divisão
social do espaço, isto é, o elemento que transforma o solo
urbano em mercadoria hierarquizando assim a distribuição
dos assentamentos humanos pelo poder aquisitivo de cada classe social dentro
do espaço urbano como a distância da residência para
com os meios de produção estruturadores da cidade. Estes
são os teóricos dos "modelos descritivos naturalistas,
que incluem a escola de Chicago e seus seguidores, que desenvolveram a
chamada econometria dos fatores de valor do solo" (Somekh), e as correntes
teóricas da Ecologia Urbana segundo Topalov, dentro dessa corrente
"o preço da terra é sempre considerado como o único
operador da diferenciação urbana", ignorando aspectos sociais
urbanos e da Economia Neoclássica "caracteriza-se por analisar
a lógica da decisão econômica racional, deduzindo leis
de comportamento. (...) o tempo de deslocamento tem um custo e cada família
pode atribuir um preço ao tempo despendido nos seus deslocamentos"
(Ibid), isto é, quanto mais longe do centro (este caracterizado
como "centro de negócio").
Dentro dessa definição, o centro da cidade define-se como
a aglomeração do comércio e serviços principais,
área de maior circulação de capital e mercadorias.
Deixa-se de lado, não só na análise da área
central, mas como em todo o estudo urbano, os aspectos sociais e de luta
de classes que, segundo Topalov, acaba por definir o desenho e a gestão
urbana pela cidade. Não há, dentro dessa definição,
a idéia de referencial para o centro urbano, ou de vida pública:
não se pode reduzir o ser urbano a um mero consumidor e trabalhador,
principalmente em uma cidade como São Paulo, onde os detalhes socioeconômicos
são muito mais sutis, e os papéis não são tão
claramente definidos.
Temos como exemplo de um centro econômico que não tem a
competência de um centro de vida urbana a região lindeira
da Av. Eng. Luís Carlos Berrini e a região comercial da Vila
Olímpia, onde a carência de equipamentos urbanos, espaços
públicos, e serviços que atraiam o interesse da população
em geral não só desperdiça o potencial que a infraestrutura
e o número de usuários viabiliza para a região que
poderia servir melhor a população que trabalha lá
diariamente mas também como centro urbano para aqueles que poderiam
vir a utilizar a região como pólo cultural ou de serviços
como normalmente em um centro urbano. Além disso, a área
da Berrini está fechada para a cidade, e o fato dela desempenhar
o papel de pólo comercial de nada favorece para a malha urbana de
São Paulo.
Um centro urbano, então, deve aglutinar grande parte das principais
atividades urbanas, isto é, as atividades que compõem o conjunto
urbano, para fins de facilitar o acesso mais democraticamente possível
necessidades de trabalho, cultura, lazer e informação
com a ressalva que exime a região de concentrar a totalidade dos
elementos devido à relevância de aspectos socioeconômicos
e culturais que se sobreponham à necessidade de acesso facilitado.
Temos como exemplo disso um dos motivos do deslocamento dos escritórios
das grandes empresas previamente instaladas no centro velho de São
Paulo, que apesar de apresentar um conjunto edificado inapropriado para
atender o programa dessas instituições, tinha uma acessibilidade
em larga escala muito satisfatória do ponto de vista do usuário
de transporte público, o que seria muito satisfatório, mas
a dificuldade de acesso apresentada aos usuários de automóveis
privados complicado traçado de ruas e falta de garagens nos edifícios
e estacionamentos particulares terceirizados acabou por ser um fator
decisivo para que as diretorias, que prezam pelo seu próprio bem
estar e o de seus clientes, escolhessem se transferir para áreas
como a da Berrini, que por sua vez não oferece um acesso democrático
para seus usuários, tanto quanto um ambiente que propicia a vivência
urbana e o exercício das relações adequadas do modo
de produção.
Lúcio Costa, ao conceber o traçado do Plano Piloto de
Brasília, pensou em quais atividades seriam praticadas na cidade
e preparou o centro da cidade, o "Eixo Monumental" no mesmo sentido de
monumental que representa a monumentalidade da metrópole para
receber todas essas funções diariamente. Mas em seu memorando
justificativo, Costa evidencia que o conjunto edificado que aglutinasse
os meios de produção e suas subseqüentes atividades
metropolitanas, que são necessárias para a produção
da "cidade funcional, é aquela que responde perfeitamente às
necessidades de produção, exatamente restritas às
cinco unidades propostas por Le Corbusier (Planejamento Urbano): habitação,
trabalho, lazer circulação e paisagem."(Bucci).
Mas para Costa, a cidade como organismo funcional apenas não
é capaz de suprir as necessidades de um indivíduo humano
urbano dotado de espírito crítico e que necessita exercer
sua cidadania. Esse elemento abstrato, que não pode ser representado
por algum conjunto edificado ou marco arquitetônico fora denominado
por Lúcio Costa como Civitas, em complementação
à também necessária estrutura funcional da cidade
os já mencionados elementos que "equipam" a cidade denominada
Urbs.
A própria necessidade desse elemento abstrato para o exercício
do papel de uma metrópole advém da própria definição
de uma cidade e da definição que Lúcio Costa deu a
Brasília (transcrito da tese de Bucci), um tanto quanto romântica,
que evoca temas de cidadania num tom aproximado do ideário da antiguidade
clássica, porém com a objetividade de buscar a vivência
sadia e plena do cidadão, este definido por Costa como muito mais
que um consumidor e trabalhador, como este fora reduzido nas teorias urbanas
economicistas:
"(...) Ela deve ser concebida não como simples organismo capaz
de preencher satisfatoriamente e sem esforço as funções
vitais próprias de uma cidade moderna qualquer, não apenas
como Urbs, mas como Civitas, possuidora de atributos inerentes a uma capital.
E, para tanto, a condição primeira é achar-se o urbanista
imbuído de uma certa dignidade e nobreza de intenção,
porquanto dessa atitude fundamental decorrem a ordenação
e o senso de conveniência e medidas capazes de conferir ao conjunto
projetado o desejável caráter monumental. Monumental não
no sentido de ostentação, mas no sentido da expressão
palpável, por assim dizer, consciente, daquilo que vale e significa.
Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo
cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação
intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de
governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos
e sensíveis do país (...) " "Relatório do Plano
Piloto de Brasília" Brasília, DePHA, 1991. p.20.
Convém, portanto, que projetos de planos de intervenção
tenham em primeiro lugar, definido em suas bases ideológicas, qual
sua definição de centro e suas funções, para
atender com propriedade as reais demandas, não só da região,
mas da cidade inteira, uma vez que a área central, agindo como elemento
estruturador urbano, se articula e interfere, seja na escala funcional
até a escala social, nas demais regiões da cidade. Análises
como a do Fórum Centro Vivo sobre o papel de provedor de emprego
e moradia para os afixados na área central que estão à
margem da inclusão social moradores de rua, encortiçados,
ambulantes explicitam uma ideologia democrática no aspecto de
acessibilidade aos meios de produção dentro da cidade, mas
que esquecem de atentar para o caráter diferenciado que o centro
histórico exerce dentro de São Paulo, ainda que degradado
e esquecido pela elite paulistana.
Também não se pode considerar que a região é
somente território de grande potencial imobiliário (ou não),
como na ideologia das Operações Urbanas, e definir como centro
aquela região que aglutina os mais destacados meios de produção
e circulação de capital. Desvencilhar a presença de
movimentação e relações urbanas aquelas atividades
destacadas por Costa do panorama de um foco de movimentação
ideológica é fazer uma análise superficial, o que
pode se atentar na consolidação do projeto do Vale do Anhangabaú,
onde a desintegração de uma área de fluxo de meios
de produção à vista dos olhos da cidade tirou o caráter
metropolitano daquele marco. Atualmente, um exemplo da congregação
de meios de produção concentrados com o desenvolvimento de
atuação da sociedade civil é a região da Av.
Paulista, onde os equipamentos urbanos satisfatórios e o histórico
de uma região que já pertencia à área central
expandida antes de se tornar foco de movimentação financeira,
somados a esse destaque no olhar nacional conferido a uma das regiões
mais economicamente importantes do país, tornaram a avenida em palco
de manifestações públicas que chamam a atenção
de toda a sociedade.
A Lógica das Operações Urbanas
O grande problema enfrentado pelos órgãos gestores do
planejamento urbano atualmente é a pequena e escassa fonte de recursos
necessários para a implementação e manutenção
dos equipamentos urbanos. No caso de São Paulo, tal problema não
se limita à administração municipal, a falta de recursos
afeta tanto o governo do estado quanto o poder federal e chega a forçar
até parcerias entre governos de partidos diferentes em prol de projetos
de larga escala, como a expansão da rede metroviária de São
Paulo. Ao mesmo tempo, os processos de produção do espaço
urbano proporcionam aos agentes de comercialização do solo
incorporadoras, imobiliárias acesso a grandes somas de capital
através de investimentos na valorização do espaço
urbano em desenvolvimento.
Faz parte importante do novo projeto de plano diretor recém apresentado
pela atual prefeitura de São Paulo e encaminhado para o processo
de aprovação na câmara de vereadores uma mudança
na lei de zoneamento e uso do solo que abrangeria e transformaria todo
o território do município de São Paulo. Dentro do
conjunto de mudanças, e talvez o elemento mais importante dele seja
a redução da maioria dos lotes urbanos e entre eles inclusive
os terrenos alvos de futuros grandes investimentos imobiliários
a um zoneamento cujo coeficiente de aproveitamento isto é, a
porcentagem de área construída sobre a área do lote
de valor 1.0. Em outras palavras, sob essas circunstâncias, não
poderá ser construído mais do que o valor da área
do lote, o que impossibilita praticamente a totalidade dos empreendimentos
imobiliários atuais e iguala todas as regiões da cidade aos
olhos dos investidores imobiliários a mesma dificuldade de se
construir no centro será válida para o resto do município.
A única maneira de se construir além dos limites demarcados
pelo zoneamento é, então, o artifício do potencial
adicional de construção proposto no mecanismo da Operação
Urbana. Na verdade, tais mudanças não afetariam, a longo
prazo, o processo dos empreendimentos imobiliários, uma vez que
o preço final de viabilização do investimento será
o mesmo para quem utiliza o lote para construir, uma vez que o preço
a ser pago pelo potencial de construção já estaria
sendo pago para o proprietário do imóvel.
A expectativa, caso o plano seja aprovado, é que valor dos terrenos
caia, uma vez que a possibilidade de construção e principalmente
de lucro despenca devido ao novo zoneamento e que aconteça a transferência
do valor estimado do potencial construtivo, que se traduz no potencial
de produção de capital através da especulação
imobiliária, das mãos do dono do lote para as mãos
da prefeitura, com a venda do potencial construtivo, como estratégia
de se criar uma ampla fonte de recursos, estes que segundo os responsáveis
pelo projeto da Operação seriam reintroduzidos na região
alvo da operação delimitada por lei e aplicados na criação
e manutenção de equipamentos urbanos. A venda do potencial
construtivo será formalizado com o advento dos CEPACS (Certificados
de Potencial Adicional de Construção), artifício que
seria usado nas operações urbanas Faria Lima e Águas
Espraiadas, que na verdade funciona com o "lançamento antecipado
no mercado financeiro de títulos equivalentes ao valor total desse
estoque de potencial construtivo a mais (...) gerando recursos imediatos
ao poder público. Para aproveitar-se do direito adicional de construção
naquela área, o empreendedor teria que adquirir CEPACS no mercado
e restituí-los à Prefeitura"(Ferreira e Fix, em artigo publicado
na Folha de São Paulo, "Tendências e Debates", terça,
17 de abril de 2001). Sendo o certificado desvinculado do referencial que
é o terreno e o empreendimento, os autores do artigo alertam para
o perigo de se gerar "um novo tipo de especulação imobiliária,
financeirizada".
A trajetória do planejamento urbano em São Paulo aponta
para a apropriação da lógica das operações
urbanas para a produção do espaço urbano. Ora, uma
vez que as operações urbanas seguem a lógica do mercado
imobiliário não se espera no futuro que se proponha uma
operação urbana em uma área sem nenhum atrativo econômico
estabelece-se assim que o planejamento urbano será controlado
pelas leis de mercado ao invés do interesse público. As áreas
excluídas dos limites das Operações, justo as áreas
mais carentes de serviços e abastecimento de equipamentos urbanos,
serão excluídas da atuação do órgão
planejador graças à lógica criada para a intervenção,
onde o planejamento que fora um dia pensado como um todo, será dividido
em núcleos de interesse imobiliário, e distribuído
entre os investidores.
Teremos então, uma cidade secionada entre ilhas de desenvolvimento
custeado pelo governo, que traz a infraestrutura para o usufruto dos empreendedores,
sem que essas regiões sejam adequadamente ligadas por ligações
viárias metropolitanas e sistemas de transporte coletivo, desprovidas
de serviços de interesse público, onde as pessoas que servem
e trabalham nessas regiões teriam que arduamente migrar da região
onde moram esta desprovida de qualquer infraestrutura para seus respectivos
locais de trabalho. É a inversão de papeis: o estado, que
na teoria defende os interesses públicos, deixa o planejamento
urbano, que é sua responsabilidade, nas mãos da elite empresarial
que obviamente segue seus próprios interesses em prol a sua própria
sobrevivência, e reproduz o processo excludente de produção
do espaço urbano.
Considerações Finais
Devemos encarar a realidade da incapacidade do órgão gestor
urbano, a Prefeitura, de planejar e governar o território do município
de São Paulo, devido às suas excepcionais dimensões
e números. A possível tendência mais fácil de
se realizar, é a do fortalecimento e maior independência das
sub-prefeituras, com o exemplo da Administração Regional
Sé dentro das deliberações do plano Reconstruir o
Centro, e da formação e aplicação de planos
focalizados como os planos de intervenção para a área
central. O que deve se atentar, em primeira instância, é como
acontecerá a relação entre o planejamento das regiões
separadamente e como o estado, responsável pelo planejamento global,
fará as ligações adequadas entre as regiões.
O maior desafio para o planejador é como lidar com a concomitância
de diferentes escalas de fenômenos dentro de uma mesma região.
Por exemplo, a área central tem seu próprio leque de características
individuais somado ao paradigma de estar inserido dentro da mancha urbana
de São Paulo, que envolve não só o município
como as cidades adjacentes, como a ABC Paulista, Guarulhos e Osasco. No
entanto, nunca o problema urbano da megalópole fora pensado estabelecendo-se
ligações entre as regiões dentro do município
e entre a capital e os demais municípios, acreditando ou apenas
se enganando que tais estruturas urbanas não interajam.
É importante frisar o quanto importante é o acesso mais
democrático possível da população aos processos
de gestão urbana e quanto isso vem sendo negado, mascarado por um
processo decisório falsamente democrático, e por representantes
que não tem como objetivo o bem público.O que o estado e
a mídia tentam mascarar e a população em geral desconhece
é o papel fundamental do acesso público as políticas
urbanas e da contestação das diversas organizações
ao processo decisório, como os movimentos sociais, a universidade,
organizações de bairro e sindicatos, em entre outros. Isso,
na verdade, não é novidade, e sim algo constante em qualquer
sociedade atual, onde o grau de democratização das políticas
públicas já alcançou níveis mais elevados.
É importante ressaltar o papel essencial que os movimentos populares
exerceram nos anos 80, quando o desdobramento de seus atos alavancou a
criação do estatuto da cidade e como se faz importante a
participação dos movimentos para a aplicação
do estatuto, somado ao plano diretor a ser manufaturado.
Bibliografia:
BUCCI, Ângelo. Anhangabaú, Chá e Metrópole.
Dissertação de mestrado. FAUUSP, 1998.
SOMEKH, Nádia. A (des)Verticalização de São
Paulo. Dissertação de mestrado.FAUUSP, 1987.
NEGRI, Antonio. Review of Bobbio: Future of Democracy and Which socialism?
Capital & Class37: 156-61, 1989.
Publicação do Programa Reconstruir o Centro , da
prefeitura de São Paulo.
Revista PÓLIS # 19 : Revitalização de Centros
Urbanos. Polis, 1994.
SITES:
www.reconstruirocentrosp.hpg.com.br/texto.htm
www.vivaocentro.org.br
www.infosampa.prodam.sp.gov.br/sehab/procentro/
www.prefeiturasp.gov.br
www.forumcentrovivo.hpg.ig.com.br
Artigos:
Transcrição da Palestra do Professor José Eduardo
de Assis LEFÉVRE sobre a "Operação Urbana Centro",
na 20a reunião do Clube das Idéias.
Artigo publicado na Folha de São Paulo, "tendências de
Debates", terça, 17 de abril de 2001: A urbanização
e o falso milagre do CEPAC, escrito por João Sette Whitaker
Ferreira e Mariana Fix.
Artigo publicado no Estado de São Paulo, no caderno "Cidades",
sexta-feira, 19 de outubro de 2001: Plano Diretor reduz áreas
de zoneamento, por Iuri Pitta.