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Tomas
Martins
Análise
do desenvolvimento do Metrô em São Paulo
Introdução
Este
trabalho se propõe a levantar como se deu o desenvolvimento das
linhas do Metrô de São Paulo e seus planos, analisando as
direções que estes tomaram ao longo do tempo e tentando
estabelecer
possíveis razões para tais decisões.
Desta
maneira, iniciaremos apontando e caracterizando os principais planos e
propostas desenvolvidos para o Metrô de São Paulo ao longo
dos anos, para depois levantarmos o que foi realmente executado desses
planos. Seguiremos então para a análise desses fatos e
das
atuais linhas em projeto: a Linha 4 e a Linha 5, verificando a
relevância
destas na rede do metrô e se não haveria outras
prioridades
anteriores a estas duas linhas.
Os
Planos para
um Metrô em São Paulo
Desde
o início do século XX se considerava a
implantação
de um sistema de transporte de massa rápido e eficiente
para
São Paulo, porém planos como o do metrô realizado
pela
Light e outras propostas subseqüentes nunca saíram do
papel,
dando-se sempre preferência à ampliação do
sistema
viário e ao transporte coletivo sobre pneus.
Foi
apenas quando a situação de saturação do
sistema
viário era incontornável que passou-se a considerar
seriamente
a urgência de um sistema de transporte de massa de alta
capacidade
que desafogasse o sistema viário de São Paulo,
principalmente
na região central, que se encontrava sempre congestionada pelo
número
excessivo de ônibus que por ali passavam. Uma das principais
propostas
para a solução deste problema foi feita em 1968, seguindo
o entusiasmo geral produzido pelo “Milagre Brasileiro” – crescimento
entre
7 e 14% ao ano por quase por uma década. O Plano
Urbanístico
Básico de São Paulo (PUB), cujo vulto das propostas nunca
mais se equiparou, propunha uma rede de cerca de 615 km de metrô
(incluindo as linhas de trem urbano), além de uma malha
viária
retangular de também 615 km de extensão. Com isso,
propunha-se
não apenas a criação de uma rede de metrô de
dimensões sem precedentes, mas também que o Metrô
se
tornasse o principal eixo estruturador do transporte e do crescimento
urbano.
Infelizmente, praticamente nada deste plano se tornou realidade.
Um
pouco antes das propostas do PUB, em 1966, foi criado pela prefeitura
de
São Paulo o Grupo Executivo do Metropolitano (GEM) que, como
responsável
pela construção do Metrô de São Paulo,
realizou
uma concorrência pública vencida pelo consórcio HMD
(Hotchief-Montreal-Deconsult). Pouco depois, em 1967-68, a HMD
desenvolveu
o primeiro plano para uma rede básica de metrô que
realmente
seria levado a cabo. A rede proposta era de caráter
predominantemente
radio-concêntrico, tipologia que viria a ser regra básica
no desenho de praticamente todos os planos posteriores. Possuindo
quatro
linhas, duas delas com ramificações, elas se dirigiam nos
sentidos norte-sul, sudeste-sudoeste, noroeste-nordeste e ao longo da
avenida
Paulista, único trecho não-radial da rede. A área
de atendimento dessa rede se limitava basicamente ao centro, às
regiões oeste (até o rio Pinheiros) e sul, e parte da
margem
norte do rio Tietê. A região leste da cidade, apesar de
já
apresentar um razoável grau de crescimento, praticamente
não
foi levada em consideração.
Antes
mesmo da conclusão da construção da primeira linha
(Norte-Sul), o plano de 1968 já estava sendo submetido a
revisões
pela Companhia do Metropolitano de São Paulo. Em 1975
desenvolveu-se
então um novo plano para a Rede Básica de Metrô de
São Paulo. Este plano se caracteriza pela ousadia na
extensão
das linhas, fruto talvez ainda do “Milagre Brasileiro” vivido nos anos
60-70. Praticamente todas as linhas apresentavam prolongamentos que
chegavam
aos municípios vizinhos a São Paulo, além da
mudança
do desenho da linha Noroeste-Nordeste para seguir o sentido
leste-oeste,
finalmente atingindo a Zona Leste, que já correspondia a cerca
de
30% da população do município de São Paulo.
Criou-se também mais uma linha que seguia o sentido
sudoeste-leste,
também chegando à Zona Leste.
Nos
anos 80, a pujança econômica vivida pelas duas
décadas
anteriores já havia se transformado numa crise de grandes
dimensões,
fazendo com que todos os planos e projetos sofressem um
conseqüente
retrocesso. O plano da Rede Básica de Metrô produzido em
1982
reflete tal fato, ao retornar praticamente ao desenho proposto pela
HMD,
de quase 15 anos antes, apenas estendendo as linhas Paulista até
a região do Oratório, a linha Norte-Sul até o
Jaçanã
e mantendo o novo traçado da linha Leste-Oeste, que já
estava
em construção desde 1975.
Outro
reflexo da crise econômica foi o desenvolvimento do plano para
uma
Rede Mínima de Metrô, de 1985, já prevendo a
impossibilidade
de realização da Rede Básica de 82. Tal rede
mínima
excluía o ramal da linha Norte-Sul e todo o trecho sudeste da
linha
Sudeste-Sudoeste. Em ambos os casos, o desenho das linhas privilegia
novamente
as regiões central e sudoeste de São Paulo, deixando as
zonas
Norte e Leste com apenas uma linha para servi-las, algo extremamente
nocivo
principalmente para a Zona Leste, pois criaria uma estrutura do tipo
“espinha
de peixe” em seu sistema viário, sobrecarregando todo o trecho
ao
longo das linhas do metrô e trem.
Em
1990, Csaba Deák propõe num estudo intitulado “Elementos
de uma Política de Transporte Público em São
Paulo”
uma rede de metrô com sete linhas tendo como meta o ano 2000. A
rede
proposta tenta homogeneizar o acesso a todas as regiões da
cidade
através de uma estrutura radio-concêtrica com linhas
perimetrais
que interligam regiões distantes sem passar necessariamente pelo
centro da cidade. Apesar da ainda presente crise econômica, o
estudo
afirma que os relativamente pesados investimentos necessários
para
a construção dessa rede logo se converteriam num aumento
significativo na produção em toda a região
metropolitana
de São Paulo ao diminuir o tempo desperdiçado em viagens
e congestionamentos.
A
rede proposta se apresenta bastante superior às anteriores, pois
garante acesso igual a praticamente todas as regiões da
metrópole,
trazendo benefícios a todos os habitantes e não apenas
à
uma porção destes. É também a primeira
proposta
a levar três linhas de metrô paralelas até os
extremos
da Zona Leste de São Paulo.
Uma
nova configuração da rede “oficial” surge em 1991, com
dimensões
bem mais tímidas que as da proposta “não-oficial” do
estudo
de Csaba Deák. Ela se apresenta como uma
reafirmação
da Rede Mínima de 85, apenas com o acréscimo de uma linha
no sentido sudoeste-centro. Esse é o desenho que configura de
maneira
mais patente a segregação da Zona Leste com
relação
ao restante da cidade através da distribuição do
sistema
de transporte coletivo público. Enquanto a região
sudoeste
é servida por todas as linhas do Metrô (duas
exclusivamente),
a Zona Leste é atendida por apenas uma dessas linhas, provocando
uma saturação em todo o seu sistema viário e na
própria
linha do metrô.
Em
1994-95, mais uma rede de Metrô é proposta através
do Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado (PMDI), tendo como
ano-meta 2010. Se comparado com a pobreza dos planos anteriormente
desenvolvidos
(82, 85 e 91), este apresenta avanços significativos, como o
acréscimo
de linhas perimetrais, que diminuiríam a saturação
já há muito presente tanto nas linhas Norte-Sul e
Leste-Oeste.
Apesar desses avanços, a Zona Leste continua sendo atendida por
apenas uma linha de Metrô, preservando assim todos os problemas
conseqüentes
desse tipo de organização.
Na
segunda metade da década de 90, finalmente ocorre a iniciativa
de
se incorporar ao de uma maneira realmente efetiva as linha de trem que
atravessam a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
à
rede do Metrô, modernizando-se estas linhas. Iniciou-se
então
entre 1997 e 1999 a produção de um Plano Integrado de
Transportes
Urbanos (PITU 2020) que, tendo essa integração em mente,
resultou na criação de uma pro-posta para uma rede aberta
de linhas de metrô. Vale notar que este novo plano é
bastante
semelhante à proposta feita por Csaba Deák em seu estudo
de 1990. Além de contar com uma real integração
com
as linhas de trem (apesar destas não serem consideradas
verdadeiras
linhas do metrô), a rede também conta com outra linha de
monotrilho
que interliga os três aeroportos da RMSP entre si e conecta-os
com
o metrô.
Caso
toda a rede proposta pelo PITU 2020 seja realmente implantada, o
transporte
coletivo em toda RMSP sofrerá uma melhoria significativa,
facilitando
o acesso de todas as regiões a todas as regiões da
metrópole.
Além disso, as conseqüências na produtividade dessa
melhoria
provavelmente serão bastante semelhantes às indicadas por
Csaba Deák em seu estudo, posto que durante a década de
90
a taxa de crescimento da RMSP estabilizou-se.
 |
FIG.01
Rede
Básica do Metrô – 1968.
4
linhas
•
Santana-Jabaquara, ramal para Moema
•
Vila Madalena-Paraíso
•
Casa Verde- Vila Maria
•
Jóquei Clube-Anchieta, ramal para Vila Bertioga |
 |
FIG.02
Rede
Básica do Metrô – 1975.
5
linhas
•
Tucuruvi-Jabaquara
•
Freguesia do Ó- Paulista-Vila Prudente
•
Lapa-Itaquera
•
Pinheiros- São Bernardo
•
Santo Amaro-Vila Formosa |
 |
FIG.03
Rede
Básica do Metrô – 1982.
4
linhas
•
Jaçanã-Jabaquara, ramal para Moema
•
Vila Madalena- Oratório
•
Barra Funda- Itaquera
•
Três Poderes- Anchieta, ramal para Vila Bertioga e
Rede
Mínima do Metrô – 1985.
4
linhas
•Jaçanã-Jabaquara
•
Vila Madalena- Oratório
•
Barra Funda-Itaquera
•
Três Poderes-Luz |
 |
FIG.04
Proposta
de Csaba Deák – 1990.
7
linhas
•
Tucuruvi-Jabaquara
•
Pirituba-São Miguel
•
Osasco-Guaianases
•
Taboão-Diadema
•
S Amaro- Guarulhos
•
Rio Pequeno- Ferrazópolis
•
Castelo Branco-São Mateus |
 |
FIG.05
Rede
Básica do Metrô – 1991.
5
linhas
•Tucuruvi-Jabaquara
• Água Branca- Guaianases
•
Vila Madalena- Oratório
•
Ferreira-Oriente
•
Capão Redondo- Paraíso |
 |
FIG.06
PMDI
2010 – 1995
7
linhas
• Tucuruvi-Jabaquara • Vila
Madalena- Oratório
•
Barra Funda- Guaianases
•
Ferreira-Tatuapé
•
Capão Redondo- Guarulhos
•
Faria Lima- Conceição
•
Lapa-Penha |
 |
FIG.07
PITU
2020 – 1999.
7
linhas
Tucuruvi-Jabaquara
• Ceagesp-São Miguel • Barra Funda-Itaquera •
Taboão-Santo
André (ramal para Ferrazópolis)
•
Capão Redondo-Guarulhos • Cidade Universitária-Diadema •
Rio Pequeno-São Mateus |
Através
da análise dos planos e propostas elaborados para a rede de
metrô
de São Paulo, podemos notar que, excetuando-se o plano de 1975,
o PITU 2020 e a proposta de Csaba Deák, todos os outros planos
apresentam
uma maior concentração de linhas nas regiões
central
e sudoeste da cidade, criando apenas nesta área uma verdadeira
rede
metroviária. Enquanto isso, a Zona Leste é mantida
“isolada”
desta rede ao se conectar a ela por meio de uma única linha,
deixando
sua população – predominantemente de baixa renda – sem um
acesso fácil e rápido às outras regiões da
cidade. Tal desenho é extremamente nocivo, pois cria
regiões
mais valorizadas por terem acessibilidade e outras menos valorizadas
justamente
por não terem essa facilidade de locomoção.
Logicamente,
isso só contribui para a segregação entre
ricos
e pobres, separando-os não apenas por um fosso de poder
aquisitivo,
mas também em termos de infraestrutura urbana.
A
principal diferença quanto ao desenho das três propostas
acima
destacadas (1975, PITU 2020 e Csaba Deák) se dá
exatamente
nesse ponto.
O PITU
2020 e a proposta de Csaba Deák pretendem criar uma rede que
atenda
a todas as áreas da RMSP de uma maneira a mais homogênea
possível,
eliminando essa segregação pela
distribuição
desigual da infraestrutura urbana (ao menos no campo dos transportes).
Além disso, com uma presença de mais linhas perimetrais,
favorece-se a integração entre as regiões extremas
do município (como São Mateus e Rio Pequeno) sem
sobrecarregar
ainda mais as linhas que passam pelo Centro (Norte-Sul e Leste-Oeste),
pois criam uma rede com muitas conexões e
intersecções
entre as linhas.
O Plano
da Rede Básica de 1975 também se destaca pela
presença
de duas linhas que atingem a Zona Leste e pela sua
distribuição
bastante democrática de todas as linhas. Assim como as outras
duas
propostas, ele também não se limita apenas à
cidade
de São Paulo, mas busca os outros municípios da RMSP. A
diferença
entre este plano e os outros dois já citados é a
ausência
de mais linhas perimetrais, o que acaba por criar menos pontos de
intersecção
e conseqüentemente mantendo as linhas sobrecarregadas
desnecessariamente.
O Real
Desenvolvimento
do Metrô em São Paulo e seus Projetos Atuais
O Metrô
em São Paulo só começou a ser construído em
1968, quando ainda estava sob o controle da prefeitura de São
Paulo.
A primeira linha a ser construída foi a Norte-Sul, indicada como
prioridade pelo estudo do grupo HMD, pois este eixo apresentava-se
saturado
e não possuía alternativas de transporte
ferroviário.
Sua construção durou de 1968 até 1975, quando foi
inaugurada toda a extensão de 16,7 km da linha, entre Santana e
Jabaquara. Com sua inauguração, o tráfego neste
eixo
sofreu uma melhora significativa e as áreas próximas
à
linha passaram a sofrer um processo de verticalização e
adensamento
em curso até hoje.
Ainda
em 1975 iniciou-se a construção da linha Leste-Oeste,
visando
garantir um acesso mais rápido e eficiente ao centro para a
população
carente moradora da região leste de São Paulo. A
implantação
da linha ao longo do leito já existente das linhas de trem
também
visava economizar custos e incentivar o adensamento desta
região,
que se expandia rapidamente, porém com uma
população
muito rarefeita. O processo de construção dessa linha foi
extremamente longo, principalmente se considerarmos que boa parte de
sua
extensão se dá em elevado, de execução
muito
mais simples e barata do que uma linha subterrânea. Em
razão
de inúmeros problemas com desapropriações e
também
em função da crise econômica vivida na
época,
apenas em 1988 a linha Leste-Oeste foi inteiramente concluída,
indo
da Barra Funda até Corinthians-Itaquera, com 22,2 km de
extensão.
Em função da demora na implantação desta
linha
ela já surgiu saturada, necessitando desde sua
criação
de mais linhas que dividissem a demanda atendida por ela. Em termos de
ocupação, apenas em meados da década de 90
começou
a se intensificar o processo de verticalização nas
regiões
próximas às estações, principalmente entre
as estações Carrão e Tatuapé. Entretanto,
em
outras áreas, como no Brás, não ocorreram grandes
melhorias desde a inauguração da linha do Metrô, o
que leva à conclusão de que apenas o a presença de
uma linha de metrô não é suficiente para alavancar
o desenvolvimento de uma região.
Em
1980, já sob o controle do governo estadual desde 1978,
realizou-se
um estudo para se decidir qual seria a terceira linha do Metrô a
ser construída. Através deste estudo, concluiu-se que a
linha
Vila Madalena-Oratório tinha prioridade, principalmente no
trecho
operacional da Paulista, entre as estações
Clínicas
e Paraíso. A partir de 1987 começaram as obras na
região
da Paulista, que foram concluídas em 1992, totalizando apenas
4,7
km, entre as estações Clínicas e Ana Rosa. Com a
conclusão
deste trecho, a quantidade de ônibus que passavam pela Av.
Paulista
diminuiu drasticamente, melhorando o tráfego em toda a
região.
Outra conseqüência da criação deste trecho de
linha foi o aumento da demanda no trecho Paraíso-Sé da
linha
Norte-Sul, que passou a ser o principal tronco de ligação
entre as três linhas do Metrô.
 |
FIG.08
Rede
Metropolitana de Transportes – 2001: Situação atual da
rede
do Metrô em São Paulo. |
Após
esse período de desenvolvimento constante, a rede de metrô
sofreu uma estagnação de cerca de quatro anos.
Curiosamente,
este período corresponde aproximadamente ao governo de Fleury
Filho,
sucessor e “cria” de Orestes Quércia, que praticamente paralisou
todas as obras do Metrô. Tal paralisia não chega a
surpreender
quando se analisa que o ritmo de crescimento da rede do metrô de
São Paulo vinha diminuindo desde sua criação. A
linha
Norte-Sul foi construída num ritmo de 2,4 km/ano; a linha
Leste-Oeste
cresceu a uma taxa de 1,7 km/ano; enquanto no trecho
Consolação-Paraíso
esta taxa foi de apenas 0,94 km/ano. Apesar da visível
diminuição
da taxa de crescimento, o ritmo lentíssimo adotado durante esse
período se justificaria apenas se houvesse um total descaso com
o problema do transporte coletivo na RMSP, o que ao que tudo indica foi
o caso durante o governo Fleury.
A rede
do Metrô só reiniciou seu lento crescimento por volta de
1995,
quando foram retomadas as obras de extensão das linha Norte-Sul
(3,5 km) e do trecho Clínicas-Vila Madalena (2,3 km). Os dois
trechos
foram concluídos em 1998, ao ritmo de cerca de 1,8 km/ano. A
inclusão
destes trechos não influi muito na dinâmica da
metrópole,
pois apenas prolongavam trechos que já estavam sendo atendidos
pelo
Metrô. O máximo que ocorreu foi uma razoável
melhora
no trânsito de veículos próximo às novas
estações,
devido à diminuição do número de
ônibus
em circulação.
No
final da década de 90, o Metrô e a CPTM,
responsável
pelo controle das linhas de trem que atravessam a RMSP, passam a atuar
de maneira conjunta. Logo surgiu a perspectiva de
integração
entre o Metrô e as linhas de trem, que seriam modernizadas para
trabalharem
como linhas de metrô. Tal solução praticamente
dobraria
em poucos anos o tamanho das linhas de metrô dos parcos 49,4 km
para
cerca de 90 km. Porém, como as duas linhas de trem inicialmente
em conversão ou não estão interligadas diretamente
ao Metrô (linha Osasco-Jurubatuba), ou correm em paralelo com
este
(linha Brás-Estudantes), a contribuição na melhora
da circulação dentro da metrópole obtida com essa
medida é bastante questionável.
Recentemente,
foi inaugurado um trecho da Linha 5 – Lilás, ligando
Capão
Redondo ao Largo 13. Este trecho foi iniciado em 1998 e possui 8,4 km,
o que dá uma admirável taxa de crescimento de 2,1 km/ano.
Admirável, pois ao menos agora parece haver uma tendência
de aceleração no ritmo de crescimento da rede do
Metrô.
Mas tendo em vista que nesse ritmo haveria ainda uma demora de mais
seis
anos só para a conclusão dessa linha, conclui-se que
ainda
é pouco para desenvolver rapidamente uma rede de metrô
compatível
com o tamanho da Região Metropolitana de São Paulo.
A
intenção da construção da Linha 5 é
de interligar através de um sistema de transporte de alta
capacidade
os dois lados da cidade divididos pelo rio Pinheiros, a leste uma
região
desenvolvida e com uma boa taxa de empregos (Santo Amaro) e a oeste uma
região com uma população de baixa renda, com 50%
das
famílias vivendo com menos de 8 salários mínimos.
O que chama a atenção é o fato desta linha
não
ter conexão alguma com a rede de Metrô existente, exceto
pela
interligação com a futura Linha 7 (trem
Osasco-Jurubatuba)
e uma posterior baldeação através de
lotação
para a estação Vila Madalena. Isso cria praticamente duas
redes de Metrô: uma com as três linhas já existentes
e uma nova composta pelo novo trecho da Linha 5 e pela futura Linha 7.
Logo, o impacto deste trecho na dinâmica metropolitana
será
bastante restrito até o momento que estas duas “redes” estiverem
interligadas. Por ora, apenas o tráfego e a
população
local serão favorecidos pela implantação deste
trecho
de linha.
Além
da Linha 5, que chegará até as estações
Santa
Cruz da Linha 1 (Norte-Sul) e Chácara Klabin da Linha 2 (Vila
Madelena-Sacomã,
quando esta também estiver concluída), está em
fase
de possível início de obras a Linha 4, que ligará
a Vila Sônia até a Luz, interligando durante seu trajeto
todas
as outras linhas do Metrô existentes: futura Linha 7, Linha 2,
Linha
3 (Leste-Oeste) e Linha 1. Levando em conta apenas este fato, pode-se
questionar
qual seria a linha mais prioritária: a 5 ou a 4.
Apesar
de obviamente a Linha 4 passar pela região sudoeste, já
bem
estruturada e muito bem servida (se comparada ao resto da
metrópole)
em termos de transporte coletivo, o próximo trecho da Linha 5
também
fará percurso semelhante. Porém, enquanto a Linha 5
chegará
até a Linha 1 e – grosso-modo – contribuirá numa maior
saturação
desta linha já saturada, a Linha 4 irá interligar todas
as
linhas do Metrô, inclusive a Linha 5, através da futura
Linha
7. Se levarmos em conta apenas este fator, fica claro que a Linha 4
possui
uma maior importância na formação de um verdadeira
Rede de Metrô, criando mais intersecções entre as
linhas
e distribuindo melhor o fluxo de passageiros.
Além
dessas duas linhas já em estado relativamente avançado de
implantação, é fundamental a criação
de pelo menos mais uma linha que sirva a região leste da cidade
de São Paulo. Uma alternativa viável é a
extensão
da Linha 2, que atualmente irá até o Sacomã, para
até São Miguel Paulista, como propõe o PITU 2020.
Desta maneira, a demanda de viagens seria dividida entre as Linhas 2 e
3, e um grande centro gerador de empregos, a região da Paulista,
estaria ligado diretamente à Zona Leste. Outra vantagem é
o fato da linha se estender no sentido norte-sul dentro da
própria
região, criando um eixo de transporte até agora
inexistente
e articulando melhor o transporte coletivo dentro da Zona Leste,
atenuando
as conseqüências do sistema “espinha de peixe” existente,
que
satura todo o sistema viário próximo à Linha 3 do
Metrô. A extensão da linha 2 segundo as diretrizes do PITU
2020 ainda interligaria São Caetano do Sul a São Miguel
Paulista
e as duas linhas de trem existentes nesses locais.
Considerando-se
o desenvolvimento da rede de Metrô de São Paulo, logo
podemos
notar que ela sempre se deu maneira muito lenta, num ritmo de cerca de
1,7 km/ano, já considerando o novo trecho da Linha 5. Se este
ritmo
não se alterar, a meta de 284 km de linhas de metrô
proposta
pelo PITU 2020 só será alcançada daqui a absurdos
133 anos. Para que esta extensão seja obtida no prazo
determinado,
ou seja, em 18 anos, a taxa de crescimento precisa saltar para 12,5
km/ano,
o que significa aproximadamente uma nova linha a cada dois ou
três
anos, implicando também em investimentos da ordem de R$ 1,2
bilhões
ao ano, se o dólar não subir muito. Não chega a
ser
uma tarefa impossível, bastaria por exemplo acabar com o
superfaturamento
na construção de obras viárias, como a Av.
Água
Espraiada que custou sozinha R$ 621,9 milhões, o km de asfalto
mais
caro da história. Com esse dinheiro seria possível
garantir
aproximadamente 6 km de linhas, ou metade da Linha 4 atualmente
proposta.
 |
FIG.09
Linha
4 do Metrô. 12 estações
•
Pátio Vila Sônia
•
Morumbi
•
Três Poderes
•
Butantã
•
Pinheiros
•
Faria Lima
•
Fradique Coutinho
•
Oscar Freire
•
Paulista
•
Higienópolis
•
República
• Luz |
|
 |
FIG.10
Linha
5 do Metrô.
16
estações
•
Capão Redondo
•
Campo Limpo
•
Vila das Belezas
•
Giovanni Gronchi,
•
Santo Amaro
•
Largo 13
•
Paulo Eiró
•
Granja Julieta
•
Borba Gato
•
Brooklin
•
Campo Belo
•
Ibirapuera
•
Moema
•
Servidor
•
Vila Clementino
•
Santa Cruz |
Conclusões
De
uma maneira geral, a configuração da Rede Básica
de
Metrô em São Paulo sempre seguiu algumas linhas comuns em
todas as suas versões. A preferência por um sistema
radio-concêntrico
sempre favoreceu de certa maneira a região central da cidade,
além
do fato de mais “raios” partirem para um lado (sudoeste) do que para
outro
(leste) também confirmar essa idéia. O desenho da maioria
dos planos praticamente repete o que já se via no sistema
viário
metropolitano: uma malha adensada nas regiões central e sudoeste
da cidade e algumas vias aqui e ali nas demais regiões.
Com
a proposta de Csaba Deák, deu-se um primeiro passo em
direção
a uma solução deste problema, que veio se firmar quase 10
anos depois através do PITU 2020. É uma das primeiras
oportunidades
em que o sistema de transportes coletivos é pensado como um todo
que visa abranger toda a RMSP e não apenas parte dela,
através
de uma rede de linhas radiais e perimetrais, que promovem um maior
número
de intersecções entre elas e mais possibilidades de
locomoção
sem uma saturação desnecessária das linhas. O
Metrô
desde sua criação se propôs a trabalhar de maneira
integrada com as outra modalidades de transporte coletivo,
principalmente
o ônibus, mas sempre ficava delegado a este a tarefa de
alcançar
as regiões mais extremas da metrópole. Com as propostas
do
PITU 2020, os ônibus servirão mais como
interligação
entre as linhas do metrô, sendo que estas também
chegarão
aos extremos da RMSP.
A Rede
de Metrô de São Paulo se encontra muito atrasada com
relação
ao que a RMSP realmente necessita. De fato, até hoje o
Metrô
não possui nem os 66 km de linhas da primeira proposta feita
pelo
consórcio HMD em 1968. E enquanto o Metrô não se
impuser
como o eixo estruturador do transporte urbano, em
oposição
ao transporte viário particular, o predomínio do carro
como
meio de transporte permanecerá prejudicando o crescimento da
metrópole,
com congestionamentos cada vez maiores até a completa
saturação
do sistema. Nesse sentido, todas as instâncias de governo
deveriam
investir na implantação do Metrô na RMSP,
não
apenas os governos estadual e federal. Com a participação
de investimentos dos governos municipais em transporte de alta
capacidade
e não mais em complexos viários e túneis, o
desenvolvimento
de uma rede metropolitana realmente abrangente tornar-se-ia mais
fácil,
ainda que a maior parte dos investimentos tenham que continuar vindo do
Estado e da União.
É
necessário um investimento maciço e constante na
ampliação
da rede do Metrô até que este atinja as dimensões
compatíveis
com as necessidades da metrópole, pois, via de regra, sempre que
os recursos foram escassos, as regiões atendidas foram as
já
privilegiadas e as que deixaram de ser beneficiadas foram as mais
pobres.
Exemplo disso foram as paralisações da
construção
Linha 2 no seu trecho leste até o Sacomã e a
extensão
da Linha 3 até Guaianases.
Como
podemos concluir, o desenho e o desenvolvimento da rede de Metrô
em São Paulo, se não sofreu influência direta,
sempre
pendeu ora mais ora menos para um favorecimento das camadas mais
abastadas
da sociedade em detrimento dos estratos mais pobres desta. Tal fato
não
se dá de maneira tão gritante quanto o que se vê no
sistema viário de São Paulo, onde elevados são
construídos
para ligar a casa de fulano à sua empresa ou milhões
são
gastos em uma avenida que ainda liga o nada a coisa nenhuma. Talvez
isso
só não aconteceu ainda com o Metrô em razão
das pequenas dimensões da rede existente, mas tal
afirmação
é muito discutível. Fato é que através do
PITU
2020, podemos evitar que se repita no Metrô o que ainda acontece
com a infraestrutura viária.
Bibliografia
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DO METROPOLITANO DE SÃO PAULO. Evolução da Rede
Básica
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