.AUP 272
. Trabalhos de alunos

 

AUP-272 Organização urbana e planejamento                                       2° semestre de 2005
Professores: Csaba DeákMaria Lúcia Martins | Nuno Fonseca  Pedro Taddei João Whitaker

Monografia individual apresentada  à disciplina de AUP 272                                                  Novembro 2005

Tratamento de esgoto e o Projeto Tietê

Juliana Mitie Hobo

Novembro de 2005

A importância da água é conhecida por todos, com o tempo a idéia de que este é um bem esgotável passou a se espalhar pelo mundo, assim novos meios para a preservação desse bem passaram a ser desenvolvidos.

            Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) quase 80% das doenças dos países em desenvolvimento são provenientes de água contaminada. Outro dado é que a cada dólar gasto em saneamento (esgoto coletado e tratado, água tratada) são economizados de 4 a 5 dólares nos dez anos seguintes em saúde pública.

            No Brasil, segundo dados do IBGE, cerca de 47,8% dos municípios brasileiros não tem serviço de esgotamento sanitário, dessa forma o país convive com doenças do séc.XIX como febre amarela e a dengue. Em alguns estados e regiões onde o esgoto corre a céu aberto, a diarréia infesta 99% das crianças chegando até a ocasionar morte, também é constatado que no país 70% dos leitos hospitalares são ocupados por pessoas que adquiriram doenças a partir do contato com água poluída.

            Os tipos mais comuns de esgoto são o doméstico, o pluvial e o industrial, a água potável utilizada por uma pessoa para diversos fins é considerada esgoto doméstico, o esgoto pluvial é aquele das águas da chuva que passam por superfícies sujas, ruas, telhados, jardins, entre outros, o esgoto industrial é aquele utilizado nos processos de produção industrial. Todos eles são compostos por diferentes substâncias, matérias e organismos, que podem causar doenças e contaminação de solo e mananciais.          

Dessa forma o tratamento de esgoto tem uma grande importância na cidade. No caso da grande São Paulo, existem cinco estações de tratamento, a de ABC, Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano. Estas têm diferentes capacidades, porém praticamente utilizam o mesmo método de tratamento de esgoto, este é feito através de 15 diferentes processos, que serão explicados posteriormente.

 


 

            Os processos são separados em fases, uma líquida e outra sólida. Inicialmente passam pela estação elevatória na qual o esgoto é bombeado para as unidades seguintes, nesta encontram-se duas grades grosseiras que tem como finalidade reter os materiais maiores vindos dos interceptores, depois o esgoto vai para a unidade de gradeamento, que é feito com duas grades de barras paralelas onde um rastelo se movimenta, sendo retido assim os materiais flutuantes que posteriormente são dispostos em aterros sanitários. É feito então o peneiramento onde ficam retidos os materiais mais finos, nesse processo, para prevenção de problemas com odores, as peneiras têm encapsulamento de chapas de aço inoxidável que permite a sucção e o tratamento dos gases gerados em seu interior, o material retido a cada conjunto de duas peneiradas é conduzido a um sistema de prensagem para a redução de volume e umidade do material a transportar, para a disposição final em aterros.

            O próximo processo é o de desarenação, que consiste em caixas de areia aeradas que remove a areia por um conjunto de monovia ou trolley, este processo evita a abrasão dos equipamentos situados à jusante. Depois o material vai para os tanques de aeração nos quais são utilizados organismos vivos, que por reações anóxica ou aerada fazem com que o lodo se sedimente mais facilmente, porém estas podem causar certos problemas se desenvolvidas demais. Passa-se então para a decantação secundária, estes são compostos por decantadores associados a uma elevatória de recirculação de lodo e uma elevatória de excesso de lodo e escuma. A repartição de vazão entre os decantadores é feita por caixa de distribuição de vazões, o efluente decantado é coletado em um canal de concreto, de onde é conduzido ao rio Tietê. O lodo depositado no fundo das unidades é reunido em um poço central de coleta e extraído por uma tubulação de saída, em direção à elevatória de recirculação. 

            A partir desse ponto tem-se a fase sólida. Assim o excesso de lodo e a escuma dos decantadores secundários são encaminhados para a unidade de espessamento de lodo por flotação, este então antes de ser desidratado é passa por um processo de desidratação química com cal e cloreto férrico, esse procedimento tem como objetivo eliminar os microorganismos patogênicos e prevenir odores. Depois este é desidratado mecanicamente até que tenha uma concentração de aproximadamente 30%, após a desidratação este é levado para uma central de secagem térmica.

            A estação de tratamento não se resume a esses processos, há um sistema de controle de odores, o tratamento do esgoto elimina uma séria de gases dessa forma aqueles que entram em contato com o líquido são tratados, para que possam ser liberados novamente na atmosfera.

            Uma parte desse efluente final não é devolvida ao rio, este recebe mais alguns tratamentos que permitem que a água seja reaproveitada para manutenção da estação entre outros.

  < style="color: rgb(51, 51, 51);">

 

 Toda essa estrutura necessita de investimentos pesados, atualmente esses serviços vêm crescendo atendendo assim uma maior parte da população.

 

            Foi a partir de investimentos pesados que projetos como o do Tietê puderam ser desenvolvidos. Este teve sua concepção em 1992 com um movimento popular que arrecadou mais de 1 milhão de assinaturas e que contou com um forte apoio dos meios de comunicação fazendo com que o governo de São Paulo criasse um programa para a limpeza do rio.

            O projeto foi dividido em três partes e tinha objetivos ambiciosos, além da atuação direta nas áreas de saneamento básico previa o controle da poluição industrial e dos resíduos sólidos, a abertura e urbanização dos fundos de vale e um forte incremento em educação ambiental. Esse projeto quis estender o serviço de coleta de esgotos a mais de 250mil famílias sendo atendidas 83% da população urbana dos municípios tratados pela Sabesp, o que afastaria o contato com águas contaminadas, melhorando a saúde da população.

            No entanto até 1994 os avanços não foram muito sentidos pela população o que descredibilizou o projeto. No entanto em 1995 o governo de São Paulo juntamente com a Sabesp redirecionou o projeto e conseguiu novos investimentos que permitiram uma maior abrangência do mesmo pela RMSP, levando o serviço de coleta para mais de 1.5 milhões de pessoas e o aumento de 9.5m³ por segundo na capacidade de tratamento de esgotos da região.

            Os resultados desses investimentos podem ser vistos por números, na primeira fase do projeto, que atualmente já está concluída, foram entregues três novas estações de tratamento de esgoto: São Miguel, ABC e Parque Novo Mundo, além da ampliação da estação de Barueri. Também foram construídos 1.5 mil km de redes coletoras, 315 km de coletores troncos, 37 km de interceptadores e mais de 250 mil ligações domiciliares. Assim os índices de coleta de esgoto passaram de 70% para 80% e os índices de tratamento de esgoto aumentou de 24% para 62%.

            Além disso, houve um acordo com mais de 1200 indústrias, que corresponde a 90% da carga poluidora industrial lançada no rio, que aderiram ao projeto e deixaram de lançar resíduos e toda a espécie de contaminantes no curso d’água.

            Com todas essas medidas a mancha de poluição das águas do rio Tietê no interior do estado recuou mais de 50 quilômetros, e a construção do emissário Pinheiros, concluída no início de 2000, que beneficia mais de 2 milhões de pessoas, uma vez que 84 toneladas de esgoto deixam de ser jogadas no rio Pinheiros e são encaminhadas para a estação de tratamento de Barueri diariamente. 

            Na segunda parte do Projeto não são previstas grandes obras como na primeira, estas tem como objetivo expandir e otimizar os sistemas já construídos aumentando assim a coleta e o tratamento de esgoto, impedir o extravazamento e lançamentos indevidos de esgoto, diminuir os índices de mortalidade infantil melhorando o nível de qualidade de vida, montar um programa de educação ambiental ( Sabesp, Cetesb e ONG’s), monitorar a qualidade do rio Tietê e dos afluentes das ETE’s, controlar a contaminação ambiental e de efluentes de indústrias.          

            Dessa forma serão atingidas 90% da população da RMSP, e a percentagem de tratamento de esgoto passará para 70%. Serão feitos novos 960 km de redes coletoras, 290 mil coletores domiciliares e 141 km de coletores troncos.

            A segunda fase do projeto que já esta para ser completada, contém um programa de combate às inundações, este é uma das maiores obras de drenagem urbana do Brasil, consiste no rebaixamento da calha em 2.5m, no alargamento das margens de 26 a 45 metros, o que dará ao rio o dobro da vazão no trecho que vai do Cebolão até a barragem da Penha, as margens também serão revestidas em concreto para reduzir o assoreamento  e as faixas entre o leito e a Marginal Tietê serão tratadas paisagisticamente.

            Essas obras se concentrarão na região sul ao longo do rio Pinheiros, no total são 26,  estas visam melhorar a qualidade de água nas represas Billings e Guarapiranga nas quais já é encontrada certa contaminação, e esta contaminação estava afetando o abastecimento de água e produção de energia elétrica no litoral paulista.

            Além disso, todos os desemboques da água ao longo de 24,5 km estão sendo refeitos, algumas obras em andamento são o coletor tronco Aricanduva, que beneficiará bairros como Cidade Líder, Aricanduva, Parque do Carmo e São Mateus, O coletor tronco Franquinho, que passa pelas ruas José Giordano e Durande além de bairros como Arthur Alvim, que serão encaminhados para estação de tratamento Parque Novo Mundo, além dos coletores Bussocaba, na região de bairros como Osasco, Presidente Altino, Jardim Agu, Vila Campesina, Cidade de Deus, Jardim Umuarama, Jardim Éster, Jardim Nova América e Bussocaba City e o coletor tronco de Ribeirão Vermelho.

            O projeto também prevê a construção da primeira eclusa paulistana, que permitira a navegação em um trecho de 40km, da barragem da Penha à barragem Edgard de Souza, em Santana do Parnaíba, esta obra terá como finalidade a eliminação do transporte da terra retirada do rio por caminhões na Marginal Tietê, sendo este feito por barcaças.

            Com o andamento das obras, que estão até agora concordando com seu planejamento, é previsto que a mancha da poluição que se segue da RMSP, recue cerca de 40km, e que o rio esteja limpo em aproximadamente vinte anos, levando em consideração que este é um processo lento sem resultados imediatos, comparando com o rio Tâmisa na Inglaterra que demorou cerca de 100 anos para se obter resultados perceptíveis.       

            A quantidade de dinheiro gasto foi de aproximadamente 1,1 bilhão de dólares na primeira fase e na segunda estão sendo investidos 4000 milhões de dólares.

  < style="color: rgb(51, 51, 51);">


 

Conclusão

            Com esse trabalho pode ser entendido uma série de sistemas que atuam na cidade hoje em dia, principalmente no que diz respeito ao tratamento de esgoto e grandes projetos como o do rio Tietê.

            O tratamento de esgoto é uma parte muito importante para o desenvolvimento da cidade, uma vez que segundo dados da OMS, cerca de 80% das doenças em países em desenvolvimento são causadas por contato com água contaminada. O processo de limpeza e tratamento de esgoto é muito complexo necessitando de investimentos pesados, existem tubulações coletoras com tamanhos similares de túneis rodoviários, ou seja, são obras de grande escala.

            E no meio dessa conscientização para limpeza do rio e importância do tratamento de esgoto foi criado um projeto plausível com um bom embasamento, que permitiu diversos investimentos nas quais as fases iniciais já foram completadas.

            É válido lembrar que dos 39 municípios que formam a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), 34 estão localizados na Bacia do Alto Tietê, e que no final dos anos 90 somente 24% do esgoto era tratado, havendo assim grandes problemas de contaminação, não unicamente dos córregos que cortavam a cidade, mas também dos reservatórios de água, a partir de um estudo foi concluído que existem certas substâncias sedimentadas no fundo da Represa Billings que são altamente tóxicas, como metais pesados entre outros, dessa forma uma limpeza do lago está fora de cogitação, uma vez que no processo pode ser contaminado todo o reservatório.

            O programa de limpeza do rio além de ações no campo de saneamento básico e controle da poluição industrial conta com diferentes frentes, como o projeto de despoluição das cabeceiras do Tietê, apoiado por outras iniciativas como o controle da utilização dos recursos hídricos, este consiste em ampliação da limpeza e desassoreamento dos principais rios a cargo do DAEE, retificação, canalização e urbanização dos córregos da bacia do Alto Tietê, além do controle dos resíduos sólidos, que contém a ampliação de coleta, transporte, tratamento e disposição final, a cargo das prefeituras municipais. Há ainda a participação de ONG’s na educação ambiental.

            Dessa forma A partir de uma iniciativa da população foi criado um programa plausível e com embasamento, que conseguiu financiamentos para ser retirado do papel. Uma vez que este não envolve simplesmente o esgoto, como também o abastecimento de água, a prevenção e combate a inundações tão freqüentes em diferentes pontos da cidade, como a córrego Aricanduva, e o transporte, pois uma vez que se tem uma malha de infraestrutura este é melhor pensado e atuante dentro da cidade.

            Toda essa preocupação, sendo esta uma observação pessoal, mostra que as obras na cidade de São Paulo não são somente destinadas ao rodoviário. Dessa forma este trabalho tenta mostrar e explicar uma série de obras que acompanham o dia a dia da população, mostrando sua finalidade e propósitos, assim como mostrar uma preocupação com a saúde, crescimento da cidade e onde são gastos a maioria desses investimentos externos.


Bibliografia

_ZUCCOLO, R. M. (2000). Algo no Tietê hoje, leito várzea afluentes. Nova Bandeira. São Paulo.
_www.rededeaguas.org.br
_www.sabesp.com.br
_www.saopaulo.sp.gov.br
_www.maxpressenet.com.br
_www.fortalsampa.hpg.ig.com.br

.AUP 272
. Trabalhos de alunos