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AUP-272 Organização urbana e planejamento                                       2° semestre de 2005
Csaba Deák | Nuno Fonseca | Maria Lúcia Martins | Pedro Taddei | João Whitaker

Monografia individual apresentada à disciplina de AUP 272                                                   Dezembro 2005/ Abril 06

Organização de classes em São Paulo
Rodrigo Pereira Carvalho

Preâmbulo
A expectativa
A chegada
Começar a compreender a cidade
Conclusão



Preâmbulo estratégico

Este trabalho procura aproveitar a minha qualidade de estrangeiro em São Paulo para mostrar um outro ponto de vista sobre a cidade. Ele vai-se debruçar sobre a questão de distribuição da população pelas várias zonas da cidade incidindo mais metodicamente sobre a área do centro, a zona sul e, em representação da periferia as áreas adjacentes à radial leste, porque que são os exemplos mais paradigmáticos e mais adequados para o meu estudo.

Penso que poderá ser um trabalho interessante na medida em que poderá constituir uma análise isenta e expor um ponto de vista menos formatado.

Análise isenta no sentido em que não estou a observar as questões tendo à priori um ponto de vista definido, quer seja ele de cidadão da elite ou cidadão das classes mais pobres. No fundo nunca fui julgado, prejudicado ou beneficiado pelo sistema de sociedade brasileiro.

O meu ponto de vista não é formatado no sentido em que ainda não teve muito tempo para ser moldado de acordo com uma ou outra opinião.

Digamos que o meu exercício será escrever quase sobre uma tábua rasa, jogando com as informações que fui obtendo através das aulas, através de discussões, leituras e o mais importante e interessante de todas: a minha experiência própria na cidade e a forma inocente como ainda a posso conseguir ver.

Será uma reflexão dividida em três partes:

À primeira chamei expectativa e corresponde ao período antes de viajar para São Paulo em que eu imaginava e procurava investigar como seria.

A outra parte corresponde à chegada, que é uma altura muito interessante porque me deparo com uma realidade completamente diferente da realidade de onde vinha.

Por último, e a mais extensa, será o capítulo começar a compreender a cidade. É aqui que eu desenvolvo a minha análise crítica e sobre o tema abordado e exponho o meu ponto de vista.

Verificamos então que a cada parte corresponde um tempo da minha visita e, consequentemente, a um estado de conhecimento da cidade. Será um exercício de memória, sobre o que senti e aconteceu no início, análise do presente e de pensar o futuro.

 

A expectativa

 

Esta corresponde a uma fase em que eu comecei a tentar conhecer São Paulo. Investiguei em livros e guias, li artigos em jornais, relembrei o filme Carandiru, falei com amigos que estavam cá a fazer também um programa de estudos.

No início eu sabia pouco sobre São Paulo. Sabia que era o centro económico do Brasil, sabia que era o World Trade Center da América Latina. Um lugar onde existiam grandes discrepâncias a nível social. Contavam-me que era uma cidade perigosa em que raptavam pessoas só para as poderem assaltar, o que é uma coisa muito exótica (no mau sentido) aos ouvidos dos europeus. Em relação à cultura das pessoas e forma das coisas, quer a construção das casas ou mesmo a forma dos carros e ônibus eu imaginava uma mistura entre a Cidade do México e a Bahia que são os lugares da América Latina que eu conhecia.

 

São Paulo fez um mau trabalho de marketing em relação à sua auto promoção em Portugal. Na realidade não existe uma ideia isolada sobre São Paulo. Para os portugueses é impossível dissociar São Paulo do Brasil. E para esses portugueses Brasil significa férias. Mas pior que isso, são as poucas pessoas que conseguem distinguir São Paulo do resto do país, e que, normalmente, a associam uma cidade de trabalho, gigante, perigosa e desorganizada.

Pessoalmente imaginava São Paulo de uma forma um pouco diferente, não muito, mas somava a esta descrição algumas qualidades que tornavam o saldo bem positivo. É uma cidade repleta de cultura e acontecimentos artísticos, uma cidade em que nada pára e tudo, em todos os aspectos, se transforma de dia para dia. Em termos de Urbanismo, que era a disciplina central que eu me propunha a estudar, representava um excelente caso de estudo. Em tudo diferente dos europeus e em todos os aspectos mais agreste. Digamos que os problemas aqui e na Europa são os mesmos, mas cá desenvolveram-se de tal forma, que se embrulharam num grande nó que agora se tornou muito difícil de desatar. Isto torna o seu estudo um exercício mais preocupante, mas ao mesmo tempo, mais enriquecedor e compensador a nível de aprendizagem.

O ponto de vista dos meus pais era um pouco mais preocupado. Este é um ponto de vista que me interessa porque é representativo de um grupo. Eles correspondem ao grupo que pensa São Paulo como uma cidade de trabalho, gigante, perigosa e desorganizada. Para eles São Paulo era o que viram no filme Carandirú e em algumas reportagens sobre casas fortaleza no Bairro do Morumbi, ou São Paulo cidade de raptos relâmpago, somados às conversas com alguns amigos que visitam frequentemente a cidade em trabalho e que lhes contavam as histórias mais dramáticas (porque são as que sempre correm todas as bocas) entre outras coisas boas ou muito boas que passavam despercebidas ao lado de tantos assassinatos e sequestros. Para os meus pais São Paulo estava coberta por um céu cinzento de poluição que encobria toda a criminalidade corrupção existente lá em baixo no solo, e que só podia ser libertado quem tivesse possibilidades para sobrevoar todos estes problemas de helicóptero e aterrar na Av. Paulista.

 

A chegada

Chegar a São Paulo pela manhã … ultrapassar as nuvens e encarar um território quase infinito, preenchido por todo tipo de construções: altas, baixas, largas, com piscina, com piscinas, com heliportos na cobertura; ou por outro lado, extensões de cidade irregular e descontrolada com todas as cores a desenharem os telhados e as paredes, permeadas por estradas de terra repletas de coisas e coisas ainda mais coloridas. É uma sensação de grandiosidade que nos deixa intimidados. Na Europa, qualquer que seja a cidade que estejamos a sobrevoar, Porto, Madrid, Berlim ou Londres, dez minutos depois de levantar voo já estamos a sobrevoar campos ou paisagens vazias.

Quando se vê as coisas de cima elas parecem sempre mais claras e organizadas, no entanto, quando se sobrevoa São Paulo já se desconfia que lá em baixo algo pouco metódico se passa!

Depois de vencer a luta pela minha bagagem e ultrapassar o tumulto do aeroporto entrei num táxi. Era sábado de manhã e o que para mim era um contundente tráfego de automóveis, para o taxista era um dia sem trânsito! Atravessámos a cidade, e enquanto fazíamos o nosso percurso o motorista ia fazendo o seu papel contando-me as mais recentes actualidades da cidade entre os quais os seguintes comentários: “Aqui, debaixo deste viaduto, moram vinte famílias há mais de quinze anos.”, “Este prédio sofreu um incêndio e hoje é habitado sem qualquer tipo de condições!” e, enquanto passávamos por baixo do centro, disse uma frase que se revelou traumática para mim: “Ao centro nunca vim, dirijo táxi há vinte anos nesta cidade e nunca trouxe ninguém ao centro!” esta afirmação resultou em que a minha primeira ida ao centro tivesse sido tipo expedição de safari! Vesti a minha pior roupa, nem pensar em levar documentos, quatro reais no bolso para o ônibus e montei várias estratégias de fuga para o caso de ser raptado.

Acho que o meu primeiro passeio pelo centro foi o ponto de viragem na minha forma de encarar a cidade.

 

Começar a compreender a cidade


O poema “Sampa” é, na minha opinião, uma óptima representação daquilo que é mais comum sentir quando se chega a São Paulo:


Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes

 

E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vende outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.


Obs.:
Quilombo = Refúgio dos escravos negros que fugiam.
Zumbi = líder do maior quilombo que já houve.


Transmite completamente a sensação que se tem quando se chega à cidade e se começa a entender os encantos escondidos na verdadeira realidade de São Paulo. Aqui não dá para esconder a realidade, quando se esconde… ficam os muros ou grades!

No centro nada correspondia ao cenário terrível que me tinham feito pensar. Está certo que havia pobreza, algumas pessoas moribundas e muita confusão. Mas essa confusão também era agitação, agitação de pessoas saudáveis que trabalham no centro ou o utilizam para fazer as suas compras. Não me senti ameaçado nesta zona da cidade. De repente, todos os avisos dos amigos dos meus pais, os alertas das pessoas da cidade com quem contactávamos, ou mesmo os Dangers & Annoyances dos guias turísticos deixaram de ser verdades irrefutáveis. Na verdade o meu passeio pelo centro não foi só por si, responsável pela mudança de opinião. Ele aconteceu ao fim de uma semana de correrias por São Paulo à procura de casa. Enquanto ia percorrendo a cidade os bairros iam-se organizando e as avenidas e ruas foram-se interligando, as coisas começaram a ficar no seu lugar.

Enquanto ia montando mentalmente a estrutura física da cidade outro tipo de coisas também se foi tornando claro e entendi que não há só perigo na cidade. 

Existe em São Paulo e no Brasil em geral, uma marcada estratificação social. Há vários autores que defendem que isto acontece por força da tradição. Eu concordo. Distingo dois acontecimentos como os principais responsáveis pela tendência estratificativa da sociedade brasileira:

O primeiro foi a descoberta do Brasil pelos portugueses que dominaram a população existente à força, obrigando-os desde logo a submeterem-se às suas regras e a assimilarem a sua cultura. Tendo quase sempre aproveitado os nativos para mão de obra escrava.

O segundo tem a ver com a importação de escravos do norte de África para fazerem trabalhos forçados e serem tratados de uma forma miserável.

Qualquer um dos momentos foi criador e difusor de uma divisão social bipolar em que os pólos se distanciam demasiado um do outro. E já dizia um ditado português: “De pequenino se torce o pepino” e é verdade que a força da tradição é muito difícil de contrariar. Está aliás um filme, em exibição neste momento, que explica de forma bastante clara esta problemática. Manderlay, de Lars Von Trier, conta a história de uma comunidade de escravos que, depois de abolida a escravização, criou um conjunto de regras que os ajudou a sobreviver. Embora fossem homens e mulheres livres, estas novas regras em nada modificaram a sua forma de viver anterior, porque eles não saberiam viver numa sociedade normal. Há durante o filme uma metáfora que compara este grupo de escravos a um canário de gaiola, que é libertado por uma menina, e morre no parapeito da janela mesmo quando está a sair de casa. No Brasil nos dias de hoje, vários séculos depois de abolida a escravização, a população pobre continua a sofrer a síndrome do canário da gaiola e não consegue libertar-se. Isto acontece porque tem medo de não conseguir sobreviver sem a autoridade directora dos senhores ricos. Por outro lado, a elite prefere não ceder os seus direitos em troca de uma sociedade mais justa.

Estas diferenças são denunciadas de forma clara ao longo dos tempos na arquitectura. Desde a Casa Bandeirista; passando pelos palacetes do final de séc. XIX, com a clara divisão de áreas no interior das casas, social e de serviço; tendo, inclusivamente vencido os ideais de igualdade que eram intrínsecos ao Movimento Moderno no período de 20 a 60, conseguindo criar um Modernismo adaptado à alta sociedade com empregados; até aos dias de hoje, em que um apartamento sem duas entradas distintas quase é significado de má qualidade de construção! E, olhando agora as casas de fora, é relevante expor a qualidade das habitações nos bairros ricos da zona sul em contraponto às construções fracas e insalubres que se encontram nas favelas.

Em termos urbanos São Paulo é um exemplo bem explicito de como as diferentes classes sociais se distribuem na urbe e que consequências isso acarreta.

Para perceber isso é importante recuar um pouco no tempo.

São Paulo nasceu num ponto alto, num planalto no cimo de uma colina. Na parte baixa desse planalto corriam três rios – Tamanduatei, Tietê e Pinheiros – cujas várzeas inundavam frequentemente os terrenos em volta. Entretanto a cidade desenvolveu-se muito lentamente, devido à sua condição de interior, portanto sobreviveu no planalto durante vários séculos. Só no final do séc. XIX inícios do séc. XX, com a crescente economia do café, a construção do caminho de ferro e o aparecimento da indústria, houve a necessidade da cidade se expandir para fora dos limites anteriores. Dirigiu-se primeiro para oeste em busca de melhor salubridade e mais tarde para sul, quando a proximidade ao caminho de ferro passou a ser uma desvantagem. Enquanto isso a população mais pobre alojava-se perto das indústrias, o seu local de trabalho, na zona leste.

Nas últimas décadas do séc. XX a industrialização, que seria o principal veículo de desenvolvimento da cidade, foi também responsável por demarcar ainda mais as diferenças entre classes. Como diz João Whitaker[1] “O capitalismo industrial ao exacerbar a divisão social do trabalho e luta de classes, acentuou a divisão social do espaço: as classes dominantes continuaram a apropriar-se dos sectores urbanos mais valorizados, justamente pela sua localização privilegiada, por sua acessibilidade e infraestrutura disponível, deixando os bairros menos privilegiados para as classes mais baixas.” Esta afirmação pressupõe que já antes da desta altura haveria uma clara distinção zonal dentro da cidade. Coma oferta de trabalho a população emigrante de baixa renda ia aumentando. Foi então criado um conjunto de leis que pretendiam salubrificar a cidade, mas que ao mesmo tempo, e mais uma vez, acabariam por demarcar os lugares dos ricos e dos pobres, já que os últimos não poderiam cumprir as novas regras como está explicado em “Espaço intra-urbano no Brasil” de Flávio Villaça[2]. Se isto já expulsava a população de renda baixa para as áreas piores, quando, em 1950, Kubitchek abriu o mercado ao capital estrangeiro a situação agravou-se. Neste período, com o crescimento exponencial da cidade e o aumento da população emigrante, vinda do interior do país, verificou-se um congestionamento da área central da cidade. Entretanto, a população rica já habitava a área sul, por ser uma zona de encosta e bem ventilada. Isto definiu a tendência e nos anos 60 a maioria dos orgãos de funcionamento da cidade saíram do centro em direcção a outros lugares, em específico para a Avenida Paulista, que nos anos 90 controlava 60% do PIB brasileiro. Por outro lado a mão de obra, que tinha de ser barata para evitar o deslocamento das multinacionais para outro país, vivia com pouco meios de subsistência. Como tal, não podia viver na cidade, foi assim que começou a ocupação de terras na periferia. Note-se, sempre debaixo de olho do poder político que sabia ser a única solução para alojar toda a massa de gente que servia as grandes empresas.

É importante também lembrar que a especulação imobiliária tem uma cota parte de responsabilidade bastante grande neste processo[3]. Os agentes imobiliários são responsáveis por construir prédios de luxo: quer de escritórios, quer residenciais e para valorizar o seu terreno forçam o investimento público nessa área. O resultado disso são áreas da cidade onde coabitam edifícios luxuosos com uma boa rede de infrastruturas e enorme quantidade/qualidade de serviços, em contraste com as áreas que foram esquecidas, ou que nunca foram lembradas, quer pelos agentes imobiliários (que não vêm lá o seu lucro), quer pelo poder político (que age em prol do lucro que o poder imobiliário lhe pode oferecer).

Existem então, em São Paulo áreas que espelham a riqueza da sociedade de elite: são malhas de cidade planeadas, com ruas construídas pelo poder público, muitas vezes arborizadas, com iluminação. Estas regiões são servidas por todo o tipo de serviços (comércio, museus, salas de espectáculo, centros desportivos, espaços verdes e tudo o mais que nos conseguirmos lembrar…), muitas vezes estes serviços são até transferidos para dentro dos lotes – as áreas de lazer –. Na realidade, os grandes condomínios de luxo procuram – e usam isso como argumento para valorização – ser quase auto suficientes. Isto acontece porque eles têm de se isolar da realidade exterior, abrigando-se atrás de enormes muros ou grades coroados com cercas eléctricas. A questão que se põe é: quando todos os edifícios se isolam entre si e da realidade exterior é a rua que fica com carácter de prisão! Apesar da iluminação e da arborização, está rodeada de grades. Se caminharmos por uma destas ruas residenciais de um bairro, como por exemplo o Jardim Paulista, vamos verificar que circulamos num corredor gradeado dos dois lados, que de trezentos em trezentos metros cruza com outro corredor igual e a cada grade que passa, somos encadeados por um foco directo à cara para que os vários seguranças nos consigam identificar.

Em contraponto, na favela vive-se uma realidade diametralmente oposta. Os corredores transformam-se em praças de convívio de forma longitudinal. A população sai para a rua e vive um ambiente diferente, que faz lembrar as aldeias antigas. Na realidade, as favelas são uma sociedade à parte. Têm as suas próprias leis, normalmente a lei do mais forte! Ou do mais poderoso. Tal como nas tribos, a antiguidade é um parâmetro com muita importância e, também como nas tribos, é raro haver traição entre elementos da mesma comunidade. No entanto, o sentimento que mais reina nesta sociedade é o de auto sobrevivência, e isso reflecte-se no pouco cuidado que cada um tem com o espaço do próximo! Desta forma, a área pública, que não é de ninguém em particular, fica sempre desqualificada e por tratar. Portanto o espaço público, quando existe, é degradado. Relativamente aos serviços, a única coisa que poderá haver nestes ambientes são as lojas de comércio de primeira necessidade, uma Igreja e talvez um agrupamento cultural ou desportivo criado pela vontade da população. Porque, regra geral, o poder político despreza a população pobre. Ela não tem dinheiro nem poder e não pode servir as intenções dos políticos.

 
 

Conclusão

 
É exactamente aqui que pára o trabalho, quando penso ter detectado o virus que mina a sociedade.

No fundo o trabalho é sobre a visão de uma pessoa que chega deslocada, que a primeira impressão que tem é que a cidade vive um estado de caos. No entanto, enquanto a vai apreendendo percebe que existe uma lógica, ou várias lógicas, para o comportamento das problemáticas que envolvem São Paulo. Começando a conhecer esses problemas, começa a ser possível sonhar com soluções, mas depois depara-se com obstáculos muito difíceis de ultrapassar. Esses obstáculos nem sempre são consequências de alguma coisa mal planeada, mas são sim, obstáculos planeados para serem obstáculos. É muito difícil combater a vontade política quando ela é comandada pelas pessoas da elite, que já têm todo o poder e não querem arriscar nem um pouquinho para o perder.



[1] Whitaker Ferreira, João. “A cidade para poucos: breve história da propriedade urbana no Brasil”.

[2] Villaça, Flávio. “Espaço intra-urbano no Brasil”, São Paulo.

[3] A especulação imobiliária promove a construção de edifícios para grandes companhias, que depois funcionam como chamariz para outras empresas que se querem localizar ao lado das maiores. Veja-se o caso da Av. Berrini.


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