Criada 05.1.26
O papel dos processos de participação popular na gestão municipal: Estudo do orçamento participativo no Município de Rio Claro
Fabiane
Pizzirani
Faculdade
de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas * Departamento
de Geografia
Orientadora:
Profa Livre Docente
Ana Fani Alessandri Carlos
Apresentação
O
presente artigo se refere ao início de uma pesquisa que
será produto para a elaboração
de uma dissertação de mestrado em Geografia Humana.
São apresentadas aqui algumas
idéias que se pretende desenvolver durante a
realização desta pesquisa; a
descrição do processo de participação
popular, em especial o Orçamento
Participativo de Rio Claro; e também alguns questionamentos e
contestações que
deverão ser elucidados no futuro.
< style="color: rgb(51, 51, 51);"> Introdução
É a partir da chegada ao poder, de
partidos progressistas em algumas prefeituras municipais brasileiras,
que o
chamado à população para participar mais
ativamente das decisões das administrações
municipais, começa a aumentar e se difundir por diversos
municípios de nosso
país.
No
Município de Rio Claro, é a partir de 1997, com uma nova
administração
municipal chegando ao poder, que essas idéias passam a ganhar
forma e a se
tornarem ações efetivas dentro do Município. A
vontade política de trabalhar
conjuntamente com a população nas tomadas de
decisões, referentes à diversas
temáticas, é transparecida na formação e
reestruturação, dos já existentes,
conselhos municipais. Os conselhos municipais existentes e, os que
futuramente
foram criados, são de diferentes naturezas e agregam os mais
variados segmentos
da sociedade em torno de uma temática específica, que
são de interesse social,
econômico e cultural de toda a população.
Em Rio Claro existem atualmente, 21
conselhos municipais, que tratam de uma grande diversidade de temas,
entre eles
citamos: Conselho Agrícola Municipal, Conselho de
Desenvolvimento Urbano, Conselho
Municipal de Aposentados e Idosos, Conselho Municipal de
Assistência Social, Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho
Municipal de
Educação, Conselho Municipal da Pessoa Portadora de
Deficiência, Conselho
Municipal de Saúde, Conselho do Orçamento Participativo,
Conselho Municipal de
Transportes Públicos, Conselho Municipal da Comunidade Negra,
Conselho
Municipal de Segurança, Conselho Municipal de Meio Ambiente, etc.
Os
Conselhos Municipais são compostos por representantes eleitos
pela sociedade e
representantes do governo. Há uma
institucionalização desses conselhos, através
de ordenamento jurídico e um regimento interno que normatiza o funcionamento destes. É
válido lembrar que o regimento
interno é discutido e elaborado pelos membros dos conselhos e
nunca podem ferir
a legislação vigente.
Dentre
os conselhos municipais, o que ganha mais destaque e é o mais
comumente
conhecido, devido a grande proliferação deste tipo de
conselho em inúmeros
municípios brasileiros e, também por trazer uma maior
partilha de poder, já que
tem ligação direta com a distribuição de
verbas municipais, encontramos o
Orçamento Participativo. < style="color: rgb(51,
51, 51);">
O
Orçamento Participativo em Rio Claro
O
Orçamento Participativo de Rio Claro começa a vigorar
efetivamente em 1998. Em
1997, ano que o governo progressista assume o governo municipal, o que
acontece
é uma consulta junto à população, para que
a nova administração tivesse maior
contato com os problemas e necessidades que a população
local enfrentava. A
partir do ano seguinte, passa a vigorar o processo do Orçamento
Participativo
(OP), que difere-se também dos outros conselhos municipais,
devido a
complexidade de sua formação, que será explicitada
a seguir.
No
primeiro ano de OP, a
administração
municipal optou por realizar reuniões em todos os bairros das
cidades,
aconteciam duas reuniões em cada um dos 120 bairros da cidade,
onde seus
moradores podiam opinar e indicar demandas para seus bairros e,
posteriormente
estabelecer as principais prioridades. Essa maneira de
organização do processo
mostrou-se inviável, pois na cidade existiam mais de 120 bairros
e a equipe
técnica era pequena, existia também grande dificuldade de
sistematização das
prioridades, já que a quantidade de demandas solicitadas era
bastante numerosa,
assim como a verba destinada para a realização de
prioridades era insuficiente.
Já no
segundo ano do OP, 1999, a equipe técnica decidiu por dividir a
cidade em 16
regiões, para que houvesse uma melhor organização
do processo e também para que
existisse uma maior socialização dos conhecimentos e
realidades entre os
bairros. A divisão regional foi realizada baseada em
critérios de semelhanças
econômicas e sociais entre os bairros e também em
proximidade entre eles, para
que as regiões tivessem uma continuidade espacial, este fato
trouxe uma
generalização das características em algumas
regiões, o que mostrou-se bastante
positivo, posteriormente, devido ao trabalho realizado conjuntamente
entre
realidades bastante diversas encontradas no Município, trazendo
para os
moradores uma visão mais ampliada e mais realista sobre toda a
comunidade.
A
divisão regional atual do Orçamento Participativo
está representada na
ilustração – Regiões
do Orçamento
Participativo.

< style="color: rgb(51, 51, 51);">
Regiões
1 a 11 e 17 – formada por
bairros, todos incluídos no perímetro urbano do
Município. Cada região contém
aproximadamente 10 bairros.
Regiões
12 a 16 – distritos e bairros rurais pertencentes ao Município
de Rio Claro.
Cada região corresponde a 1 bairro rural ou distrito. Não
existe um agrupamento
devido a distância física entre eles.
Nota-se que na atual divisão,
apresentam-se 17 regiões. A 17ª região, foi criada
em 2002, após a
reivindicação de 2 bairros pertencentes a região 7
e que espacialmente, estavam
muito distantes dos demais bairros e do núcleo urbano, o que
dificultava a
participação dos moradores desses 2 bairros, que
não possuem condições
financeiras para se deslocarem até o lugar da reunião
regional. Foram
realizadas algumas outras alterações nas regiões,
sempre solicitadas por
moradores de bairros, que julgavam necessárias as
alterações nas localizações
de sua região para ampliar a participação da
população.
Funcionamento do Orçamento
Participativo
Organograma do
Funcionamento do Processo do Orçamento Participativo – Rio Claro

O primeiro passo para
organização do OP
é montar o calendário de reuniões para
que se possa fazer a divulgação em todas as
regiões do município. A divulgação
das reuniões é fundamental para a difusão e o bom
funcionamento do processo e,
ela deve ser realizada através de diferentes mídias. Em
Rio Claro, ela é feita
através de outdoors espalhados pela cidade, propaganda em
jornais de circulação
local, emissoras de rádio e televisão local, aviso em
diversos eventos que
reúne pessoas da comunidade em geral e a
distribuição de um folheto específico
do OP, que contêm a divisão regional dos bairros, a data,
local e horário das reuniões
e uma breve explicação sobre o processo. Essa
distribuição é realizada em todas
as residências, alguns dias antes da reunião regional de
cada bairro.
As reuniões regionais acontecem
uma vez
por ano e nelas os moradores dos bairros assistem a uma
apresentação onde, é
explicado como funciona o Orçamento Participativo e
também informações sobre o
funcionamento interno da prefeitura municipal. Após essa
explicação, realizada
por um técnico da Prefeitura, os moradores são divididos,
de acordo com os bairros
que pertencem, e discutem entre si quais são as demandas na
área de obras e
serviços de seu bairro e, também escolhem um
representante e um suplente que
irão representar o bairro na Plenária Geral.
As prioridades elegidas por todos os
bairros são encaminhadas para os técnicos da Prefeitura,
responsáveis por cada
assunto levantado, para que eles possam analisar a viabilidade e
possibilidade
de realização dos pedidos. Essa etapa de análise,
por parte dos técnicos, é
necessária, porque muitas vezes os cidadãos fazem pedidos
que são tecnicamente
inviáveis como, por exemplo, construção de
pronto-atendimento hospitalar, que
funcione 24hs, em um bairro onde ao
lado já existe o serviço prestado, ou então obras
que possuem valor muito alto
e que a verba destinada ao OP não seria suficiente para
realizá-la.
Após a realização
dessa análise dos
técnicos, é realizada a Plenária Geral, que
acontece, geralmente, em uma noite
de julho, onde todos os representantes de bairros, eleitos nas
reuniões
regionais, são chamados para conhecer a análise feita
pelos técnicos e para
juntos discutirem quais serão as 3 principais prioridades da
região e eleger o
Conselho do Orçamento Participativo. Eles realizam como uma
“filtragem” das
prioridades dos bairros, já que a verba não é
suficiente para realização de
todas as demandas. Nessa fase é bastante interessante a
discussão entre os
representantes dos bairros, porque eles conhecem mais profundamente as
necessidades dos bairros e precisam decidir quais são as
fundamentais para a região.
Muitas vezes, o cidadão percebe que a prioridade de seu bairro
vizinho é mais
urgente ou mais importante e “abre mão” de sua demanda, para que
outra possa
ser atendida.
É na Plenária Geral
também, que acontece
a escolha do Conselho do Orçamento Participativo (COP). Os
conselheiros do OP
são escolhidos entre os representantes de bairros de cada uma
das regiões,
sendo que, cada região possui um conselheiro e um suplente. A
partir dessa
escolha, os representantes de bairro acompanham a
evolução das ações do OP,
entrando em contato com o conselheiro de sua região. Além
dos 17 conselheiros
regionais o COP também é formado por mais 4 conselheiros
que são indicados pela
administração municipal, referente a Secretaria de Obras,
Secretaria de Justiça
e Governo, Secretaria de Finanças e Secretaria de
Desenvolvimento, Planejamento
e Meio Ambiente, que é a Secretaria coordenadora do OP.
O trabalho realizado pelo COP é
fundamental para o pleno desenvolvimento do OP, porque ele irá
num primeiro
momento discutir a distribuição da verba destinada ao
processo, dentre as
prioridades que foram elegidas em cada região. Essa é uma
etapa bastante
delicada, pois os conselheiros recebem um orçamento de cada uma
das obras e
serviços solicitados e terão que juntos decidirem qual
será a distribuição da
verba. O que ocorre, comumente, é que a verba destinada ao OP,
acaba sendo
suficiente para realizar apenas uma obra por região, o que
muitas vezes pode
frustrar os participantes. Por isso, é muito importante que os
cidadãos não
participem apenas como simples reivindicadores, eles têm de ter
conhecimento
sobre o funcionamento do orçamento municipal como um todo e,
tudo que a
realização de uma obra significa, por exemplo,
manutenção constante e
contratação de pessoal. Essas informações
são apresentadas já nas reuniões
regionais, quando se realiza uma comparação do
orçamento municipal ao orçamento
familiar, para que a população tenha maior proximidade
com a temática. Porém,
os conselheiros terão um maior aprofundamento dessas
questões, à medida que
irão estar em contato com o tema por mais tempo.
Após a discussão e
distribuição da verba
destinada ao OP, é preparado um documento onde são
apresentadas as prioridades
do OP e o orçamento para realização dessas e, esta
documentação é entregue ao
Departamento de Contabilidade da Prefeitura, para que eles agreguem ao
orçamento geral do município. A chamada, peça
orçamental da Prefeitura, deve
ser entregue até o dia 30 de setembro para a Câmara de
Vereadores e nesta
entrega sempre estão presentes membros do COP, para que seja
reforçada junto ao
Poder Legislativo a contribuição dos cidadãos na
formulação de parte do
orçamento municipal.
Durante os meses de outubro a dezembro o
COP tem uma interrupção de suas atividades, porque nesse
período a Câmara Municipal
de Vereadores vai estar estudando e analisando o orçamento, para
realização de
ementas quando forem necessárias. O Orçamento Municipal
tem que ser aprovado
até o dia 31 de dezembro e começa a vigor em 1º de
janeiro. É a partir dessa
data que o Conselho do Orçamento Participativo passa a exercer
sua função de
acompanhamento e fiscalização das prioridades que foram
selecionadas para serem
executadas. Esse acompanhamento é feito através de
reuniões mensais, que reúnem
os membros do Conselho e também representantes da
administração municipal, que
irão transmitir todas as informações sobre o
andamento das prioridades e
prestar contas do que está sendo realizado. Muitas vezes,
durante a execução do
orçamento vários problemas são enfrentados,
problemas esses ligados a questões
burocráticas e políticas. Todas essas questões
devem ser passadas e bem
discutidas com o Conselho para que os membros desse saibam quais
são os
obstáculos que têm que ser enfrentados para o pleno
funcionamento da “máquina”
administrativa e também para terem conhecimento dos limites que
esse processo
tem. <>
Prioridades
Com relação às
solicitações que ocorrem
durante as reuniões regionais, elas dizem respeito a
questões ligadas a
inúmeras temáticas. Podemos destacar as questões
ligadas à educação, saúde,
galerias e asfalto, convívio social e qualificação
profissional. São
geralmente, solicitações de construções e
ampliações de escolas e postos de
saúde; construção de centros comunitários;
implantações de galerias e asfalto e
realização de cursos profissionalizantes,
solicitação essa que é fruto de
discussões sobre desemprego e desqualificação
profissional.
Abaixo, apresentamos um quadro que
mostra as prioridades selecionadas pelo Conselho do Orçamento
Participativo
para o ano de 2004, e os valores destinados para
realização destas. <>
DESTINAÇÃO
FINAL DA VERBA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
2004
Região
|
Obras
|
Valor destinado
|
1
|
Acostamento da rua dos
Estudantes, de um só lado da pista, sem galerias, até a
Rodovia.
|
R$ 300.000,00
|
2
|
Construção
de galerias na avenida 64-A – São Miguel, para acabar com
problema de enchentes na área atrás da escola Ephraim,
Posto de Saúde Vila Cristina, Centro de
Reabilitação. Com o compromisso da Prefeitura, juntamente
com a comunidade, colocar o asfalto na avenida Joaquim Ribeiro ligando
a rua 6-A e 7-A.
|
R$ 300.000,00
|
3
|
Quadra da EMEIF Victorino
Machado (quadra coberta)
|
R$ 150.000,00
|
4
|
Ampliação
da parte administrativa da EMEI Benjamin Ferreira, com a
construção de um pátio coberto com
iluminação para atividades.
|
R$ 120.000,00
|
5
|
Tubulação
de águas pluviais (galeria meia cana) na rua Marginal da Fepasa,
da av 29 até, se possível, com conexão da galeria
da rua 6. Esta tubulação será aberta (não
é galeria), margeando a linha férrea da Ferroban.
|
R$ 100.000,00
|
6
|
Escola no Jardim Novo I
com espaço para realização das reuniões da
Associação de Moradores (verba terá que ser
complementada com verba da Secretaria de Educação)
|
R$ 160.000,00
|
7
|
Passagem da Castelo
Branco e galerias do Jd Paulista I (terá que ser complementado
com verba da Secr. de Obras)
|
R$ 200.000,00
|
8
|
Centro Comunitário
junto ao conjunto poliesportivo (com sala para a
associação de bairro e instalações para o
programa PETI)
|
R$ 100.000,00
|
9
|
Construção
de galerias, guias e sarjetas no Jd Progresso (para resolver,
inicialmente, o problema principal da avenida 22)
|
R$ 100.000,00
|
10
|
Ampliação
do Centro Dia do Idoso, com construção de mais salas,
galpão e sanitários, beneficiando ainda mais a comunidade.
|
R$ 80.000,00
|
11
|
Aumento do efetivo e
circulação de guardas municipais e PM nesta
região. Verba para contratação de mais guardas
municipais.
|
R$ 33.000,00
|
12
|
Construção
da 1ª escola, creche.
|
R$ 200.000,00
|
13
|
Nova ambulância
para atender o Distrito
|
R$ 60.000,00
|
14
|
Reforma do Centro
Comunitário com retirada do campo de bocha e
construção de um novo campo coberto fora do salão
para, desta forma, aumentar o espaço no salão.
|
R$ 35.000,00
|
15
|
Apoio a
regularização da terra (R$ 10.000,00) e
intensificação de patrulhamento pela Guarda Municipal e
solicitar para a PM maior segurança (R$ 33.000,00) Verba para
contratação de mais guardas municipais.
|
R$ 43.000,00
|
16
|
Cascalhamento da via
principal, aproximadamente 150 metros, pois já existe
canalização das águas pluviais.
|
R$ 20.000,00
|
17
|
Galpão para
reunião de moradores, atividades de saúde e área
de lazer para jovens (capoeira e outros eventos) Lugar destinado dentro
do terreno do posto de saúde.
|
R$ 60.000,00
|
TOTAL
|
|
R$ 2.061.000,00
|
< style="color: rgb(51, 51, 51);">
Um outro dado que observamos durante a
realização das reuniões, nas diversas
regiões do Município, é uma
diferenciação
de público e das discussões realizadas nesses encontros.
Observamos que nas
regiões periféricas as reuniões contam com um
número elevado de pessoas, são
sempre regiões que apresentam grande número de
participantes. Nas reuniões das
regiões mais periféricas e mais carentes economicamente,
as solicitações
referem-se a pedidos mais emergenciais. São
solicitações para resoluções de
problemas que eles vivem cotidianamente, problemas estes ligados ao
mais amplo
espectro de questões, sejam eles de educação,
saúde, desemprego,
infra-estrutura urbana, etc.
Já nas regiões centrais, a
participação
é bastante pequena, há sempre um número reduzido
de pessoas que participam, já
que essas pessoas têm um maior poder de consumo e buscam no
mercado aquilo que
necessitam. Por exemplo, saúde e educação, elas
não precisam solicitar ao
Estado, pois os encontram mais acessíveis e com melhor
“qualidade” no mercado
consumidor. Os problemas levantados de modo geral nas regiões
centrais são
ligados a questões de manutenção dos
serviços já existentes, como limpeza de
ruas, praças, segurança, etc. No entanto, há
discussões que são realizadas, com
essas poucas pessoas que comparecem ao chamado da Prefeitura, que
são discussões
mais aprofundadas e mais amplas e que dizem respeito à sociedade
como um todo.
Podemos citar como exemplo, discussões sobre exclusão
social, exclusão digital,
precarização do trabalho, desemprego, meio ambiente, etc.
Problemas esses que
não afetam os moradores dessas regiões diretamente,
porém há uma preocupação
com o desenvolvimento da sociedade.
De certa forma, esses
temas são levantados em quase todas as regiões,
porém nas regiões periféricas a
população busca na Prefeitura uma base para
solução imediata de seus problemas
nessas áreas e nas regiões centrais as discussões
buscam um aprofundamento nas
temáticas para encontrar soluções à
médio e longo prazo.
< style="color: rgb(51, 51, 51);">
Orçamento
Municipal
Não podemos negar que o processo
do OP
traz uma interferência na destinação de recursos
financeiros do Município. Ele
trabalha com a fatia de 1, 27% do Orçamento Municipal, o que
significa um pouco
mais que R$ 2.000.000,00. Se formos analisar essa cifra, em
relação, a fatia de
investimentos, ela equivale à 7,47% do total dos investimentos
feito pelo
Município. Não é uma porcentagem muito alta,
porém o uso dessa verba para
investimentos em Rio Claro, já traz uma mudança na
construção do espaço e na
reprodução dos cidadãos.
Gastos Da Prefeitura Municipal de Rio
Claro / 2004

Se analisarmos o gráfico acima,
verificamos que grande parte do orçamento municipal já
está comprometida com
gastos que não podem ser alterados. O pagamento de
salários dos funcionários,
aposentados e pensionistas municipais, ocupa quase 50% dos gastos da
Prefeitura. A manutenção dos prédios, obras e
serviços oferecidos pelo
Município ficam com 29% do recolhimento financeiro da
Instituição. O Município
também tem uma dívida herdada de
administrações passadas que foi feito em
dólar, o que também traz gastos bastante altos e
instáveis, devido a variação
cambial, para a Prefeitura.
Todas
essas informações são passadas para a
população que participa das reuniões
regionais, para que elas tomem consciência dos compromissos que a
administração
possui. Para obtermos um maior entendimento, por parte da
população, fazemos
uma comparação com os gastos que as pessoas
corriqueiramente têm em suas
residências, gastos esses que não podem ser modificados ou
não cumpridos. Isso
faz com que os cidadãos tenham uma maior
aproximação e compreendam de melhor
maneira o funcionamento da Prefeitura.
Uma
outra questão que também é bastante discutida nas
reuniões regionais com os
participantes é a necessidade de manutenção e
contratação de pessoal para o
funcionamento das demandas da população. Porque o que
acontece, muitas vezes, é
que os cidadãos não compreendem que para a
construção de uma escola, por
exemplo, não é necessária somente a
construção do prédio, é necessário
também
que se contratem professores, merendeiras, diretores, auxiliares de
serviços,
etc. e também é fundamental a manutenção do
prédio, como pagamento de energia
elétrica, telefone, merenda e demais serviços
necessários. Essa explanação faz
com que os moradores dos bairros, aos poucos vão percebendo que
não podem ter
uma escola, creche e/ou posto de saúde em cada bairro de nossa
cidade, o que de
costume acontecia. No entanto, não são todas as pessoas
que têm essa apreensão,
e então é papel fundamental dos técnicos da
Prefeitura explicarem para os
moradores, quais são as possibilidades de
implantações de determinadas obras em
determinadas localidades.
Um outro fator que deve ser levado em
consideração, quando analisamos o OP em Rio Claro,
é que muitas vezes durante
as negociações que são feitas no COP, entre
população e administração municipal,
há uma complementação de verbas quando o dinheiro
destinado ao OP, não é
suficiente para a realização plena de uma obra. Vamos
ilustrar com um exemplo
que aconteceu nas discussões do orçamento de 2004. Para a
construção da escola,
no bairro Jardim Novo I (região 6), seriam necessários R$
300.000,00. Porém, se
o COP disponibilizasse toda essa verba para esta determinada obra,
outras
prioridades, de outras regiões não poderiam ser
realizadas. Então, os
conselheiros discutiram, juntamente, com a Secretária Municipal
de Educação, a
possibilidade de esta Secretaria disponibilizar parte de sua verba para
realização da obra. Foi assim que ficou decidido que o OP
disponibilizaria R$
160.000,00 para a construção da escola e a Secretaria
Municipal de Educação disponibilizaria
de seu orçamento próprio os R$ 140.000,00 faltantes. Essa
verba não conta como
sendo verba do OP, porém foi o COP que definiu a
utilização de uma parte do
orçamento da Secretaria de Educação,
extra-oficialmente, porque essa não estava
sendo apresentada como verba passível de discussão. Esse
fato, que ocorreu em
outros momentos do processo, em Rio Claro, ilustra que a verba
discutida pelo
Conselho do Orçamento Participativo, não são
somente os R$ 2.000.000,00,
destinados pelo governo municipal, muitas vezes esse valor é
ultrapassado,
embora esse “extra” não seja incluído como verba
destinada ao processo.
Alguns questionamentos...
O
processo do Orçamento Participativo é um avanço e
um ganho para o crescimento
da participação cidadã e para o desenvolvimento,
aperfeiçoamento da democracia
em nosso país, porque ela possibilita o debate. Sem
dúvida, ele é uma
manifestação e uma oposição ao
período da ditadura militar, vivida na década de
70 e 80 em nosso país. No entanto, temos que ser bastante
cuidadosos quando
trabalhamos com esse processo e quando colocamos nele uma carga um
tanto quanto
pesada, transpondo para ele a idéia de um processo
emancipatório e libertador.
Temos que nos lembrar que essa ainda é uma
participação comandada pelo Estado.
É o Estado que produz, induz e organiza essa
participação que tem como caráter
principal a reivindicação. O OP nos apresenta uma
participação reivindicatória
e não autônoma e emancipatória. Se o Estado, no
caso estudado a administração
municipal de Rio Claro, não apresentar uma resposta positiva as
reivindicações
colocadas, ou seja, não realizar as obras e serviços
solicitados, há um
esvaziamento da participação, pois a
população participa para verem suas
reivindicações
pontuais serem atendidas de maneira mais imediata.
O
poder final de decisão sobre os encaminhamentos do
orçamento ainda está nas
mãos do Estado, porque é o poder Legislativo, mais
pontualmente, a Câmara de
Vereadores, quem aprova ou não o orçamento discutido e
definido pelos membros
da sociedade civil e será o poder Executivo quem irá
aplicar o orçamento
aprovado, ou seja, o poder dado aos cidadãos é pequeno e
pouco definidor de
políticas ou ações mais efetivas e concretas. A
relação que se instala nesse
instante é, no entanto dúbia, porque os vereadores
costumeiramente aprovam, sem
alterações, a fatia orçamentária elaborada
pela população. E o prefeito, de
maneira geral, realiza as prioridades elencadas, pois afinal é
esta população
quem os elege e permitem que eles ocupem cargos no poder municipal.
Porém,
o Orçamento Participativo também revela aspectos
positivos em nossa sociedade,
que não devem e não podem deixar de ser ressaltados. A
participação popular tem
um grande potencial de desenvolvimento social e de
transformação da sociedade,
mas precisa ser descoberto e apropriado pelos cidadãos.
A
questão da educação política e da
mudança de cultura, em relação a política,
é
um dos grandes avanços que este processo nos traz. Com o OP e
também com as
diversas outras práticas democráticas implementadas nas
administrações
municipais (Conselhos Municipais Temáticos, Conferência da
Cidade, entre
outros), a prática democrática ultrapassa o dia das
eleições para
transformar-se no que podemos chamar de prática
democrática cotidiana. O quadro
atual da democracia representativa, em nosso país, confirma sua
ineficiência e
mostra que alguns cidadãos não mais estão
satisfeitos com a situação posta e
por isso, buscam atuar no seu lugar, para que a
reprodução e realização da vida
aconteçam com mais qualidade e dignidade. Mesmo que essa
participação, em
princípio, seja apenas reivindicatória ela traz uma maior
aproximação da
população ao funcionamento do Estado, a
população conhece os limites e as
possibilidades de atuação deste. Há também
um desenvolvimento, que não é
imediato, da mentalidade política e cidadã da sociedade.
É observado no
decorrer dos anos de realização do OP em Rio Claro, que
muitos cidadãos têm uma
nova visão e uma nova consciência do papel que ele pode
exercer na sociedade.
Presenciamos diversas vezes manifestações de cidadania e
solidariedade, que são
frutos do trabalho realizado, dessas pessoas, junto aos conselhos
municipais e
aos processos de participação popular.
Os processos de
participação popular, de
maneira geral, ainda têm que se desenvolver muito para que possam
alcançar um
maior poder de decisão, de realização, de
mudanças na gestão e organização das
cidades e de transformações da sociedade. Estes processos
ainda ocorrem de
maneira muito isolada entre eles, não existe uma conexão,
um contato mais forte
e estreito entre os diversos conselhos municipais, entre a
Conferência da
Cidade e o planejamento explicitado no Plano Diretor e no Plano
Plurianual da
administração municipal, falamos aqui da cidade de Rio
Claro em especial,
porque é nosso objeto de estudo. Esse contato, esse maior
entrosamento poderá
trazer mais força e até maior autônima para a
participação popular e para o
poder de decisão e transformação dos
cidadãos.
Referências
bibliográficas
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