Luís
Nassif
Um livro
esquecido de 1956, da Editora Civilização
Brasileira, traz elementos preciosos sobre a elite brasileira no
início dos
anos 50, período em que se consolidaram grandes grupos
nacionais. Foi escrito
por José Mauro Gonçalves, mineiro de Mariana, contratado
durante ano e meio
como colunista social do "Diário de Notícias". Ele tinha
particularidades curiosas para um colunista social: detestava a vida
mundana.
José
Mauro dividia a elite carioca da época em seis
tribos.
Na frente,
os "horse-ligne", os pequenos
círculos dos estabilizados, altas figuras dos meios sociais,
políticos e
económicos, que perduram por duas ou três
gerações. O cronista colocava nesse
time E.G. Fontes (banqueiro), Raimundo Castro Maya, João Borges
Filho e
Eugênio Gudin. Incluía Raul Fernandes, tratado como
"famoso
internacionalista que se enriqueceu sobretudo com causas nacionais", o
embaixador Maurício Nabuco, o empresário têxtil
Guilherme da Silveira e os três
Guinle —Guilherme, Carlos e Otávio.
Em seguida,
vinha o "café society", que
começou a ser moldado nos tempos do Cassino da Urca. Era um
pessoal mais
festivo e informal, uma espécie de geração Daslu
da época. Os mais proeminentes
eram Álvaro Catão, Carlos Eduardo "Didu" de Sousa Campos,
Vicente
Galliez, Horácio YXabin, Otacílio Gualberto de Oliveira,
João Saavedra, Jorge
Guinle, Teodoro Eduardo Duvivier e Fernando Delamare.
Um grupo
menor era o "salon société",
formado pelos herdeiros das tradições dos cafés
literários da França, um tanto
pernósticos. Em posição mais favorável
estavam os intelectuais, de poetas como
Vinícius de Moraes a humoristas como Millôr Fernandes,
pintores como Portinari
e Di Cavalcanti, arquitetos como Niemeyer e Lúcio Costa.
0 grupo dos
poderosos era chamado de "big
shots" ou "tycoons", conhecidos por seu poder econômico, pela
liquidez de suas finanças e, alguns, também pelo charme.
Dois dos
mais ilustres eram o paulista José Carlos
de Macedo Soares e Horácio Lafer. Entre os de prestígio
eminentemente político,
incluía Apolônio Sales, Israel Pinheiro, Francisco
Negrão de Lima, senador
Juracy Magalhães, senador Lourival Fontes, ministro José
Maria Alckmin.
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Havia "big
shots" nordestinos, como Oton
Bezerra de Mello Filho, que, com seus irmãos Artur e Luis,
dominava setores
como hotelaria, tecidos, usinas de açúcar. Nos setores de
terraplanagem e
rodoviarismo, imperavam Cincinato Braga e Mário Tamborindeguy.
O
empresário com melhores relações com os Estados
Unidos era Valentim Bouças, ligado ao grupo Holleryth, que
recebia polpudos
royalties do serviço público. Havia os "big shots" da
hotelaria, como
Joaquim Rolla, criador do Cassino da Urca.
Os Klabin
Já se destacavam por sua produção de
celulose no Paraná, em São Paulo, no Rio e em Minas. O
presidente da Panair
era Argemiro Hungria, ligado a Murray e Simonsen, que detinha
representações de
automóveis, máquinas em geral, papéis suecos, e
finlandeses.
A.J. Peixoto de Castro era o líder do
seu grupo,
cuja origem estava na concessão da Loteria Federal. De lá
investiram na
Refinaria de Manguinhos. Havia também António
Sánchez de Larragoitti Júnior, da
Sul América, e o Monteiro Aranha —sociedade dos Monteiro de
Carvalho e de Olavo
Egydio de Souza Aranha—, com ligação com capitais
franceses, investimento em
vidro, automóveis (Volkswagen).
Um dos
grupos mais poderosos eram os Soares
Sampaio, donos da Refinaria Capuava, a maior do país,
além de fábricas de
cimento, de pneus. O líder era Alberto, mais os irmãos
João, Álvaro e Bento. Havia
representantes de multinacionais, como Sigmund Weiss, da Mannesmann.
O cronista
culminava sua relação com o grupo
Moreira Salles. Mencionava João, que fundou o banco. Depois,
Valter, que
ampliou as atividades para os setores industriais, agrícolas,
dono de uma
liquidez monetária imensa. Eram pessoas ligadas ao grupo Eduardo
Ramos (casado
com uma filha de António Prado Júnior), Pedro de Perna,
Aluisio Sales e Nelson
Batista, além de San Tiago Dantas e outros "big shots" famosos.
A
última tribo era a dos golpistas. Por prudência,
não indicou nomes nacionais.
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