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Cf. Também Deák (2004) "Brazil: the PT in government" Soundings 28:143-55 Observações cegamente? esperança fundada? Normais: sistema fiinanceiro frágil ausência de crédito, juro alto câmbio errático, ora sobre-, ora desvalorizado ![]() Ilustração
original
Belo resumo dos elementos de uma política financeira |
Política
nacional de desenvolvimento
CD, 09.1.10
Revista Adusp 29:6-12, 2003 maio
A dança imóvel e os impasses da
transição
Plínio de Arruda Sampaio Jr O balanço dos
primeiros meses da política econômica do governo Lula
revela que as medidas adotadas, sem exceção, obedecem
cegamente os ditames do FMI. Atônita, a população
que apostava na mudança assiste a Palocci e a Meireles
praticando um malanismo ortodoxo, condenado pelo voto popular. Mesmos
remédios, mesmos efeitos. A instabilidade econômica
não arrefece e as autoridades continuam a reboque de movimentos
especulativos do mercado – eufemismo utilizado para designar os
interesses do capital financeiro. E, assim, o enorme entusiasmo gerado
pela vitória da esperança começa a ser empanado
pelo sentimento claustrofóbico de que tudo continua igual. Administrando a
crise O mercado cambial demonstra-se incólume às pirotecnias das autoridades monetárias e oscila erraticamente ao sabor dos humores dos grandes especuladores internos e externos, alimentando as burras de quem especula contra o Real às custas do Tesouro Nacional. Apesar da presença de um “capo” do mercado financeiro internacional na presidência do Banco Central, a especulação contra o Real não arrefece. O valor do dólar resiste à baixa, a escassez de financiamento externo persiste e a fuga de capital não cessa. Puxada pela aceleração dos
preços dos produtos direta ou indiretamente atrelados ao
dólar, a inflação ignora as metas combinadas com o
FMI, colocando em xeque o futuro da precária estabilidade. A
abertura da economia, funcional para conter a elevação
dos preços na época do câmbio supervalorizado e da
fartura de financiamento externo, agora, revela seu lado
pró-inflacionário. O sistema de indexação
das tarifas dos serviços públicos recém
privatizados, sistema legitimado pelas agências reguladoras
criadas por FHC, gera inércias inflacionárias
difíceis de serem debeladas sem grandes sacrifícios para
o nível de atividade e para o emprego. O aperto monetário e o choque de
juros para refrear a especulação contra o Real e asfixiar
o repasse da inflação aos preços reforçam
as tendências recessivas e agravam o desemprego. São
medidas que premiam o rentismo em detrimento da produção,
jogando o custo do ajuste nas costas dos trabalhadores. Enquanto a
decisão de aumentar em 1,5 ponto percentual os juros dos
títulos públicos representa uma transferência anual
de aproximadamente R$ 13 bilhões para os detentores de
títulos públicos federais – mais de 7 vezes o aumento
líquido de recursos destinados aos programas englobados no Fome
Zero -, o desemprego bate recordes e o rendimento médio do
trabalho registra novas diminuições. O reforço do superávit
primário para neutralizar o impacto dos juros sobre o
déficit público – um compromisso com o FMI – perpetua
antigas injustiças fiscais, inviabiliza a política social
e joga mais água no moinho da recessão. A sanha de elevar
a arrecadação a qualquer custo faz com que a
ação da Receita Federal siga rigorosamente o mesmo
padrão da era FHC, como fica evidente no recuo em
relação à correção da tabela do
Imposto de Renda de Pessoa Física. O corte adicional de R$ 14
bilhões promovido no já extraordinariamente apertado
orçamento federal, sendo R$ 5 bilhões nos
ministérios da área social, praticamente paralisa a
ação do governo federal. A decisão de privilegiar o corte de
gasto como meio de buscar o superávit primário, com o
argumento de que assim se estaria atuando sobre as causas dos
desequílibrios fiscais – a elevada presença do Estado na
economia -, é um retrocesso em relação à
administração anterior, revelando um inaceitável
alinhamento das autoridades econômicas com os espectros mais
reacionários da família neoliberal. Ao preservar do corte
as políticas que atuam sobre os efeitos dos problemas,
como o Fome Zero, o ônus do ajuste fiscal ficou por conta dos
programas sociais estratégicos, que atacam as causas da
pobreza e das desigualdades sociais. A estratégia é reciclar o modeloPreocupado com o sentimento de
perplexidade que toma conta de sua base de apoio social e
político, o presidente pede calma. Afirma que estamos em um
período de transição e condiciona o abandono da
orientação ultra-ortodoxa da política
econômica à implementação das chamadas
“reformas institucionais”. É um paradoxo. A agenda e o
conteúdo das reformas propostas sinalizam exatamente o
contrário. As mudanças consideradas estratégicas,
a serviço das quais o governo joga todas as suas energias
políticas e subordina todos os prazos legislativos – a reforma
da previdência, a reforma tributária e a autonomia para o
Banco Central –, fazem todas elas parte de compromissos assumidos pelo
governo FHC com o FMI, agora, renovados pelo governo Lula (compromissos
explicitados na Carta de Intenções enviada em agosto de
2002 e renovados em fevereiro de 2003). São medidas desenhadas
para aprofundar o neoliberalismo no Brasil, reforçando ainda
mais a blindagem institucional que fecha a possibilidade de
políticas econômicas alternativas. Não é de
estranhar o entusiasmo e o assanhamento do mercado. Reforma da PrevidênciaA reforma da previdência prometida
ao Fundo, que inclui a criação de fundos de aposentadoria
complementar para os servidores públicos, a cobrança de
contribuição previdenciária dos servidores
inativos e a definição de carreiras para as quais os
servidores podem ser contratados pelo regime de previdência do
setor privado, peca pelo seu viés fiscalista, privatista e
imediatista. Trata-se de desresponsabilizar o Estado pelo amparo do
funcionalismo público inativo e abrir espaço para a
entrada das empresas privadas no rico filão dos planos de
previdência privada. O absoluto descaso com as especificidades
do funcionalismo e sua importância estratégica para o bom
funcionamento da burocracia estatal, a injustificável
despreocupação com a previdência como instrumento
de combate às desigualdades sociais, bem como o
incompreensível descuido com a necessidade de equacionar a
sustentabilidade financeira a longo prazo da previdência, o que
exigiria a adoção de uma política econômica
compatível com o crescimento e a geração de
empregos, revelam a visão canhestra com que o debate vem sendo
conduzido. Por fim, o modo distorcido de apresentar o problema da
previdência pública, lançando mão de
manipulações estatísticas primárias, mal
esconde a intenção de transformar o funcionalismo em bode
expiatório da gravíssima crise financeira do Estado. Tal
modo de conduzir o debate em nada contribui para a discussão
democrática e racional da questão da previdência -
um problema complexo e de grande repercussão sobre a
organização do Estado e da sociedade brasileira. Se a
situação da economia nacional é tão grave
que não existem condições objetivas de o Estado
honrar todos os seus compromissos, seria bem mais coerente com a
prioridade de privilegiar o combate à pobreza e às
desigualdades sociais o governo romper com o padrão
histórico de socialização dos prejuízos e
jogar o ônus da crise nos segmentos abastados da sociedade. Reforma TributáriaAs mudanças tributárias
exigidas pelo Fundo – harmonização da
legislação e das alíquotas do ICMS,
transformação do Cofins em imposto sobre o valor
adicionado, redução do grau de vinculação
das receitas federais, elevação de impostos para
compensar a perda de receita com a redução esperada do
CPMF - são medidas que têm em vista: preservar a
capacidade de arrecadação da União e dos governos
estaduais; coibir a escalada da guerra fiscal entre os estados;
corrigir distorções na racionalidade tributária
provocadas pela epidemia de impostos em cascata, desonerando a
sobretaxação dos produtos brasileiros exportados; e dotar
a União de maior flexibilidade na utilização dos
recursos tributários, eliminando bloqueios institucionais que
engessam o orçamento federal, reduzindo o grau de liberdade para
a execução da política de ajuste fiscal. Ainda que algumas destas medidas tenham um
caráter eminentemente técnico, de mera
racionalização da máquina tributária,
não é difícil identificar a lógica perversa
que as preside: a necessidade desesperada de gerar
megasuperávits comerciais e fiscais. Dificilmente se poderia
atribuir a tais modificações a envergadura de uma
“reforma tributária” que, de fato, implicasse em uma
mudança de qualidade na capacidade de gasto do Estado brasileiro
e que, por isso, tivesse o poder de provocar uma reversão nas
expectativas dos investidores, de modo a alavancar um novo ciclo de
crescimento. Na realidade, o debate em curso ignora os
grandes temas de uma verdadeira reforma tributária, tais como:
as causas estruturais da crise federativa que ameaça a unidade
nacional – a subordinação do Brasil às
exigências da globalização dos negócios; a
raiz dos problemas responsáveis pela endêmica fragilidade
fiscal do Estado brasileiro – a extrema debilidade do Estado brasileiro
em relação aos interesses privados; os fatores
responsáveis pelo desequilíbrio estrutural das
finanças públicas – o elevado peso do serviço da
dívida nos gastos públicos e o efeito depressivo das
baixas taxas de crescimento sobre a arrecadação
tributária, ambos produtos diretos da política de
austeridade em curso; o caráter ultra-regressivo do sistema
tributário – resultado da profunda privatização do
Estado brasileiro; a necessidade de recompor a capacidade de
endividamento do setor público – o que requer uma
reestruturação da dívida pública e uma
grande reforma do sistema bancário; a absoluta irracionalidade
de uma estrutura de gasto público que dedica ano após ano
aproximadamente 8% do PIB para o serviço da dívida
pública; e a necessidade de rever a Lei de Responsabilidade
Fiscal, que transforma os investimentos públicos e as
políticas sociais em variáveis de ajuste do
orçamento público para gerar excedentes a serem
destinados aos credores do Estado. Independência do Banco CentralMesmo não sendo a
independência do Banco Central uma obrigação formal
do empréstimo do FMI, as autoridades econômicas jogaram-se
de corpo e alma nesta cruzada. Pressionado pelo “mercado”, que quer
aproveitar a surpreendente maleabilidade do ministro da Fazenda aos
pleitos do grande capital para reforçar a blindagem financeira
em prol de seus interesses, o governo transformou em prioridade
absoluta a mudança no artigo 192 da Constituição
Federal e a aprovação de um mandato para as autoridades
monetárias que seja fixo e não coincidente com o da
presidência da República. Para o leigo, que não tem a menor
obrigação de entender os labirintos da macroeconomia, a
independência do BC pode parecer uma questão
secundária que deveria ser relegada aos especialistas em
economia monetária. Não é. O caráter das
decisões econômicas sob a competência do BC mostra
bem a relevância do que está em jogo. Entre outras
atribuições, cabem-lhe as funções de
regular a liquidez do sistema financeiro, fiscalizar a saúde
econômica dos bancos, definir a taxa de juros básica,
estabelecer o regime cambial, controlar os movimentos de capitais,
administrar as divisas internacionais, regular o mercado de
câmbio, supervisionar o mercados de derivativos, socorrer bancos
que atravessam crises temporárias de falta de dinheiro, liquidar
instituições financeiras inadimplentes etc. Não existe gestão
monetária neutra. As autoridades monetárias estão
sempre pressionadas por interesses econômicos
contraditórios que colocam em xeque a confiança na moeda
nacional. Decidir a favor dos credores ou dos devedores, defender o
patrimônio dos rentistas ou favorecer a geração de
renda e emprego, privilegiar a estabilidade ou priorizar o crescimento,
valorizar a moeda nacional, aumentando seu poder de compra no exterior,
ou desvalorizá-la, empobrecendo os que possuem patrimônio
denominado em moeda nacional em relação aos estrangeiros,
sancionar a fuga de capitais ou centralizar o câmbio, deixar um
banco quebrar ou socorrê-lo, eis a natureza dos conflitos que
constituem o cotidiano de um Banco Central. Não há como
escamotear o caráter eminentemente político destas
decisões. Em outras palavras, como guardião
da moeda – a mercadoria que funciona como equivalente geral de todas as
mercadorias, sintetizando os nexos sociais e as relações
de poder entre capitalistas e trabalhadores de uma determinada
formação social e de suas relações com as
demais sociedades do sistema capitalista mundial -, o Banco Central
é a instituição que estabelece as
condições de acesso dos capitalistas e do Estado à
moeda nacional e às divisas internacionais. Ele exerce papel
crucial em vários planos da economia nacional: na
definição de dois preços fundamentais do
capitalismo - a taxa de juros e a taxa de câmbio; na
determinação da oferta de crédito; no
estabelecimento das condições de pagamento das
dívidas privadas e públicas; na defesa das reservas
internacionais; na inibição de manobras especulativas que
colocam em risco a solidez do sistema financeiro; na
definição da relação entre os preços
internos e externos. Em suma, o Banco Central é uma
instituição-chave que permite ao poder público
arbitrar a concorrência intercapitalista, buscando
subordiná-la aos objetivos da sociedade nacional. É o
controle da moeda que dá ao Estado alguma capacidade de graduar
o ritmo, a intensidade e o sentido do processo de
destruição criadora que caracteriza o desenvolvimento
capitalista. Ceder a independência do BC às “forças
do mercado” significa simplesmente renunciar à soberania do povo
sobre os rumos da política econômica – uma
usurpação de poder que fere a essência do mandato
popular concedido ao presidente Lula. A independência do Banco
Central significa literalmente aprisionar o futuro no passado,
comprometendo a política econômica com a
obrigação de honrar os gigantescos encargos financeiros
externos e internos herdados da era FHC e de sancionar os
extraordinários privilégios do capital internacional na
economia brasileira. Por essa razão, trata-se de uma medida
inaceitável para quem luta a favor dos interesses populares e
nacionais. ALCAA ausência de estratégia para enfrentar a política norte-americana de enfiar o Acordo de Livre Comércio das Américas – ALCA – goela abaixo da sociedade brasileira é mais um preocupante sinal de paralisia do governo Lula frente às pressões da ordem global, sobretudo quando se tem em conta as reiteradas declarações do presidente da República durante a campanha eleitoral de que a ALCA representa uma ameaça de anexação do Brasil aos Estados Unidos. O cumprimento de um cronograma de negociação prepotente e insensato, que obrigava a nova administração a apresentar propostas estratégicas apenas quinze dias após a posse, foi uma desnecessária demonstração de fraqueza. O envio, sem retoque, para as câmaras de negociação de um documento preparado pelo governo FHC é mais um elemento a sugerir a conformidade das novas autoridades com os dogmas do neoliberalismo. A falta de discussão da proposta brasileira com representantes dos trabalhadores dá prosseguimento a um tradicional elitismo no modo de encaminhar a relação do governo com a sociedade - sobretudo, quando se leva em consideração que, segundo consta, o documento foi submetido ao crivo de entidades patronais. Por fim, a intransparência nas negociações e o sigilo que ainda persiste sobre o conteúdo das propostas brasileiras para o ALCA deixam o cidadão diante da paradoxal situação de conhecer as intenções do governo norte-americano e de permanecer na mais absoluta ignorância em relação às finalidades de seu próprio governo. É claro que não se pode descartar a hipótese de que o governo brasileiro esteja apenas ganhando tempo, apostando na possibilidade de que a intransigência norte-americana acabe provocando, por si mesma, um impasse intransponível e que, portanto, não haveria por que sofrer o desgaste de um atrito comercial desnecessário com a maior potência do globo. É uma aposta arriscada, pois, como insistiu o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, um dos maiores especialistas do país nas negociações da ALCA, hoje vice-ministro das Relações Exteriores, o envolvimento progressivo nas negociações pode criar uma situação de fato que inviabiliza a possibilidade de, em um momento posterior, o governo decidir pelo abandono dos entendimentos – posição defendida pelo embaixador como sendo a mais apropriada por ser a única capaz de preservar os interesses estratégicos do Brasil. A docilidade do governo brasileiro é tanto mais preocupante quando se leva em consideração que as indecorosas propostas apresentadas pelos norte-americanos parecem confirmar as mais sombrias avaliações de que a integração à ALCA representa o fim da soberania nacional. Esperando GodotAs ações e omissões do governo Lula indicam que as novas autoridades econômicas – tal como as antigas - apostam todas as fichas na possibilidade de que uma reversão das expectativas da comunidade econômica internacional volte a colocar o Brasil na rota dos fluxos de capitais internacionais – condição necessária para dar novo fôlego ao exaurido modelo econômico neoliberal. É uma cartada arriscada. O risco é ficar esperando Godot. É exatamente o que aconteceu no segundo mandato de FHC. Até o momento, as efusivas declarações de simpatia dos porta-vozes do grande capital financeiro e o entusiástico apoio dos organismos internacionais à nova administração não resultaram em nada de prático para afastar definitivamente o espectro de um colapso cambial. O chamado “risco Brasil” – o indicador que calcula o grau de confiança dos credores internacionais no país – permanece nas alturas. Tampouco há o menor indício de uma reversão do estado de “aversão ao risco” que afugenta os credores internacionais dos mercados emergentes. A economia norte-americana caminha para um segundo mergulho recessivo e a guerra contra o Iraque só faz exacerbar ainda mais o quadro de incertezas econômicas que afugenta o capital de economias consideradas de alto risco. Além disso, a recessão deprime o comércio internacional e desvaloriza as cotações das commodities brasileiras, comprometendo a possibilidade de uma vigorosa expansão das exportações. A absoluta impotência das autoridades para romper os automatismos de mercado, que bloqueiam o crescimento e conspiram impiedosamente contra o bem estar do povo, deixa patente que o Brasil está completamente enredado nas malhas do capital financeiro. Não há solução fácil e indolor para enfrentá-lo. O poder descomunal do grande capital de sabotar toda iniciativa que possa representar uma ameaça à continuidade do neoliberalismo inviabiliza qualquer possibilidade de mudança no rumo da política econômica sem uma abrupta desorganização da economia e traumática ruptura institucional. No entanto, permanecer igual seria ainda pior, pois mesmo que a estratégia de reciclagem do modelo seja bem sucedida e que a economia consiga retomar uma trajetória de crescimento, nada retirará do modelo reciclado seu caráter intrinsecamente anti-social, antinacional e antidemocrático. Dentro da lógica do modelo econômico, é simplesmente impossível compatibilizar o combate à pobreza e às desigualdades sociais – a esperança da quase totalidade da população brasileira – com o compromisso de pagar a qualquer custo as dívidas externa e interna – a exigência dos grandes detentores de riqueza nacionais e internacionais. Criatividade e coragem para mudarO governo Lula não conseguirá priorizar o combate à pobreza e às desigualdades sociais, se não vencer as barreiras econômicas, institucionais e mentais que procuram, por todos os meios, tornar o neoliberalismo irreversível. A chave do problema reside na negação de um padrão de acumulação baseado na cópia das pautas de consumo das economias centrais (opção que, como vimos, condena o Brasil a perpetuar a concentração de renda, o desemprego estrutural e a desnacionalização crescente da economia) e na afirmação de um modelo de desenvolvimento que coloque em primeiro plano o atendimento às necessidades sociais das camadas desfavorecidas da população e a defesa intransigente da soberania nacional. O ponto de partida desta mudança passa pela negação do legado neoliberal e pela recuperação da capacidade de intervenção do Estado na economia. Na prática, isto significa: (1º) restaurar o poder das autoridades econômicas sobre a moeda; (2º) recompor a capacidade de fazer política fiscal; e (3º) reinstituir mecanismos de regulação da atividade econômica. Os primeiros passos devem ser: libertar a política econômica do jugo do FMI; revogar os dispositivos que asseguram a plena mobilidade dos capitais e centralizar as operações cambiais para defender as divisas internacionais; desmontar a armadilha da dívida externa, ajustando o volume do serviço da dívida às reais capacidade de pagamento do país; reestruturar a dívida interna; inverter o sentido de prioridade institucionalizado na Lei de Responsabilidade Fiscal, que transforma os investimentos públicos e a política social em variável de ajuste das contas públicas, transformando o serviço da dívida pública em variável de ajuste da política fiscal; restaurar a preponderância do poder político na condução da gestão monetária, eliminando a autonomia já imperante (de fato mas ainda não de direito) do Banco Central. É também fundamental retirar imediatamente o Brasil das negociações da ALCA, para impedir uma deterioração adicional na situação nacional. As forças populares devem evitar o equívoco de acreditar em “milagres” do governo Lula – como, diga-se de passagem, de qualquer governo. Os novos dirigentes só terão condições de cumprir as promessas da campanha se a correlação de forças for suficiente para superar os gigantescos bloqueios que subordinam a sociedade brasileira aos interesses das finanças internacionais e ao mando despótico da burguesia. A história do Brasil ensina que só a pressão social de baixo para cima é capaz de promover os interesses das classes populares. Não pode haver ilusão. O povo brasileiro não deve esperar nenhuma transformação social que ele não possa conquistar com a própria cabeça e as próprias mãos. |