Acumulação
entravada no Brasil
Csaba Deák Notas
de aula
84 O alvo
JÂNIO
DE FREITAS 16 4 3
:11
Intencional, por certo não
foi. Muito melhor: foi autêntico, com a naturalidade
das palavras que burlam, espontâneas, a censura
protetora das nossas conveniências. Foi um pequeno
trecho de frase, intercalado com ligeireza. A frase,
por sua vez, destinava-se a outro fim –o
reconhecimento da "não intervenção" dos governos do
PT na ação do Ministério Público e da Polícia
Federal, "porque os governos anteriores realmente
mantinham controle das instituições". A palestra,
está claro, decorria com plena e descontraída
franqueza do procurador Carlos Fernando dos Santos
Lima, o comunicador da Lava Jato.
Eis o pequeno trecho que o auditório da Câmara
Americana de Comércio pôde ouvir, sem sinal de
notá-lo, e a repórter Paula Reverbel não excluiu,
como fizeram outros, do seu relato para a Folha:
"[...] os governos que estão sendo investigados, os
governos do PT, [...]".
O que a Lava Jato investiga de
fato, por meio de investigações secundárias, não é
a corrupção na Petrobras, não é a ação corruptora
de empreiteiras, não são casos de lavagem de
dinheiro: são "os governos do PT".
Deixa, portanto, de ser coisa de esquerdista,
governista, lulista, petista & cia., como
alegado por tantos, a dedução de que a Lava Jato
procede com direcionamento e seletividade. E age
muito além do alcance investigativo e processual a
que foi legalmente destinada. Com finalidade que
explica o seu descaso por indícios e mesmo por
delações premiadas, tão valorizadas em seu método,
de corrupção anterior ao primeiro governo do PT.
A Lava Jato é, agora declaradamente, uma operação
judicial com objetivo político-partidário, cujos
atos e êxitos contra a corrupção são partes
acessórias do percurso contra três governos (partido
e personagens). Não são esses os mandatos conferidos
ao juiz e aos procuradores da Lava Jato, no entanto.
Pode-se imaginar o fim visado. Mas de onde vêm tal
presunção e tal objetivo da Lava Jato é uma
incógnita para o próprio Judiciário, que, afinal de
contas, é o primeiro Poder questionado.
Dentro da crise que se vê há outra, senão outras
crises. Como a de autoridade, que até as simples
aparências de opinião pública esvaziam.
AMBIÇÕES
Apesar de haver um tanto de especulação, o tanto de
realidade que há em um plano político torna
conveniente noticiá-lo. É a ideia, já em ação, de
obter que o Tribunal Superior Eleitoral casse, com o
mandato de Dilma e pelo mesmo motivo, também o de
Michel Temer. Mas o PSDB, é convicção na cúpula do
próprio partido, não conta mais com as melhores
perspectivas de êxito se houver eleições. Marina e
mesmo uma eventualidade petista teriam menos
dificuldades com o eleitorado. A alternativa dos
neoliberais seria a campanha dos meios de
comunicação para induzir, a um só tempo, a adoção do
parlamentarismo já com um nome acoplado na novidade,
para primeiro-ministro.
Um plano assim precisaria incluir eleições gerais.
Com a atual conformação da Câmara, seria difícil ver
a maioria dos deputados presentear o poder ao PSDB.
O plano neoliberal precisa de ganhos demais para ter
êxito. Não tem futuro nem com sotaque português.
VIRADA
Tudo na crise muda a cada dia. Mas há uma
constância: o esquecimento, no comentarismo, do
Senado e de sua importância na possível decisão do
impeachment. E lá o silêncio predominante exprime a
dificuldade do "fora, Dilma" para conquistar adesões
firmes. O que significa um campo promissor para o
"fica, Dilma".
A ativação das manifestações contra o impeachment
levou até certos meios de comunicação a baixarem o
tom anti-Dilma. A semana encerrou-se com renovado
otimismo dos governistas e perplexidade dos
derrubadores.
O
que a Lava Jato investiga de fato, por
meio de investigações secundárias, não
é a corrupção na Petrobras, não é a
ação corruptora de empreiteiras, não
são casos de lavagem de dinheiro: são
"os governos do PT".
A
semana encerrou-se com renovado
otimismo dos governistas e
perplexidade dos derrubadores.