Folha de S Paulo,
02.01.29:A-10
Reservistas podem ser presos
52 israelenses se negam a agir
contra palestinos
DA REDAÇÃO
Cinquenta e dois reservistas do Exército
de Israel publicaram manifesto na imprensa do país afirmando que
se recusam a atuar nos territórios palestinos. "Não
continuaremos lutando para expulsar, destruir, bloquear, assassinar, fazer
passar fome e humilhar os palestinos", diz a declaração.
O chefe das Forças Armadas de Israel,
Shaul Mofaz, classificou como "muito grave" o manifesto. "É inadmissível
que reservistas queiram decidir o que fazer em relação ao
serviço militar", disse o general. Os militares correm o risco de
ser presos pela atitude.
Apesar de estarem na reserva, esses oficiais
continuam servindo periodicamente o Exército. Em Israel, o serviço
militar é obrigatório e dura três anos para os homens
e 21 meses para as mulheres. Porém até os 49 anos os israelenses
são convocados anualmente para integrar o Exército pelo período
de cerca de um mês.
A atitude dos reservistas acontece em momento
de forte tensão em Israel, que está em estado de alerta,
com policiais fortemente armados ocupando as principais ruas de Jerusalém
e Tel Aviv.
A ação acontece após
quatro atentados em menos de uma semana. Autoridades afirmam haver risco
de novos ataques.
O controle nas fronteiras entre Israel
e os territórios palestinos também foi intensificado pelo
Exército. A fiscalização de mulheres passaria a ser
tão rígida quanto a dos homens, após uma palestina
ter cometido atentado suicida anteontem em Jerusalém, que matou
um idoso israelense e deixou mais de cem feridos. Foi o primeiro ataque
desse tipo realizado por uma mulher.
Perto de Tel Aviv, um palestino foi morto
após atropelar dois policiais e um soldado, que ficaram feridos.
Para a polícia israelense, o incidente foi um atentado. Os palestinos
afirmam que era apenas um ladrão de carros. No assentamento judaico
de Elon Moreh, na Cisjordânia, dois palestinos invadiram uma casa
e feriram um menino de oito anos com faca. Nenhum grupo reivindicou a ação.
Pressionado pelos EUA e por Israel, o
líder palestino Iasser Arafat ordenou a prisão de Fuad al
Shobaki, um dos principais responsáveis pelas finanças da
Autoridade Nacional Palestina (ANP). Ele estaria envolvido com o navio
carregado de armas interceptado por Israel no início do mês.
Os EUA afirmam que receberam de Israel
provas do envolvimento da ANP no caso. A Casa Branca estuda rompimento
de laços com Arafat.
A postura dos EUA está sendo considerada
favorável a Israel entre os países árabes. Egito,
Jordânia e Arábia Saudita, principais aliados árabes
dos norte-americanos, alertaram que a política dos EUA pode causar
sérios estragos a interesses do país na região.
A União Européia respaldou
Arafat, dizendo que ele deve ser o interlocutor dos palestinos, pois sem
ele a situação ficaria pior.