ONU
Com apoio europeu, Washington acusa José
Bustani de "má administração" de órgão
contra armas químicas; ele descarta renúncia
EUA
pedem "remoção imediata" de diplomata brasileiro
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Os Estados Unidos
pediram a "remoção imediata" do embaixador brasileiro José
Maurício Bustani do cargo de diretor-geral da Organização
para a Proscrição de Armas Químicas (Opaq), com sede
em Haia (Holanda).
O pedido foi formulado
ontem, durante reunião do Conselho Executivo da organização,
formado por 41 de seus 143 países-membros.
"Não pensamos
que essa organização possa continuar cumprindo sua missão
de eliminar as armas químicas com sua direção atual",
declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Richard Boucher.
Os EUA alegam que detectaram problemas de "má administração
financeira, desmoralização do pessoal da área técnica
e iniciativas equivocadas".
A posição
americana foi endossada pelos países da União Européia
(UE) e pelos do Leste Europeu que desejam fazer parte da UE. Também
foi adotada por Austrália, Canadá e Japão.
Rússia, China
e Índia defenderam o brasileiro na reunião. O embaixador
russo chegou a ironizar o pedido americano. "Essa frase [remoção
imediata" me lembra um personagem. Sabem qual é? Stálin",
disse.
Bustani rejeitou
ontem a hipótese de sua renúncia. "Ele não tem intenção
de renunciar, pois foi eleito por aclamação", disse Gordon
Vachon, assistente especial de relações exteriores da Opaq
e porta-voz de Bustani.
O Brasil fez a principal
defesa de Bustani na reunião. O pronunciamento do embaixador na
Holanda e representante do país na Opaq, Affonso Emílio de
Alencastro Massot, foi considerado bastante forte e desmobilizou ontem
a iniciativa americana de obter do Conselho Executivo uma "moção
de desconfiança" contra Bustani. Os EUA devem voltar à carga
até o fim da reunião, na sexta-feira.
"Enumerei as coisas
positivas da gestão de Bustani, dizendo que os problemas financeiros
da organização não resultavam de sua gestão.
Terminei dizendo que o Brasil se oporia a qualquer ação que
tivesse por objetivo retirá-lo de suas funções", disse
Massot.
O Brasil recebeu
em Haia indicações de dois países europeus de que
eles podem se abster na moção. Massot não quis revelar
que países seriam esses.
A Folha apurou que
os argumentos "administrativos" americanos seriam um pretexto para afastar
Bustani, cuja posição independente e favorável a um
diálogo multilateral entre os países estaria incomodando
os EUA. Ele teria cogitado fazer uma inspeção sobre produção
de armas químicas nos próprios EUA.
Bustani, 54, foi
o primeiro diretor-geral da Opaq, criada em 1997. Em 2000 foi reeleito
por aclamação (por todos os países) para um mandato
até 2005. A organização põe em prática
a Convenção sobre Armas Químicas assinada em 1993
e que prevê a destruição dessas armas até 2007.
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