......2002.03.20
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Dito
Folha de S Paulo, 02.03.20: A14
ONU
Com apoio europeu, Washington acusa José Bustani de "má administração" de órgão contra armas químicas; ele descarta renúncia
EUA pedem "remoção imediata" de diplomata brasileiro

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS


Os Estados Unidos pediram a "remoção imediata" do embaixador brasileiro José Maurício Bustani do cargo de diretor-geral da Organização para a Proscrição de Armas Químicas (Opaq), com sede em Haia (Holanda).

O pedido foi formulado ontem, durante reunião do Conselho Executivo da organização, formado por 41 de seus 143 países-membros.

"Não pensamos que essa organização possa continuar cumprindo sua missão de eliminar as armas químicas com sua direção atual", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Richard Boucher. Os EUA alegam que detectaram problemas de "má administração financeira, desmoralização do pessoal da área técnica e iniciativas equivocadas".

A posição americana foi endossada pelos países da União Européia (UE) e pelos do Leste Europeu que desejam fazer parte da UE. Também foi adotada por Austrália, Canadá e Japão.

Rússia, China e Índia defenderam o brasileiro na reunião. O embaixador russo chegou a ironizar o pedido americano. "Essa frase [remoção imediata" me lembra um personagem. Sabem qual é? Stálin", disse.

Bustani rejeitou ontem a hipótese de sua renúncia. "Ele não tem intenção de renunciar, pois foi eleito por aclamação", disse Gordon Vachon, assistente especial de relações exteriores da Opaq e porta-voz de Bustani.

O Brasil fez a principal defesa de Bustani na reunião. O pronunciamento do embaixador na Holanda e representante do país na Opaq, Affonso Emílio de Alencastro Massot, foi considerado bastante forte e desmobilizou ontem a iniciativa americana de obter do Conselho Executivo uma "moção de desconfiança" contra Bustani. Os EUA devem voltar à carga até o fim da reunião, na sexta-feira.

"Enumerei as coisas positivas da gestão de Bustani, dizendo que os problemas financeiros da organização não resultavam de sua gestão. Terminei dizendo que o Brasil se oporia a qualquer ação que tivesse por objetivo retirá-lo de suas funções", disse Massot.

O Brasil recebeu em Haia indicações de dois países europeus de que eles podem se abster na moção. Massot não quis revelar que países seriam esses.

A Folha apurou que os argumentos "administrativos" americanos seriam um pretexto para afastar Bustani, cuja posição independente e favorável a um diálogo multilateral entre os países estaria incomodando os EUA. Ele teria cogitado fazer uma inspeção sobre produção de armas químicas nos próprios EUA.

Bustani, 54, foi o primeiro diretor-geral da Opaq, criada em 1997. Em 2000 foi reeleito por aclamação (por todos os países) para um mandato até 2005. A organização põe em prática a Convenção sobre Armas Químicas assinada em 1993 e que prevê a destruição dessas armas até 2007.

 

 
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