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Obras paradas em São Paulo Csaba Deák Entrevista a Luiza Caires, 2004.12.1 Para uma matéria da revista Babel (ECA-USP) sobre obras paradas. |
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1) Nome completo, especialização, com o que trabalha atualmente. Csaba Deák, arquiteto,
professor livre-docente da FAUUSP. Leciona urbanismo e
planejamento na
graduação e na pós-graduação. 2)
Além de não fornecer o serviço para que foi
pensada para a população, qual o impacto de uma obra
parada no contexto da
cidade? Uma obra parada
evidentemente constitui um transtorno na cidade, dando a
impressão – correta—de
desleixo, abandono e desperdício dos recursos já
investidos nela. Tem o mesmo
significado para a sociedade como um todo: como foi noticiado essses
dias,
apenas 20% das estradas brasileiras estão em
condições normais de operação.
Assim, os 80%, um investimento de enorme vulto, opera abaixo da
capacidade
pela falta de investimento na mera manutenção, originando
perdas de eficiência
e, portanto, de novo, desperdício de recursos. Mas essa é
uma característica
geral da sociedade brasileira: manter suas infraestruturas
sistematicamente em
níveis e qualidade precárias. Esse é um dos meios
–além de inúmeros outros,
tais como, falta de crédito, juro alto, entreguismo levando
à desnacionalização—de
fragilização deliberada da estrutura produtiva, impedindo
o desenvolvimento e
reproduzindo o status quo da
sociedade de elite. (Deák,
1991) “Acumulação entravada no Brasil” O
sr. já ouviu falar do professor Nicolau
Fares Gualda? É um professor da Poli que afirma que o Fura-fila
tem um grave
defeito de engenharia que nunca permitirá que ele seja
concluído? O sr. já
ouviu falar em falhas de engenharia no projeto do Fura-fila? Ouvi
sim, ele
é, penso, chefe do Departamento de Transportes da Poli.
Não sei de ‘falhas de
engenharia’ do Fura-fila; mas o fura-fila é um verdadeiro crime
urbanístico (um
outro é a linha Campo Limpo-Lgo Treze
do Metrô, que liga o nada a coisa nenhuma e volta – vazio). O
vale do
Tamanduateí já constitui uma das piores barreiras na
estrutura urbana de SP, formada
pelo rio, canalizado, com suas marginais, o canal sobreelevado no
trecho próximo
ao centro, sua ocupação rarefeita constituída por
armazéns e edificações
industriais abandonados, e que isola a Zona Leste, uma
região-dormitório, da
zona Sudoeste com eixo na Paulista e alta concentração de
empregos. O trecho
que vai do Centro até a Anhaia Mello tem uns 8km de comprimento
e apenas três
travessias, uma extremamente precária. Com a
construção do fura-fila, uma
estrutura elevada, a transposição dessa barreira fica
ainda mais problemática.
O fura-fila é um meio de transporte de baixa capacidade cujo
benefício não
chega perto do transtorno causado. O Tamanduateí precisa de
estruturas que o
transpõem, ao iinvés de correr ao longo dele. (Deák,
1997) “EIA do VLP”
A
Linha 4, que
eu chamaria de Pinheiros, deveria ter sido a terceira linha após
a Norte-sul e
a leste-oeste (esse que nunca chegou ao oeste). Em vez, foi
construída a Linha
Paulista, e na hora de começar finalmente a Pinheiros, a
construçao do Metrô
parou de vez (1989) –e não foi por ‘por problemas
jurídicos e de licitação’-- por
quase dez anos (!). E quando recomeçou, foi para construir o
“rabecó”, o trecho
já mencionado no Campo Limpo perdida na periferia, isolado do
resto da rede e
inteiramente inútil. (Deák,
1990) “Elementos
de
uma política de transportes para SP”
Nesse caso o prejuízo
é bem menor --incomparavelmente menor--, tratando-se de casos
isolados e de
pouca monta. Trata-se muitas vezes de obras irregulares que não
obedecem às
prescrições de uso do solo e por isso embargadas; outras
vezes resultam da
falência do empreendedor.
Só mudando a
sociedade – o que é tarefa para forças e antagonismos
sociais, não para
indíviduos... Mas tais forças resultam de
ações concretas individuais e cabe a
cada um trabalhar nesse sentido, cada qual em sua área. O bom
jornalismo
certamente pode(ria) contribuir muito. |