Observações
Pano de fundo (do neoliberalismo):
Expansão do Estado, países selecionados
Só para lembrar
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Folha S Paulo, 2009.4.22:A3
A lenda do Estado inchado
CÂNDIDO VACCAREZZA
Nossa
máquina pode padecer de outros males, mas não está
inchada em comparação com países ricos como
Suécia e França
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UMA DAS recorrentes acusações da oposição
contra o governo Lula
refere-se ao suposto aparelhamento e inchamento do Estado. A
distorção
é motivada pela guerra política, em que a verdade
é a primeira vítima.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) acaba de
publicar
pesquisa comparativa sobre as dimensões das máquinas
públicas de
diferentes países. Os resultados desmentem a lenda de que o
Estado
nacional tem excesso de pessoal.
O governo entende como essencial o resgate do papel do Estado na
promoção do desenvolvimento social e econômico do
país. A prática faz
ainda mais sentido agora, com o ressurgimento do neokeynesianismo. A
defesa do Estado mínimo soa totalmente antiquada, sobretudo
depois das
decisões tomadas na reunião do G20.
O dados do Ipea desmontam as teses de quem defende o desmonte do Estado
brasileiro.
No trabalho "Emprego Público no Brasil: Comparação
Internacional e
Evolução Recente", do Ipea, usou-se metodologia em que se
define o
conceito de emprego público na sua forma mais ampla, consagrada
pelas
publicações da OCDE. Isto é, no estoque do emprego
público, incluem-se
não apenas os trabalhadores da administração
direta em todas as esferas
de governo, mas também as ocupações da
administração indireta e os
empregados de empresas estatais.
Por esse critério, em 2005, o total da mão de obra
empregada no serviço público era 39,2% na Dinamarca,
30,9% na Suécia, 24,9% na França, 14,8% nos EUA, 14,7% na
Alemanha e apenas 10,7% no Brasil. Nossa máquina pode padecer de
outros males, mas não está inchada em
comparação com esses países ricos. Tampouco em
relação aos nossos vizinhos da América Latina
podemos ser considerados um Estado inchado: estamos atrás de
países como Costa Rica, Venezuela, Uruguai, Argentina e Paraguai.
O governo FHC levou à demissão milhares de
funcionários de estatais, principalmente por meio da
privatização, e não recuperou vagas. Em seus oito
anos de governo, por exemplo, as escolas técnicas federais foram
reduzidas e levadas ao sucateamento.
O governo Lula as resgatou, a educação passou a ser
prioridade. Até
2002, o Brasil tinha 140 escolas técnicas, instaladas ao longo
de 93
anos. Desde a posse de Lula, foram implantadas 75 novas escolas
técnicas e, até o fim de 2010, terão saltado para
354 unidades,
expansão de 150%. Ninguém pode discordar de que é
preciso contratar
professores e funcionários.
O Brasil contava, em agosto de 2008, com 1.007.226 servidores ativos
civis e militares da União, pelo critério da OCDE. Quando
contabilizados apenas os servidores civis do Poder Executivo federal na
ativa, chegava-se a 533.434 servidores. É verdade que a curva de
redução de servidores federais ativos, iniciada em 1990,
foi
interrompida em 2003. Mas o quantitativo de 2008 é semelhante ao
total
de servidores civis do Poder Executivo federal ativos em 1997 (531.725)
e consideravelmente inferior aos 705.548 ativos de 1988.
Os gastos com pessoal ativo e inativo da União de 1995 a 2008
(dados referentes apenas ao orçamento fiscal e da seguridade
social, ou seja, excluídas as despesas das estatais federais)
mostram que as variações foram pequenas e as despesas
estão em queda.
Com efeito, a União gastava, em 1995, 5,34% do PIB. Em 2002,
esse gasto
representou 5,08% do PIB e, no ano passado, 4,66% do PIB. Há uma
tendência declinante, ainda mais significativa ao considerar que
o
governo Lula restabeleceu a prática da realização
de concursos
públicos, com substituição de terceirizados por
servidores efetivos, a
fim de dar eficiência ao serviço público e
transparência aos métodos de
contratação.
O quadro positivo não demonstra, porém, inexistirem
problemas no serviço público. Pelo contrário.
Muito tem que ser feito em matéria de aumento da
eficiência dos serviços prestados e de aumento da sua
oferta. Em setores vitais como saúde, educação e
segurança novas contratações precisam ser feitas
com urgência.
É necessário ressaltar que o esgotamento do modelo
neoliberal em todo o mundo impõe uma maior presença do
Estado na economia, desde que sejam evitadas as práticas do
patrimonialismo e da privatização do Estado, como ocorreu
no governo do PSDB e PFL (atual DEM). No período FHC, a
máquina pública era extensão dos interesses
privados, tanto de membros do governo como de seus apoiadores.
O Brasil conseguiu sobreviver, pelo menos em parte, à ofensiva
da era Thatcher-Reagan. A sociedade reagiu e evitou que o
neoliberalismo nos levasse ao desastre completo. Por isso, o
país tem hoje instrumentos para enfrentar a crise internacional.
O desafio foi dar um salto do período em que o Estado
mínimo era a ideologia dominante para outro modelo, em que se
busca recuperar a estrutura, com mais eficiência à
máquina pública.
CÂNDIDO
VACCAREZZA , 53, médico, é deputado federal pelo
PT-SP e líder do partido na Câmara dos Deputados.
Os artigos publicados com assinatura
não traduzem a
opinião do jornal. Sua publicação obedece ao
propósito de estimular o
debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas
tendências do pensamento contemporâneo
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