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  Indústria de ponta | Energia

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Observações


























































São Paulo, sábado, 13 de julho de 2002

O quadro que se tem hoje é o das Forças Armadas nas mãos da Embratel, assim como todo o sistema de comunicação por televisão e a comunicação de dados do governo.
   

A Embratel e o interesse nacional

LUIZ NASSIF

 

A guerra da Embratel contra o modelo de comunicações brasileiro já está chegando a um limite quase irreversível de esgarçamento. Independentemente do controle, a Embratel foi formada dentro de uma cultura nacional, como uma das empresas símbolo da modernização brasileira.

 

A história da moderna telefonia brasileira remonta a 1963, com a criação do Código Brasileiro de Telecomunicações. Depois, com a criação do Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações). Em 1965 foi criada a Embratel, que teve para as comunicações brasileiras -guardadas as devidas proporções- importância similar à do marechal Cândido Rondon.


Em 1967, o governo federal criou o Serviço Nacional de Telecomunicações, a Telebrás, e deu início ao processo de montagem de uma rede nacional de operadoras fixas, adquirindo teles estaduais e municipais. A jóia da coroa nunca foram as teles, em geral submetidas a indicações políticas locais e nacionais e apenas preocupadas com a telefonia fixa.

 

De 1972 a 1979, coube à Embratel consolidar a rede básica, implantar o DDD nacional, o sistema de microondas, integrar a Amazônia, trazer a Copa do Mundo, possibilitar a criação das redes de emissoras de televisão, ser a primeira empresa brasileira a entrar na área de telecomunicações, na tecnologia de ponta, nos satélites.


Nesse período, ela soube se colocar a salvo das demandas políticas e consolidar uma estrutura profissionalizada, em grande parte devido ao fato de ter ficado sob a guarda de militares, preocupados com o conceito de segurança nacional, com o desenvolvimento da tecnologia nacional.


Na época da privatização, o próprio ministro das Comunicações, Sérgio Motta, ficou em dúvida sobre privatizar a empresa. Depois, se pensou na criação de uma "golden share" (ação especial com direito a veto). Acabou não se fazendo nada.


O quadro que se tem hoje é o das Forças Armadas nas mãos da Embratel, assim como todo o sistema de comunicação por televisão e a comunicação de dados do governo. E o que se tem na outra ponta? Vários problemas envolvendo a Embratel, todos eles ligados ao seu estilo de governança.


A agressividade de sua controladora, a WorldCom, se manifestou na maneira de se relacionar com a herança pública que recebeu dos tempos de estatal. Ameaçou cortar sinal de TVs educativas e até o do Exército, um ano atrás, por falta de pagamento, não cuidou de criar vínculos com a comunidade nacional.


Mais que isso, a expansão mundial da WorldCom se deu explorando as brechas legais dos novos sistemas de telecomunicações que eram montados nos diversos países. Tornou-se especialista em apelar para expedientes legais e
financiamento maciço, em vez de se especializar em visões estratégicas e mercadológicas dos novos setores.


De orgulho nacional, hoje a Embratel é vista como empresa multinacional desagregadora, inclusive investindo contra o maior avanço do período para o setor, a criação de uma agência de regulação independente e que necessita ficar a salvo de ingerências políticas, e o próprio modelo de privatização das telecomunicações.


Sua controladora está prestes a ruir. Independentemente do que ocorra, de quem sejam os próximos controladores, a Embratel tem que reconstruir sua personalidade corporativa, integrar-se de novo ao país, recuperar parte da sua imagem e de sua história. Voltar a ser brasileira, enfim.



E-mail - lnassif@uol.com.br


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