Observações
Até aí,
nada dito (morreu Neves)
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São Paulo,
terça-feira, 28 de abril de 2008
LUIZ PINGUELLI ROSA
Desafios na energia
O Itamaraty
deve chegar a bom termo na negociação de Itaipu, como fez
no caso do gás natural boliviano |
O
PAÍS enfrenta o estigma imputado aos biocombustíveis como
responsáveis pela alta dos preços dos alimentos no mundo,
que afeta as populações pobres. Partindo do FMI (Fundo
Monetário Internacional), essa informação
não tem muita credibilidade, já que sua política
de ajuste das economias dos países em desenvolvimento agravou a
pobreza.
É possível expandir a produção de
álcool no Brasil. A lavoura da cana ocupa 7 milhões de
hectares, dos quais 3 milhões de hectares para
açúcar e 4 milhões de hectares para álcool,
enquanto só a soja, a maior parte para exportação,
ocupa 23 milhões de hectares. Segundo o IBGE, temos 152
milhões de hectares de área agricultável, dos
quais são utilizados 62 milhões de hectares, e há
177 milhões de hectares de pastagens. Excluídos os 440
milhões de hectares de florestas nativas, dispõem-se de
90 milhões de hectares para expandir a agricultura sem
desmatamento. Apenas uma parte dessas áreas é adequada
à cana e é econômica e socialmente viável
para biocombustíveis, como álcool e biodiesel. Este
último em grande parte vem da soja, que, ao contrário da
cana, pressiona o desmatamento na Amazônia.
O álcool de milho nos EUA é subsidiado e, diferentemente
do brasileiro,
afeta o preço do grão e se reflete em outros alimentos.
Ademais, a cana
captura CO2 do ar no seu crescimento, igualando aproximadamente a
emissão na produção e no consumo do álcool.
Logo, ao substituir a
gasolina, evita emissões de CO2, que contribuem para o
aquecimento
global. O mercado internacional crescerá se forem removidos os
subsídios nos países ricos. Os EUA consomem um pouco mais
de álcool
automotivo que o Brasil, mas o percentual dele na gasolina é
baixo. Seu
consumo de gasolina é de 580 bilhões de litros por ano.
Esse percentual
deve aumentar para 20%. Considerando 1,3 litro de álcool para
cada
litro de gasolina,
daria algo como 150 bilhões de litros ao ano de
álcool, oito vezes mais do que a atual produção
brasileira, de 18
bilhões de litros por ano. Levará um tempo para isso e o
Brasil poderá
exportar mais álcool, mas não é razoável
suprir todo esse mercado.
Outro desafio na área energética é negociar o
pleito do presidente Fernando Lugo, eleito no Paraguai, em
relação a Itaipu Binacional, que tem dívida de US$
19 bilhões com a Eletrobrás e com o Tesouro brasileiro.
Foi o Brasil que construiu a usina e obteve seu financiamento.
Essa dívida é amortizada pela tarifa paga pelos
consumidores, que na sua maciça maioria são brasileiros.
Metade da energia gerada por Itaipu pertence ao Brasil e metade ao
Paraguai, que consome cerca de 5% dela. Pelo acordo, a
Eletrobrás compra os restantes 95%, pagando um valor que por
muitos anos era alto.
Uma cota compulsória da energia de Itaipu teve de ser
estabelecida no governo Geisel para empresas elétricas
brasileiras. Hoje não é mais cara, comparativamente, pois
a energia elétrica no Brasil subiu de preço desde as
privatizações. A energia de Itaipu custa US$ 42 o MWh
(megawatt-hora), preço semelhante ao previsto para a
geração pela hidrelétrica de Santo Antônio,
a ser construída no rio Madeira (R$ 78 o MWh). O Itamaraty deve
chegar a bom termo na negociação, como fez no caso do
gás natural boliviano.
O que não deverá ser admitido é que a energia
possa ser colocada no mercado para a Argentina e o Chile, perdendo o
Brasil o direito de dispor dela por meio da Eletrobrás. Itaipu
supre cerca de 19% da energia elétrica do país.
LUIZ PINGUELLI ROSA ,
66, físico, é diretor da Coppe-UFRJ
(Coordenação
dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da
Universidade Federal do
Rio de Janeiro) e secretário do Fórum Brasileiro de
Mudanças
Climáticas. Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).
É autor do livro
"Tecnociências e Humanidades".
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