Déficit
da indústria de eletroeletrônicos chega a US$ 10 bi
Resultado é recorde para um
semestre; setor espera que a queda das commodities desvalorize
câmbio e facilite as exportações
Associação vê
sinais de desindustrialização e queda nos investimentos
em razão do desempenho mais fraco das vendas externas
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
A indústria de eletroeletrônicos
conta com a
trajetória de queda nos preços das commodities para poder
minimizar o déficit na balança comercial do setor, que
atingiu recorde no primeiro semestre deste ano. A expectativa é
que esse movimento inverta o ciclo de apreciação cambial,
beneficiando as vendas externas do segmento.
Como resultado da valorização do
câmbio nos
últimos seis meses, a
indústria de eletroeletrônicos acumulou saldo negativo de
US$ 10,3
bilhões no período. Segundo a Abinee
(Associação Brasileira da
Indústria Elétrica e Eletrônica), o setor deve
fechar este ano com um
rombo de US$ 23,4 bilhões. Se confirmado, o déficit
será 58,11% maior
do que o apurado em 2007 (US$ 14,8 bilhões).
Só no primeiro semestre, o dólar
passou por uma
desvalorização da ordem de 17% ante o real, o que levou a
Abinee a revisar os números da balança comercial, agora
com um rombo ainda mais acentuado.
Nos últimos dez dias, porém, a
moeda norte-americana
valorizou-se em 4,10% ante o real, fechando ontem a R$ 1,6260.
O presidente da Abinee, Humberto Barbato, espera
que a tendência
se mantenha. "Se a cotação das commodities cai, como
temos visto, isso faz com que o real se desvalorize em
relação ao dólar. Isso pode propiciar um ajuste do
câmbio", diz.
Barbato diz não ser possível dizer
até quando o
déficit da balança é sustentável. "Mas
temos que trabalhar para diminuir isso o quanto antes."
Para o coordenador do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento
Industrial), Julio Gomes de Almeida, a indústria acalenta a
esperança de que o longo ciclo de valorização
cambial tenha chegado ao fim. "Mas, se é algo que veio para
ficar, ainda é difícil dizer", afirma. Ele pondera que
existem outras forças agindo no sentido contrário.
"De um lado, os Estados Unidos praticam uma
política de juros
baixos, o que favorece a desvalorização do dólar.
E, de outro, o Brasil optou pela elevação da taxa de
juros, o que provoca apreciação do real", afirma o
economista.
Por conta da valorização cambial,
diz Almeida, alguns
setores -como o calçadista, o têxtil e o de madeira-
registraram perda de produção no segundo trimestre deste
ano.
Barbato, da Abinee, teme que o mesmo venha a
acontecer com a
indústria eletroeletrônica. Ele já aponta sinais de
desindustrialização e queda nos investimentos das
empresas em razão do desempenho mais fraco das
exportações.
Para o presidente da Abinee, a
produção no segmento de
eletrônicos portáteis passa por um ritmo de
produção menor.
Política industrial
O setor de eletroeletrônicos ainda
não conseguiu se
beneficiar da política industrial do governo, anunciada
há três meses, diz Barbato.
Segundo ele, falta ainda a
implementação do "drawback"
(isenção do Imposto de Importação para
componentes de mercadorias que são posteriormente exportadas) e
da lei de inovação tecnológica.
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