Empresas
sabotam
estudo de transgênicos, diz grupo
Monsanto, Syngenta e
DuPont vetam uso de planta em pesquisa independente
Agricultores
que compram sementes modificadas têm sido impedidos de
fornecer amostras a cientistas, diz relatório enviado à
agência
ANDREW POLLACK
DO "NEW YORK TIMES"
Empresas de biotecnologia estão impedindo
cientistas
independentes de pesquisar a eficácia e o impacto ambiental de
plantações geneticamente modificadas, afirma um
relatório encaminhado ao governo americano por um grupo de 26
pesquisadores de universidades.
"Nenhuma investigação independente
pode ser conduzida de
forma legal em muitas questões críticas", escreveram os
cientistas na declaração apresentada à EPA
(Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos),
que está recolhendo opiniões para pautar uma série
de encontros científicos que realiza nesta semana sobre
transgênicos.
A declaração vai provavelmente dar
força aos
críticos dessas
plantações, como grupos ambientalistas que há
muito queixam-se de que
transgênicos não têm sido suficientemente estudados
e que poderão ter
consequências inesperadas à saúde e ao ambiente.
Os autores do novo manifesto, especialistas em
insetos de milharais,
não divulgaram seus nomes porque receavam ser cortados de
pesquisas pelas empresas. Mas vários deles concordaram em dar
entrevistas e ter seus nomes utilizados.
O problema, dizem os cientistas, é que os
agricultores e outros
compradores de sementes geneticamente modificadas têm de assinar
um acordo para garantir que honrarão os direitos de patentes e
os regulamentos ambientais. Mas os acordos também proíbem
o cultivo das culturas para fins de pesquisa.
Permissão negada
Dessa forma, enquanto cientistas de universidades
podem comprar
livremente pesticidas ou sementes convencionais para suas pesquisas,
não podem fazer o mesmo com sementes geneticamente modificadas.
Em vez disso, devem solicitar
autorização das empresas de
sementes. E, às vezes, a permissão é negada ou a
empresa insiste em rever as conclusões antes de poderem ser
publicadas, afirmam os pesquisadores.
Esses acordos são problemáticos
há muito tempo,
mas os cientistas disseram ter ido a público agora porque suas
frustrações foram se acumulando.
"Se as empresas podem controlar a pesquisa, elas
podem esconder
possíveis problemas que apareceriam em qualquer estudo", diz Ken
Ostlie, professor da Universidade de Minnesota, um dos cientistas que
assinaram a declaração.
O mais surpreendente é que os cientistas
que fizeram o protesto
-a maioria deles afiliados a universidades com grandes programas em
agrociências- dizem não ser opositores do uso da
biotecnologia.
Entretanto, dizem, a asfixia provocada pela
indústria sobre as
pesquisas faz com que eles não possam fornecer algumas
informações para os agricultores sobre a melhor maneira
de cultivar as lavouras.
E, afirmam, os dados fornecidos a
órgãos reguladores do
governo estão sendo "indevidamente limitados". As empresas
"têm o potencial de maquiar os dados, a informação
que é submetida à EPA", afirma o entomologista Elson J.
Shields, da Universidade Cornell.
Licença interrompida
Os acordos da Syngenta com os agricultores
não só
proíbem a pesquisa em geral mas também dizem que um
comprador de semente não pode comparar um produto da empresa com
qualquer outra cultura rival.
Ostlie, conta que, ainda em 2007, tinha
permissão de três
empresas para comparar a maneira com que as variedades de milho
resistentes a insetos se saíam contra uma larva de besouro que
ataca a cultura.
Mas, em 2008, a Syngenta, uma das três
empresas, retirou sua
permissão, e seu estudo precisou parar. "A empresa decidiu que
não era de seu interesse deixar que a pesquisa continuasse",
afirmou.
Chris DiFonzo, da Universidade Estadual de
Michigan, disse que, quando
conduz suas pesquisas em insetos, evita entrar em campos com culturas
transgênicas porque sua presença faria com que os
agricultores violassem os acordos e ficassem sujeitos a processo.
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