Pais
projeta super-reator nuclear
Obra
de US$ 500 milhões poderá tornar o Brasil independente na
produção de isótopos radioativos
Além do uso em medicina nuclear, equipamento que será
montado em Aramar (SP) fará parte do programa nacional de
energia atômica
RAFAEL GARCIA
Técnicos do governo federal estão
detalhando o projeto
daquele que será o maior reator nuclear de pesquisa da
América Latina. Orçado inicialmente em US$ 500
milhões, o Reator Multipropósito Brasileiro tem o
objetivo de tornar o país independente na produção
de isótopos radioativos para medicina.
O reator, de 20 megawatts (quatro vezes a
potência do principal
instrumento do gênero em operação no Brasil),
deverá começar a ser montado em 2010. Segundo seu
coordenador, José Augusto Perrotta, do Ipen (Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares), o sítio mais
provável é Aramar (SP), onde a Marinha constrói
seu submarino nuclear.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio
Rezende, disse estar
inclinado a bancar o projeto. "US$ 500 milhões
distribuídos em 6 ou 7 anos não é um número
despropositado para o MCT. Já foi um dia, hoje não
é mais", disse Rezende à Folha. "Mas é importante
ter outros parceiros, e o governo de São Paulo já
manifestou interesse."
São Paulo abriga hoje, no campus da USP,
dois dos quatro
reatores de pesquisa do Brasil. O maior deles é usado para
produzir radioisótopos (versões radioativas de elementos
químicos)
Na medicina, são usados em
radiofármacos, que têm
diversas aplicações. A maioria é usada como
marcador em exames diagnósticos. Mas também, podem atacar
tumores.
Hoje, no Brasil, são feitas todo ano 3,5
milhões de
aplicações de
radiofármacos. Os dois isótopos mais utilizados
são o iodo-131, para
diagnóstico de distúrbios de tireoide, e o
tecnécio-99. Este último é
polivalente: pode ser usado em fármacos para diagnóstico
de cânceres e
outras doenças no coração, cérebro,
fígado e nos ossos. O tecnécio é
derivado do molibdênio-99, que é importado. E aqui mora o
problema.
Primeiro, o de custo. Segundo Perrotta, o
país importa R$ 32
milhões por ano em molibdênio (e R$ 40 milhões por
ano em outros isótopos). Com o reator multipropósito em
funcionamento, a estimativa do Ipen é passar a faturar
até R$ 37 milhões por ano só com molibdênio,
e até R$ 25 milhões por ano com iodo-131. Além de
dobrar o número de atendimentos em medicina nuclear.
Mas há um fator que a Cnen
(Comissão Nacional de Energia
Nuclear) diz considerar mais premente para motivar a
construção do novo reator: o fornecimento de
molibdênio é incerto. Só o Canadá, a Holanda
e a África do Sul produzem o elemento em quantidade
significativa. E, no último dia 19, a empresa canadense MDS
Nordion, que fornece a maioria do molibdênio ao Ipen, anunciou a
parada do reator que responde por 40% do fornecimento mundial do
isótopo.
Programa nuclear
O novo reator também teria uma
aplicação um pouco
menos bem vista: ele deverá ser parte integrante do programa
brasileiro de energia nuclear.
Após Angra 3, o governo planeja fazer mais
quatro usinas. Hoje o
Brasil fabrica o próprio combustível nuclear e importa
uma série de materiais, mas a expansão do programa
demandará investimentos em mais tecnologia nacional. "A
tecnologia de combustível nuclear depende de um reator desses",
afirma Perrotta.
O dirigente, também, afasta as
preocupações com
proliferação atômica. O combustível para o
novo reator terá 20% de urânio enriquecido, limite
além do qual qual é possível fabricar uma bomba.
"Todas as instalações nucleares do
Brasil estão
sob inspeção internacional da AIEA [Agência
Internacional de Energia Atômica]. Não há
dúvida quanto às intenções do país",
diz.
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