TENDÊNCIAS/DEBATES
A China na conferência de Copenhague
QIU XIAOQI
A
questão das mudanças climáticas é, na sua
essência, sobre
desenvolvimento, e as negociações são sobre
direitos ao desenvolvimento
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COM A 15ª Conferência das Partes da
Convenção das Nações Unidas
(COP-15), as negociações internacionais sobre a
questão das mudanças
climáticas encontram-se na sua fase crucial. Notei que a
mídia
brasileira tem feito muitas reportagens sobre o encontro em Copenhague.
Sendo o maior país em desenvolvimento do mundo, a China se torna
alvo
da ampla atenção em relação à sua
posição na conferência.
A mudança climática é um grande
desafio para a sobrevivência e o desenvolvimento da humanidade. O
enfrentamento adequado da questão diz respeito ao bem-estar e ao
desenvolvimento de longo prazo dos povos do mundo inteiro.
Sendo um país em desenvolvimento
responsável, a China defende o enfrentamento conjunto da
mudança climática por meio de cooperação
internacional pragmática e efetiva.
O governo chinês já definiu as metas voluntárias
para ações de controle da emissão de gases de
efeito estufa e decidiu que, até 2020, a emissão de
dióxido de carbono por unidade do PIB será reduzida entre
40% e 45% em relação a 2005, o consumo da energia
não fóssil corresponderá a 15% do consumo
primário da energia e a extensão e a reserva de florestas
aumentarão respectivamente em 40 milhões de hectares e
1,3 bilhões de metros cúbicos em relação a
2005.
Essas metas refletem os máximos esforços dentro do
alcance da China e carregam a vontade mais sincera do 1,3 bilhão
de chineses para o engajamento no enfrentamento global das
mudanças climáticas.
As metas de ação da China não
apenas correspondem às exigências do Mapa do Caminho de
Bali sobre as ações de mitigação para os
países em desenvolvimento mas também demonstram
plenamente que o governo chinês está tomando medidas
concretas para que o mapa alcance progresso e que se consiga, na
conferência de Copenhague, um resultado positivo.
A China ainda é um país em
desenvolvimento: seu desenvolvimento está num nível
não elevado no conjunto e restam árduas tarefas para
desenvolver a economia, erradicar a pobreza e elevar o nível da
vida do povo.
As metas voluntárias definidas pela China nos impõem
grandes desafios e, para concretizá-las, é preciso
enfrentar vários tipos de dificuldades.
Apesar disso, vamos tomar todas as medidas
possíveis para garantir a sua implementação.
A questão da mudança climática
é uma questão de desenvolvimento na sua essência, e
a natureza das negociações em Copenhague é a
negociação de direitos ao desenvolvimento. A
mudança climática é originária dos
países desenvolvidos, pelas suas emissões sem controle de
gases de efeito estufa durante sua industrialização.
Esses países são responsáveis por 80% da
emissão total de CO2 acumulada na atmosfera de 1750 a 2005.
Até hoje, os países desenvolvidos, com
20% da população total do mundo, emitem 55% dos
gases-estufa.
Porém, alguns países desenvolvidos, ignorando a sua
responsabilidade histórica e os fatos, exigem que os grandes
países em desenvolvimento também arquem com as
responsabilidades da redução obrigatória das
emissões, o que não pode convencer ninguém.
A posição da China permanece a seguinte:
persistir no regime básico estabelecido pela
Convenção-Quadro da ONU sobre as Mudanças
Climáticas e pelo Protocolo de Kyoto e no princípio de
"responsabilidades comuns, porém diferenciadas" -os
países ricos devem assumir a redução de
emissões no prazo médio de forma substancial e
quantificada, e os países em desenvolvimento devem fazer
esforços para mitigar tanto quanto possível as
emissões de gases-estufa e se adaptar às mudanças
climáticas de acordo com suas condições, com o
apoio financeiro e a transferência de tecnologia dos
países desenvolvidos.
Nesse sentido, é preciso criar mecanismos
institucionais eficazes para promover a transferência de
tecnologia ambiental e climática para os países em
desenvolvimento e aumentar a capacidade dos países em
desenvolvimento para enfrentar as mudanças climáticas.
Queria salientar que os países em
desenvolvimento somente conseguem salvaguardar efetivamente os seus
próprios interesses na COP-15 quando fortalecem a
confiança mútua, o consenso e a solidariedade entre si e
lutam lado a lado. Tanto a China como o Brasil são grandes
países em desenvolvimento.
Ambos compartilham as mesmas visões,
preocupações e exigências quanto à
questão da mudança climática e salvaguardam em
conjunto os interesses comuns dos países em desenvolvimento. A
parceria estratégica entre os dois países tem sido
refletida nessa questão.
Recentemente, a China e o Brasil anunciaram, por coincidência, as
suas medidas voluntárias da redução de
emissões e metas indicadoras -e ganharam apreço
internacional.
O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao,
estará na COP-15. A China está disposta a desempenhar um
papel construtivo para promover o sucesso da conferência em
Copenhague. Vamos fazer esforços conjuntos para garantir um
mundo ainda melhor para os nossos filhos e netos.
QIU XIAOQI
é embaixador da China no Brasil.
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