Observações
Inteiramente verdade...
... a questão é porque.
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China: copiar sem se submeter
LUIZ
CARLOS BRESSER-PEREIRA
O Brasil poderia crescer a taxa duas
vezes maior se addministrasse os juros e o câmbio como os
chineses
ESCREVO ESTE artigo ainda sob o impacto que me causou a viagem à
China. Quando escrevi minha última coluna nesta Folha,
há duas semanas atrás, eu havia visto apenas Pequim, que
já me impressionara, mas o espanto começou quando cheguei
a Xian, antiga capital do Império Chinês onde foi
descoberto o exército de terracota que o imperador que unificou
a China em 221 AC mandou enterrar junto com ele.
É uma cidade de 7,5 milhões de
habitantes. Uma cidade em
construção. No caminho do aeroporto moderníssimo
para o centro da cidade vi centenas de imensos prédios sendo
construídos. Quase todos de 35 andares com quatro apartamentos
por andar de cerca de 90 m2 e ar condicionado central.
Nas demais cidades médias que visitei,
Guilin, Hangzhow, e na
grande Xangai, novamente um desenvolvimento econômico espantoso:
grandes e modernos aeroportos, estradas muito boas, avenidas largas e
arborizadas, cidades radicalmente renovadas, estação de
trens bala conjugada com aeroporto e metrô em Xangai,
automóveis caros e novos nas ruas, grandes lojas de todas as
grifes mundiais, e prédios de escritório
belíssimos, mais impressionantes do que os de Chicago.
Nada é mais moderno que a China que eu vi.
Literalmente destruiu
tudo o que era de pouco valor, e reconstruiu de acordo com uma
lógica iniciada pelo Japão no final do século 19 e
retomada pela China na segunda metade do século 20: copiar sem
se submeter; modernizar tudo sem aceitar "conselhos" dos mais modernos.
Para superar a humilhação sofrida
no século 19
quando foram submetidos ao imperialismo ocidental, esses dois grandes
povos compreenderam que era preciso copiar as
instituições e a tecnologia ocidentais, ou seja, que era
preciso fortalecer a nação, dotá-la de um Estado
moderno, realizar a revolução industrial, e garantir o
bom funcionamento de mercados regulados -as quatro
condição de uma estratégia nacional de
desenvolvimento ou de competição internacional.
Fiquei tão impressionado com o
desenvolvimento econômico
chinês (não o político) que decidi fazer um
cálculo: quantas vezes cresceram China e Brasil entre 1980 e
2010?
Dado um crescimento anual do PIB, de 10,06 % na
China e 2,55% no
Brasil, a renda brasileira cresceu 1,3 vezes (pouco mais que dobrou)
enquanto que, em 2010, a chinesa era 16,7 vezes maior do que em 1980!
Nos últimos dez anos o Brasil melhorou seu
desempenho, mas
enquanto na China a taxa anual de crescimento da indústria
é hoje de 32% (!), no Brasil vemos lenta
desindustrialização e a consideramos "natural". Antes,
vítimas do complexo de inferioridade colonial, nos
curvávamos à Inglaterra e à França, depois,
aos Estados Unidos, agora nos curvamos à China: aceitamos como
"destino" fornecer-lhe commodities.
Quando digo que poderíamos crescer a uma
taxa duas vezes maior
se tivéssemos uma estratégia nacional de desenvolvimento,
se decidíssemos (principalmente mas não apenas)
administrar os juros e o câmbio como fazem os chineses, as
pessoas me olham entre surpresas e desconfiadas.
É o sinal da aceitação da
derrota perante
concorrentes "melhores" e "mais modernos" -uma derrota que a China
recusou e, por isso, assombra o mundo.
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