Envio de lucros ao
exterior atinge recorde
Com aumento de 39% nas remessas e
queda do saldo comercial, contas externas têm pior resultado
desde outubro de 98
Déficit nas
transações correntes soma US$ 10,8 bi até
março, próximo do
saldo negativo de US$ 12 bi que o BC prevê para o ano todo
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As remessas de lucros para o exterior voltaram a bater recorde no
mês passado, chegando a US$ 4,345 bilhões e superando em
39% a marca anterior, que havia sido alcançada em dezembro do
ano passado. Isso fez com que as contas externas do Brasil atingissem
seu pior resultado em quase dez anos, segundo o Banco Central.
No mês passado, a
conta de transações correntes -que contabiliza a compra e
a venda de bens e serviços com outros países- ficou
negativa em US$ 4,429 bilhões, o maior déficit desde
outubro de 1998. Foi o sexto mês consecutivo em que esse
indicador ficou no vermelho, o que não acontecia desde 2002.
As
transações correntes são formadas por
balança comercial (exportações
menos importações), balança de serviços
(pagamento de juros da dívida
externa, gastos com viagens internacionais, remessas de dividendos ao
exterior, entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro
enviado
ao Brasil por residentes no exterior, e vice-versa).
O Brasil contabilizou um
superávit nessa conta entre 2003 e 2007, graças ao
desempenho da balança comercial. Mas o cenário mudou
neste ano: no primeiro trimestre, essa conta teve um déficit
recorde de US$ 10,757 bilhões, próximo do saldo negativo
de US$ 12 bilhões que o Banco Central prevê para o ano
todo. O mercado já trabalha com déficit de US$ 16,6
bilhões para o ano, segundo pesquisa feita pelo BC.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a volta do déficit
nas contas externas já era esperada. "Os números mostram
uma certa deterioração no resultado de
transações correntes neste início de ano. É
um quadro de menor saldo comercial e remessas de lucros bem mais
elevadas", afirma.
Para Lopes, o
crescimento no envio de dividendos ao exterior não preocupa,
pois indica que as empresas que atuam no Brasil estão tendo
ganhos também elevados. "Se não estivessem tendo lucro,
não iriam remeter [para fora do país]."
Riscos
O economista José Luiz Rossi Júnior, professor do Ibmec
São Paulo, diz que o saldo negativo nas contas externas
não deve ser problema, desde que a economia continue crescendo
para atrair capital estrangeiro suficiente para financiar esse
desequilíbrio. "Um país que espera ter um crescimento
alto normalmente apresenta déficit em transações
correntes", diz, referindo-se à necessidade que um país
em desenvolvimento costuma ter em importar máquinas e receber
empréstimos para financiar sua expansão.
Rossi também cita
as elevadas reservas em moeda estrangeira que o
Brasil possui atualmente -cerca de US$ 195 bilhões- como um
seguro
adicional que pode ajudar o país a enfrentar algum problema que
surja
para financiar seu déficit externo.
Já a economista
Adriana Dupita, da LCA Consultores, afirma que, caso o
déficit em transações correntes fique
insustentável, é possível contar
também com um ajuste na taxa de câmbio. Ou seja, se o
rombo for muito
grande, uma desvalorização do real ajudaria a estimular
exportações e,
assim, equilibrar as contas externas.
"Se
vai ter superávit ou déficit [em transações
correntes], não é o mais importante. Importante é
se o Brasil vai continuar recebendo dólares para financiar isso",
afirma Dupita.
Segundo ela, mesmo num cenário externo mais incerto, os juros
altos praticados no país e a expectativa de uma elevada taxa de
crescimento econômico nos próximos anos devem continuar
atraindo investimentos tanto financeiros quanto produtivos, ajudando a
financiar o déficit
externo que é esperado de agora em diante.
|