Editoriais
Aparelho
submarino
Governo Lula se
vale da desinformação a que submete a sociedade e trama
criar estatal para gerir campos de petróleo
O GOVERNO Lula já decidiu, informou no
domingo esta Folha,
que não transformará a nova província
petrolífera do pré-sal num
monopólio da Petrobras. A notícia representa
alívio na melhor das
hipóteses parcial para quem teme um retrocesso na
regulação do setor,
sob o pretexto de lidar com as promissoras perspectivas abertas pelos
campos ultraprofundos.
De fato, desde os primeiros rumores acerca da
descoberta, a estatal
lançou-se numa campanha para recuperar o direito exclusivo de
exploração, quebrado por emenda à Carta em 1995.
Nessa batalha de
gabinetes, abusou-se da disseminação interessada de
boatos -sempre no
sentido de sustentar um clima ufanista, como se a economia do Brasil
estivesse diante de um acontecimento revolucionário.
Ainda que as expectativas mais exuberantes de
reservas
petrolíferas fossem materializadas, seria um equívoco
devolver o monopólio à Petrobras. A
alteração diminuiria o potencial de investimento nos
campos, cuja exploração requer altíssimo aporte de
capital. Daí a dúvida, ainda não respondida, sobre
se será rentável, e a partir de que cotação
do petróleo -que aliás está em queda-, retirar o
combustível de poços tão profundos.
A Petrobras, embora controlada pela União,
é uma empresa
aberta, com 60% do capital em mãos de outros acionistas, no
Brasil e no exterior. Se a intenção é privilegiar,
na partilha dos recursos das novas jazidas, a sociedade brasileira
-titular das riquezas do subsolo-, conceder monopólio a uma
empresa com tantos sócios privados não seria o melhor
caminho.
O governo Lula assimilou esse último
argumento, mas apenas como
pretexto para defender a criação de uma nova estatal no
país, 100% da União. Tal empresa deteria os direitos
exclusivos de exploração no pré-sal e contrataria
outras companhias, a Petrobras entre elas, como meras prestadoras de
serviço.
A artimanha retórica não esconde
que a
intenção do lulismo é mesmo produzir uma
reviravolta no modelo atual -baseado em concessões,
distribuídas por disputas públicas das quais pode
participar qualquer empresa. O projeto de retorno ao estatismo emana do
conúbio, sob Lula, entre forças empenhadas em desbravar
fronteiras para o aparelhamento do Estado e ideólogos
nostálgicos da tutela econômica à moda Vargas ou
Geisel.
O curioso é que defensores da
novíssima estatal se valem
do exemplo da PDVSA, a petroleira venezuelana, para refutar a
hipótese de entregar o monopólio do pré-sal
à Petrobras. A estatal brasileira tenderia, dizem, a ficar
tão poderosa quanto a da Venezuela, que se tornou um Estado
dentro do Estado. Mas, ao propugnarem por uma estatal puro-sangue e
monopolista no Brasil, é justamente o modelo perverso da PDVSA
que perseguem.
O debate sobre a normatização do
pré-sal precisa
emergir das profundezas. Enquanto ideólogos, burocratas e
mercadores de sinecuras fazem acertos em surdina no governo federal, a
sociedade convive com a desinformação de que pode ser
vítima.
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