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Folha de SP, 10.08.07




Eagle and Dragon, Comic Book Galaxy






David Pilling
Os EUA e as empresas da China

As companhias chinesas são vistas nos EUA como envolvidas na promoção de agenda de avanço nacional

A HUAWEI, uma das maiores fabricantes mundiais de equipamento para telecomunicações, gosta de se retratar como uma empresa privada inovadora, controlada por seus 20 mil funcionários. Mas o que a maioria das autoridades norte-americanas vê ao contemplar essa companhia de rápido crescimento sediada em Shenzhen é a bandeira da China.

A Huawei uma vez mais fracassou em seus esforços para ingressar no mercado dos EUA. No mês passado, sua tentativa de adquirir duas empresas norte-americanas foi bloqueada quando uma oferta pelo 2wire, um grupo de software para a internet, e outra por uma divisão da Motorola foram rejeitadas.

Ainda que a Huawei tenha oferecido os mais altos preços, o medo de que as autoridades regulatórias americanas viessem a bloquear as aquisições por motivo de segurança pôs fim ao processo. As empresas terminaram vendidas à Pace (Reino Unido) e à Nokia (Finlândia).

Não é a primeira vez que o avanço da Huawei para os EUA termina interrompido. Em 2008, a empresa desistiu de uma oferta pela fabricante de equipamentos para computação 3Com depois que Washington expressou preocupação quanto à possibilidade de que viesse a ganhar a acesso a tecnologia de combate a hackers que pode ter uso militar.

As origens da Huawei não ajudam. Fundada por Ren Zhengfei, oficial reformado do Exército de Libertação Popular, o Exército chinês, a companhia não se provou capaz de debelar as suspeitas de que opera como fachada para as forças armadas chinesas, algo que nega.

As recentes rejeições despertaram ira em Pequim. Um artigo de opinião publicado pelo jornal sensacionalista "Global Times" acusava os ocidentais de preconceito contra as empresas chinesas e de ver a presença do Estado em cada transação. "A despeito da globalização intensificada, a muralha invisível da Guerra Fria ainda separa o Ocidente e o Oriente", afirmava o artigo.

Como o texto sugere, a Huawei, embora seja um exemplo extremo, ilustra um argumento muito mais amplo. Da mesma maneira que nos anos 1980, quando empresas japonesas costumavam ser acusadas de executar um complô vil orquestrado pelo governo de seu país, as companhias chinesas agora são vistas como envolvidas na promoção de uma agenda de avanço nacional.

Nem todas as aquisições chinesas foram rejeitadas. A Lenovo foi autorizada a adquirir a deficitária divisão de computadores pessoais da IBM. Mas todas essas transações precisam passar pelo crivo do Comitê de Investimento Estrangeiro.

As autoridades norte-americanas não hesitam em declarar sua inquietação. Jon Huntsman, embaixador em Pequim, reconheceu que os americanos tendem a suspeitar de empresas estatais. Clyde Prestowitz, funcionário da área de comércio externo do governo Reagan, argumenta que os EUA não são vigilantes como deveriam no combate às políticas mercantilistas de Pequim.

"Não se trata do mesmo animal, disputando o mesmo jogo", ele diz, em referência ao que vê como política industrial comandada pelos burocratas do governo chinês, repleta de incentivos industriais, empréstimos estatais, consolidação promovida pelo Estado e incursões coordenadas pelo governo ao exterior.

Na opinião de Prestowitz, os norte-americanos estão repetindo o erro cometido pelos britânicos no final do século 19. Naquele momento, diz, os britânicos depositaram fé excessiva no funcionamento do livre mercado, e com isso transferiram sua vantagem a nações mercantilistas como os EUA e a Alemanha.

Orville Schell, especialista em assuntos chineses na Asia Society, vê a situação de outra forma. Ele se preocupa com a possibilidade de que os EUA talvez estejam em risco de se tornarem cautelosos demais com relação a investimentos chineses. Como resultado, teme que possam perder o acesso aos grandes volumes de capital hoje disponíveis na China.

É este o dilema que os EUA precisam enfrentar: decidir se as empresas chinesas estão tomando decisões comerciais ou se são parte de grande plano desenvolvido na sede do Partido Comunista. Caso o governo americano suspeite de que a segunda hipótese é verdadeira, é preciso que determine se aceitar investimentos como esses significa ameaça de segurança ou estratégica.

E, quando os EUA detectarem uma ameaça dessa ordem, terão de estar preparados para manter a calma enquanto assistem a um paredão de dinheiro chinês transferido a outro destino.


Tradução de PAULO MIGLIACCI
DAVID PILLING é editor do "Financial Times Asia".


10/08/07

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