Folha de S Paulo, 01.05.10:A-11
Folha - O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-presidente do
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) do
Itamaraty, entre outros, tem-se mostrado frontalmente contrário
à Alca. Nessa visão, talvez não conviesse ao Brasil
nem sequer iniciar a negociação para constituir a Alca. Qual
a sua opinião a respeito?
Setubal - Os manuais militares de estratégia dizem que
todas as decisões tomadas antes do
momento certo são erradas. O mesmo ocorre com as decisões
atrasadas. Acho que o governo
FHC adotou uma linha correta. Conseguiu o apoio de todos os países
da América Latina para
adiar as negociações da Alca para 2005. Note-se
que a maioria desses países quer a Alca.
Portanto, as decisões serão tomadas pelo governo
que irá assumir em janeiro de 2003. Isso
significa que a sociedade brasileira poderá discutir amplamente
o assunto nas próximas eleições. 01.5.10:A-11
01.05.03:B-2
Corrupção "globalizada"
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
OS LEITORES deste jornal já conhecem, de nome e de fama, o embaixador
Samuel Pinheiro Guimarães, que até recentemente dirigia o
instituto de pesquisas do Itamaraty. O embaixador merece, sem dúvida,
a fama que tem. Trata-se de um dos nossos principais especialistas em relações
internacionais. Infelizmente, leitor, competência e seriedade nunca
foram garantia de celebridade (podem até atrapalhar). Foi preciso
um lance de raro, raríssimo descortino do ministro das Relações
Exteriores, Celso Lafer, para que o nome do embaixador se tornasse nacionalmente
conhecido.
Nada mais promocional do que a injustiça. Ao exonerá-lo
do cargo de diretor de pesquisas em razão das suas opiniões
contrárias à Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), o ministro Lafer deu notável impulso ao renome
do embaixador, que hoje é citado e consultado no Brasil inteiro
e até no exterior.
Privatiza-se a soberania nacional
07/05/2001:A3
Privatiza-se a soberania nacional |
A Alca é um caso de sedução. Noiva deslumbrada,
a América Latina se entrega ao charme de Tio Sam |
FREI BETTO
GEORGE ORWELL poderia escrever hoje o "2084", um novo exercício
de futurologia crítica, consideradas as tendências atuais.
Mas não é preciso recorrer a ele ou a Arthur Clarke para
prever que a globocolonização nos conduz à redução
do mundo a um só país e um só governo.
O comunismo deixa de ameaçar, o neoliberalismo impera, a internet
põe abaixo as fronteiras da comunicação. Senhores
de todas as terras, ares e mares, os EUA mantêm o planeta sob vigilância
(vide a espionagem sobre a China) e intervêm em qualquer ponto, ainda
que sob o disfarce de boina azul da ONU (como em Iraque e Timor Leste).
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21/05/2001 Folhateen:11
Brasil vive 500 anos de periferia e continua à margem do sistema
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Olhando daí, de onde você enxerga as coisas, é bom
ou ruim o Brasil aderir à Alca, a Área de Livre Comércio
das Américas? Ou seja melhor prestigiar o Mercosul, Mercado Comum
do Sul? Sua opinião a respeito do tema é segura/ Tem razões
sólidas? Você já se esclareceu o suficiente? Como diria
o Silvio Santos, em seu Show do Milhão, "posso perguntar" valendo
grana?
Tá, esquece o Silvio Santos. Estamos falando de um tema que de
certa forma decide o que vai acontecer no planeta neste século.
Conforme o que acontecer nesses anos_mais força no Fórum
Econômico Mundial ou mais peso no Fórum Social Mundial, por
exemplo_, estaremos definindo o rumo das coisas para duas, três gerações.
Se falta uma leitura panorâmica da questão, com enfoque crítico,
em linguagem de gente que sabe escrever, vai aqui uma sugestão:
"Quinhentos Anos de Periferia", do embaixador brasileiro Samuel Pinheiro
Guimarães_não, você não está enganado,
é o mesmo embaixador recentemente defenestrado de um cargo importante
do Ministério das Relações Exteriores do Brasil por
ter diagnosticado que, do jeito que a coisa vai, nosso país perder
muito ao entrar na Alca, a organização que as elites econômicas
dos EUA desejam, a favor de seus interesses, que batem de frente com os
interesses brasileiros.
Samuel Guimarães passa sobre as relações
internacionais, especialmente no Oriente, a partir do fim da Segunda Guerra
Mundial, período em que viu a ascensão e a consolidação
da hegemonia norte-americana no mundo. Daria mesmo para dizer que se trata
de um estudo sobre o comportamento dos EUA, tendo como contraponto a posição
brasileira e como conceito geral uma noção muito clara das
diferenças entre estar no centro ou estar na periferia do sistema,
ter ou não ter capacidade de decisão. De lambuja, o livro
traz um glossário eficiente, com explicações sintéticas
para conceitos e siglas desse universo, que nos diz respeito de perto.
Quinhentos Anos de Periferia
Samuel Pinheiro Guimarães
Contraponto SP, 2001
Preço: R$ 20
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