Folha de
S Paulo, 02.4.5:A 24
Contexto
Equipes
decifram mapa genético do arroz
Dois
grupos de pesquisadores, um público e outro privado, publicam hooje
na revista "Science" (www.sciencemag.org)
o rascunho da sequência genética do arroz, planta que forma
a base da dieta de mais da metade da população do planeta.
Embora
os autores e a direção da "Science" tenham saudado a descoberta
como a mais nova esperança contra a fome nos países pobres,
os dados do grupo privado precisaram de uma boa dose de pressão
para vir a público.
Os
louros da façanha estão sendo divididos pela empresa suíça
Syngenta e pelo Instituto Genômico de Pequim, do governo chinês.
Ambos usaram a técnica mais rápida e barata de sequenciamento
genético, que consiste em fragmentar o DNA e determinar as sequências
com a ajuda de computador.
(...)
Donald
Kennedy, editor-chefe da "Science", disse que os estudos terão um
impacto maior do que o sequenciamento do genoma humano. "Vai ser possível
selecionar de uma forma muito mais eficiente variedades mais produtivas
e nutritivas", diz. Mas a comunidade científica não parece
convencida dessas boas intenções.
É
que a Syngenta, qiando anunciou o fim do sequenciamento, afirmou que não
o publicaria numa revista científica ou no Genbank, o dado de dados
genéticos público na internet. A "Science" concordou em publicar
o estudo com a ressalva de que os dados permaneceriam com a Syngenta, que
os daria livremente a cientistas financiados por institu'ções
públicas, mas cobraria uma taxa de pesquisadores privados.
Pressões
Cientistas
como o Nobel de medicine Paul Nurse e Robert Waterston, um dos coordenadores
do consócio público que sequenciou o genoma humano, protestaram
contra a decisão e a Syngenta prometeu ajudar na construção
de uma sequência comppleta para o Genbank. "O avanço da ciência
requer a troca irrestrita os dados", declarou Waterston à Folha.
Agora eles tomaram uma atitude mais aceitável".
.Mais
sobre pesquisa/desenvolvimento
BIOTECNOLOGIA
Alarme
foi dado por pesquisadores em 2001
Novo
estudo contesta evidência de contaminação gênica
em milho
CLAUDIO
ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE
DE CIÊNCIA
No
fim do ano passado, uma dupla de pesquisadores dos EUA alarmou o mundo
ao afirmar que havia detectado DNA de milho transgênico numa variedade
tradicional da planta no México. Dois estudos publicados ontem atestam:
o alarme era falso. O que houve, dizem, foi contaminação
das amostras usadas no estudo.
Assim
como o trabalho original, de autoria de David Quist e Ignacio Chapela,
da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), os novos estudos
estão na revista "Nature" (www.nature.com), que decidiu publicar
as críticas na sua edição on-line, bem como uma réplica
de Quist e Chapela.
Os
críticos incluem um grupo de pesquisadores do mesmo departamento
em que a dupla trabalha, em Berkeley. Eles afirmam que os resultados obtidos
pelo estudo se deveram a falsos resultados positivos no método usado.
Quist
e Chapela usaram em seu experimento dois tipos de reação
que amplifica determinadas sequências genéticas no DNA, a
PCR (reação em cadeia de polimerase, na sigla em inglês).
Seus
resultados mostram sinais, em alguns dos grãos das espigas de milho
nativo, de sequências genéticas usadas na "construção"
de milho transgênico, sinal de que pólen geneticamente alterado
poderia ter migrado da plantação comercial mais próxima,
a quilômetros de distância dali.
Mas
a PCR é sensível a contaminações. Para ter
certeza da mistura, dizem os críticos, eles deveriam ter plantado
os grãos suspeitos e analisado o DNA da nova planta em busca do
transgene.
Quist
e Chapela reconhecem algumas das críticas, mas dizem que seus detratores
só se fixaram ao método mais sensível a contaminação.
Uma outra técnica foi usada e repetida, apontando a presença
de DNA de transgênico.
"O
argumento é capenga", diz o biólogo Paulo Arruda, da Unicamp,
que examinou críticas e réplica. "O rigor científico
no experimento só se quebra uma vez."
Questão
O
argumento de Arruda é irrelevante. Relevante é saber se a
contaminação -- e com ela, os experimentos que a detectaram
-- é verdade. (CD) |
Em
nota editorial, a "Nature" reconhece que "a evidência disponível
não é suficiente para justificar a publicação
do trabalho original". No entanto, "como os autores insistem nas suas conclusões,
achamos melhor simplesmente publicar (...) e deixar nossos leitores julgarem
a ciência eles mesmos".