2002.4.5
.Política econômica.|..Estado e o mercado

Uma (outra) aula de política científica e industrial
Dito
Instituto nacional chinês e multinacional suíça publicam sequência de DNA da planta
mais importante no mundo
Folha de S Paulo, 02.4.5:A 24
GENÔMICA 

Trabalho confirma o potencial chinês
Reinaldo José Lopes
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O sucesso dos cientistas de Pequim no sequenciamento do genoma do arroz ajuda a colocar de vez a China no mapa das potências biotecnológicas. Embora grande expectativa cercasse a publicaçáo dos dados da Syngenta, o resultado chinês foi quase tão bom quanto o da multinacional suíça, com menos recursos e com infra-estrutura mais recente.

"Há dois anos, o centro deles em Pequim estava começando a ser construído", afirma Gane Wong. "lsso realmente marca a maioridade deles nessa área", diz o pesquisador sino-canadense.

No mês passado, uma médica chinesa anunciou ter criado diversos clones humanos para a produção de células-tronco. E o investimento do país em biotecnologia agrícola, de olho na alimentação de mais de 1,26 bilhão de habitantes, também cresce.

Wong explica que os chineses souberam aproveitar o baixo custo e a versatilidade de seu método de sequenciamento. "Claro que um método mais lento, separando as sequências por cromossomos, é mais confiável, mas também é mais caro", afirma.

"Eu adoraria ter um Rolls Royce, mas um Toyota me leva aonde eu quiser", compara Wong. Foi o que a China, que não é um país rico, preferiu fazer. E os resultados estão sendo realmente ótimos."

Tanto chineses como americanos já incluíram no trabalho o estudo das funções dos genes sequenciados, o que deve render resultados práticos de melhoramento em três ou quatro anos. (RJL)
 
 
 

Cont/. 
 

Folha de S Paulo, 02.4.5:A 24
Contexto

Equipes decifram mapa genético do arroz
 

Dois grupos de pesquisadores, um público e outro privado, publicam hooje na revista "Science" (www.sciencemag.org) o rascunho da sequência genética do arroz, planta que forma a base da dieta de mais da metade da população do planeta.

Embora os autores e a direção da "Science" tenham saudado a descoberta como a mais nova esperança contra a fome nos países pobres, os dados do grupo privado precisaram de uma boa dose de pressão para vir a público.

Os louros da façanha estão sendo divididos pela empresa suíça Syngenta e pelo Instituto Genômico de Pequim, do governo chinês. Ambos usaram a técnica mais rápida e barata de sequenciamento genético, que consiste em fragmentar o DNA e determinar as sequências com a ajuda de computador.

(...)

Donald Kennedy, editor-chefe da "Science", disse que os estudos terão um impacto maior do que o sequenciamento do genoma humano. "Vai ser possível selecionar de uma forma muito mais eficiente variedades mais produtivas e nutritivas", diz. Mas a comunidade científica não parece convencida dessas boas intenções. 

É que a Syngenta, qiando anunciou o fim do sequenciamento, afirmou que não o publicaria numa revista científica ou no Genbank, o dado de dados genéticos público na internet. A "Science" concordou em publicar o estudo com a ressalva de que os dados permaneceriam com a Syngenta, que os daria livremente a cientistas financiados por institu'ções públicas, mas cobraria uma taxa de pesquisadores privados.

Pressões
Cientistas como o Nobel de medicine Paul Nurse e Robert Waterston, um dos coordenadores do consócio público que sequenciou o genoma humano, protestaram contra a decisão e a Syngenta prometeu ajudar na construção de uma sequência comppleta para o Genbank. "O avanço da ciência requer a troca irrestrita os dados", declarou Waterston à Folha. Agora eles tomaram uma atitude mais aceitável".
 
 

.Mais sobre pesquisa/desenvolvimento


BIOTECNOLOGIA Alarme foi dado por pesquisadores em 2001
Novo estudo contesta evidência de contaminação gênica em milho
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

No fim do ano passado, uma dupla de pesquisadores dos EUA alarmou o mundo ao afirmar que havia detectado DNA de milho transgênico numa variedade tradicional da planta no México. Dois estudos publicados ontem atestam: o alarme era falso. O que houve, dizem, foi contaminação das amostras usadas no estudo.

Assim como o trabalho original, de autoria de David Quist e Ignacio Chapela, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), os novos estudos estão na revista "Nature" (www.nature.com), que decidiu publicar as críticas na sua edição on-line, bem como uma réplica de Quist e Chapela.

Os críticos incluem um grupo de pesquisadores do mesmo departamento em que a dupla trabalha, em Berkeley. Eles afirmam que os resultados obtidos pelo estudo se deveram a falsos resultados positivos no método usado.

Quist e Chapela usaram em seu experimento dois tipos de reação que amplifica determinadas sequências genéticas no DNA, a PCR (reação em cadeia de polimerase, na sigla em inglês).

Seus resultados mostram sinais, em alguns dos grãos das espigas de milho nativo, de sequências genéticas usadas na "construção" de milho transgênico, sinal de que pólen geneticamente alterado poderia ter migrado da plantação comercial mais próxima, a quilômetros de distância dali.

Mas a PCR é sensível a contaminações. Para ter certeza da mistura, dizem os críticos, eles deveriam ter plantado os grãos suspeitos e analisado o DNA da nova planta em busca do transgene.

Quist e Chapela reconhecem algumas das críticas, mas dizem que seus detratores só se fixaram ao método mais sensível a contaminação. Uma outra técnica foi usada e repetida, apontando a presença de DNA de transgênico.

"O argumento é capenga", diz o biólogo Paulo Arruda, da Unicamp, que examinou críticas e réplica. "O rigor científico no experimento só se quebra uma vez."
 
Questão
O argumento de Arruda é irrelevante. Relevante é saber se a contaminação -- e com ela, os experimentos que a detectaram -- é verdade. (CD)

Em nota editorial, a "Nature" reconhece que "a evidência disponível não é suficiente para justificar a publicação do trabalho original". No entanto, "como os autores insistem nas suas conclusões, achamos melhor simplesmente publicar (...) e deixar nossos leitores julgarem a ciência eles mesmos".
 

Não dito
Questão
E aqui no Brasil?
Contraponto

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