A dificuldade do óbvio ululante
(Homenagem a Paulo Nogueira Batista Jr)

Folha de S Paulo, 01.7.5:B-2:

OPINIÃO ECONÔMICA

Elogio da flutuação (controlada)
Paulo Nogueira Batista Jr

O "ibope" do regime de flutuação caiu consideravelmente. As viúvas da "âncora" cambial, que antes rosnavam pelos cantos, agora se animam a criticar abertamente a flutuação e a depreciação do real. Alguns torcem sem disfarce pelo fracasso do sr. Armínio Fraga e cia.

As alegações são as mais variadas. Afirma-se, por exemplo, que a desvalorização não teve efeito apreciável sobre as contas externas, que continuam deficitárias. Afirma-se, também, que a mudança
cambial não levou à esperada queda das taxas de juro internas, não permitindo assim a reativação da economia. Com base nessas e outras considerações, já se começa a propor a volta de algum tipo de ancoragem, talvez nos moldes da cesta dólar-euro, recém-lançada pelo ministro Cavallo.

É uma idéia estapafúrdia. Não precisaríamos perder tempo com ela, a não ser pelo fato de que, no Brasil, esse tipo de proposta, sendo idiota, será certamente cogitada pelo governo.
 

Segue o resto do artigo tentando explicar porque o Brasil não deveria abdicar de uma política monetária própria... 

Não são os detalhes da política econômica que são passíveis de crítica, senão o próprio objetivo dessa política: a saber, manter os entraves ao pleno desenvolvimento da capacidade de produção do país ( .acumulação entravada).

... ou, antes, resposta: está aí para que serve apresentar o óbvio como uma problemática, a ser debatida, discutida, submetida a criterioso escrutínio (  O óbvio como problemática). Assim, os absurdos (aqui, a idéia de abandonar os instrumentos de política monetária) precisam ser demostrados, a grande custo, a quando o foram, já perderam sua força de absurdo. Afinal, a demonstração poderia estar falha, discutível....E enquanto corre a demostração, se se perde no cipoal de detalhes e perde-se de vista o que era absurdo.

 

Se o óbvio é discutível,

 

o absurdo é concebível

É necessário recuperar a dignidade da idéia do absurdo.