Folha de S Paulo,
02.3.17:B-1
FINANÇAS
Cada dólar aplicado pelos bancos estrangeiros
no país rendeu, em média, 50% a mais do que no resto do mundo
Bancos
estrangeiros rendem mais no Brasil
ÉRICA FRAGA
Cada dólar
aplicado pelos bancos estrangeiros no Brasil rendeu, em média, 50%
a mais do que no resto do mundo em 2001. A informação consta
de levantamento realizado pela ABM Consulting.
O percentual de 50%
ultrapassa, em muito, a taxa de risco do Brasil. Isto é, a diferença
da taxa de juros que o país paga a mais que os Estados Unidos para
tomar dinheiro emprestado no exterior, hoje em torno de sete pontos percentuais.
...
Segundo Erivelto
Rodrigues, sócio da consultoria Austin Asis, a
maior parcela de ganhos dos bancos no exterior -principalmente nos países
desenvolvidos- vem do grande volume de empréstimos concedidos. Já
no Brasil, a fatia maior dos ganhos vem das altas taxas de juros cobradas
nas operações de crédito.
"Os bancos lá
fora ganham com giro, precisam emprestar muito para lucrar bastante. Aqui,
as instituições ganham mais com os "spreads" (diferença
entre taxas pagas para captar recursos e as cobradas nos empréstimos)",
disse Rodrigues.
Lucros
Juros altos e desvalorização
cambial fizeram com que alguns bancos estrangeiros conseguissem ganhos
expressivos para suas matrizes no Brasil em 2001.
Esse foi o caso do
BankBoston, do ABN Amro e do Santander. O lucro do ABN no Brasil representou,
por exemplo, 13,35% do retorno total da instituição no mundo.
Para o Santander, o Brasil foi responsável por 24,5% do lucro global.
No caso do BankBoston, o lucro líquido no país somou US$
307 milhões, que equivale a 33% do faturamento do FleetBoston no
mundo.
Ativos
Os números
são significativos, principalmente se for considerado o pequeno
peso dos ativos desses bancos no Brasil em relação ao resto
dos países.
O ABN concentra no
Brasil 2,49% do seu total de ativos e o Santander, 7,3%. Já o FleetBoston
tem apenas 5,3% de seus ativos totais no Brasil.
Segundo Alex Zornig,
vice-presidente de finanças do Boston no país, o lucro mundial
do FleetBoston caiu em 2001 por causa das provisões para devedores
duvidosos feitas pelo banco na Argentina e nos Estados Unidos.
"Isso fez o lucro
do Brasil ficar, excepcionalmente, mais representativo", disse Zornig.
Além disso,
o Boston foi beneficiado porque estava protegido contra a desvalorização
do real. ...