Folha de S Paulo,
02.4.9:B-2
OPINIÃO ECONÔMICA
Xô, candidato retranqueiro!
BENJAMIN STEINBRUCH
Especula-se constantemente sobre quem seria o
candidato dos empresários à Presidência da República.
José Serra é muito citado, mas aparecem também Ciro
Gomes, Garotinho, Roseana e até Lula ou alguns que já estão
fora do páreo, como o governador do Ceará, Tasso Jereissati.
A idéia de rotular candidatos como representantes
de categorias ou classes sociais é equivocada. Para quem vive no
mundo dos negócios, aceitar isso seria concordar com a visão
preconceituosa de que empresários têm interesses conflitantes
com os da sociedade em geral. Além disso, não há um
pensamento homogêneo no setor empresarial e em nenhuma outra categoria.
Diferentes são as proposições de industriais, banqueiros
e agricultores, assim como há posições divergentes
entre trabalhadores. Mesmo dentro dos setores empresariais existe diversidade
entre as aspirações do capital nacional e do capital estrangeiro.
Mais correto seria falar em candidato da produção
e do emprego. A necessidade de produzir mais e criar postos de trabalho
é uma das raras unanimidades do atual momento brasileiro. Assim,
qualquer um que defenda isso merece apoio de todas as classes sociais e
categorias. Empresários e trabalhadores querem um novo presidente
que recupere a gana de crescimento que o Brasil já teve no passado,
porque não há outro caminho para o país.
O governo Fernando Henrique Cardoso, muito bem-sucedido
em seu plano de estabilização, foi uma decepção
em matéria de desenvolvimento. FHC vai chegar ao fim de seu mandato
de oito anos com crescimento médio de 2% ao ano no Produto Interno
Bruto, taxa inferior à expansão média da economia
mundial no período. Claro que foram tempos difíceis, cheios
de crises externas, mas faltou à atual administração
aquela disposição obsessiva de promover o desenvolvimento,
sem o que nenhum país pobre consegue avançar. FHC
jogou na retranca a maior parte de seu tempo no poder e quando tentou ir
ao ataque já era tarde demais para mudar o jogo.
A retranca fez com que a empresa nacional enfrentasse
nos últimos anos uma verdadeira concorrência desleal com o
capital estrangeiro dentro do próprio país. Enquanto as companhias
nacionais sofriam com deficiência de capital, sem crédito
de longo prazo e se afogavam em juros exorbitantes, as estrangeiras se
abasteciam de capital barato em suas fontes internacionais.
A retranca impediu que seguisse adiante uma verdadeira
reforma tributária para desonerar o setor produtivo e as exportações,
o que tornaria a produção nacional mais competitiva no exterior.
A retranca deixou desamparados setores industriais
que já são internacionalmente competitivos e que poderiam
ter sido estimulados a dar colaboração muito maior na obtenção
de divisas para o país.
A retranca permitiu a venda ao capital estrangeiro
de setores estratégicos de infra-estrutura e escancarou o mercado
interno sem nenhuma reciprocidade dos parceiros comerciais beneficiados
por essa atitude.
Os candidatos a presidente, portanto, terão de provar que estão
dispostos a abandonar a tática defensiva e partir para o ataque.
O candidato dos empresários, assim como dos trabalhadores e da população
em geral, será aquele que mais se afastar do perfil de retranqueiro,
que aliás é repelido pelo temperamento brasileiro tanto no
futebol como na política.
O Brasil está muito atrasado na elaboração de um
projeto para atacar seus verdadeiros problemas. E isso interessa a todos
os brasileiros, independentemente de categoria ou de classe social.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia
Siderúrgica Nacional.