Folha de
São Paulo, 2003.11.17:
B4
TELECOMUNICAÇÕES
Acompanhamento
será para preservar sistema de comunicação
militar e posição orbital de satélites
Governo
vai monitorar venda da Embratel
ELVIRA
LOBATO
DA
SUCURSAL DO RIO
O ministro das
Comunicações, Miro Teixeira, disse que o governo
brasileiro acompanha em tempo
real o processo de venda do controle acionário da Embratel.
Segundo ele, três
fatores levam o governo a monitorar as negociações: as
posições ocupadas pelos
satélites da empresa na órbita terrestre, as
comunicações militares e um
eventual interesse do Citibank em participar da compra.
O
patrimônio
da Embratel, privatizada em julho de 1998, inclui a rede de
satélites Brasilsat
-B1, B2, B3 e B4, que estava em construção e foi
lançado em 2000. No entanto as
posições orbitais desses satélites, definidas pela
UIT (União Internacional de
Telecomunicações), ainda pertencem ao Estado brasileiro.
O governo entende que
essas posições são do interesse estratégico
do país e quer assegurar que um
futuro controlador da Embratel terá interesse em
mantê-las. A segunda
preocupação, também associada aos
satélites, refere-se ao possível impacto da
mudança de controle acionário da Embratel na
transmissão das comunicações militares.
As Forças
Armadas têm uma faixa exclusiva de transmissão
por satélite, identificada no jargão técnico como
"banda X", em uma
das unidades Brasilsat. Embora a Embratel tenha a
obrigação contratual de
manter o serviço, esse tem sido um ponto de
preocupação das Forças Armadas
desde a privatização.
A rede Brasilsat
é gerenciada hoje pela Star
One, uma subsidiária criada pela Embratel depois da
privatização para prestar
serviços de comunicação via satélite em
cinco países da América do Sul.
Segundo Miro
Teixeira, a primeira providência
do ministério após o comunicado da MCI na quarta-feira,
anunciando a intenção
de venda do controle acionário da Embratel, foi saber se a Star
One seria
vendida junto. "A empresa nos assegurou que a venda será em
bloco", disse
o ministro à Folha na sexta-feira à noite. Ou seja: a
empresa que vier a
assumir a Embratel prometerá também a continuidade das
comunicações militares.
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A terceira
preocupação oficial em relação à
troca de comando na Embratel refere-se a um eventual interesse do grupo
Citibank em deter ativos da companhia.
A MCI
(WorldCom) entrou em
concordata nos EUA,
em julho de 2002, após a descoberta de fraudes contábeis
de US$ 11 bilhões.
Analistas do mercado financeiro acham que a concordata pode ser
suspensa no
início de 2004, após a conclusão do processo de
reestruturação no qual se encontra
a companhia. A venda da Embratel faria parte do processo de
capitalização do
acionista controlador.
O Citibank,
segundo o ministro Miro Teixeira,
é um dos principais credores da empresa nos Estados Unidos. Como
o banco já tem
participação indireta no controle acionário da
Brasil Telecom (concessionária
do serviço de telefonia fixa nas regiões Sul e
Centro-Oeste), por meio do fundo
de investimento CVC Opportunity, o governo quer saber se haverá
conversão de
dívidas da MCI em ações da Embratel. O governo
quer assegurar transparência no
investimento estrangeiro em empresas de telecomunicações.
Na quinta-feira,
Miro Teixeira reuniu-se com o
presidente da Embratel, Jorge Rodriguez, para obter mais detalhes sobre
o
processo de venda. O ministro foi informado de que o negócio
pode levar cerca
de seis meses para ser concluído.
Compradores
O grupo mexicano
Telmex, do megaempresário
Carlos Slim, é visto pelo próprio governo -e por
analistas de mercado- como o
candidato mais provável à compra da Embratel. A Telmex
já controla a empresa de
telefonia Claro, no Brasil, e, recentemente, adquiriu a AT&T Latin
America.
Slim esteve no
Brasil em outubro e, segundo
Miro Teixeira, declarou interesse em aumentar os investimentos em
telecomunicações no país, sobretudo no Estado de
São Paulo.
O
ministro soube, pela direção da Embratel,
que o grupo Telecom Italia também estaria interessado na compra.
Mas, como o
grupo italiano não transmitiu sinais ao governo, Miro Teixeira
acha que a
informação pode ser "conversa de vendedor". |