![]() |
![]() |
![]() |
Criado 2000 fev/ Rev
5.8.10/ 06.10.15 |
![]() |
Espaço & Debates 32:32-46, 1991 |
Acumulação
entravada no Brasil E a crise dos anos 80* Csaba Deák |
![]() |
Abstract
This paper proposes that the roots of the specificity of Brazilian society reach back to colonial times and that its modern elite society is a result of the establishment, with Independence, of the internal conditions --the sovereign State-- to the reproduction of both colonial society and its material basis, colonial production. Colonial production in the nation-State became hindered accumulation, the form taken by the capitalist process in Brazil, consisting in the (endogenously determined) expatriation of a portion of the surplus, which in the extensive stage of accumulation still leaves some room for accumulation. With the exhaustion of the extensive stage (and lower rates of surplus) by the end of the 1970s a decision between surplus expatriation and accumulation is imposed, and this provides a framework for an interpretation of the current crisis, for a cessation of surplus expatriation poses the question of transformation of the elite society itself. An Epilogue provides a preliminary assessment of the first year of the economic reform of 1990 and a summary of economic indicators related to expatriation and accumulation in the recent past is given in Appendix. |
Sumário
Uma
interpretação da 'crise dos anos 80' implica na
caracterização
da especificidade da sociedade brasileira contemporânea --uma
sociedade
de elite--, cujas raízes remontam à época
colonial.
Assim este trabalho enfoca primeiro as transformações que
levaram à constituição do Estado brasileiro para
captar
o processo pelo qual a sociedade colonial que deriva sua
formação
e reprodução de forças externas, oriundas da
metrópole,
e cessando essas pela debilitação de Portugal, cria as
condições
internas para sua continuada reprodução. Passa em seguida
à exploração do processo de
acumulação
entravada com sua dialética interna, em que o imperativo da
acumulação
está subordinado ao princípio da
expatriação
de excedente, como processo precípuo de produção
capitalista
que forma a base econômica para a reprodução
ampliada
da sociedade de elite no Brasil. Situa ainda o processo de
acumulação
entravada enquanto estágio de desenvolvimento, com suas
relações
com os estágios de acumulação extensiva e
intensiva,
permitindo assim a volta à interpretação da crise
atual, especialmente em sua diversidade de todas as demais crises da
história
brasileira. Um Epílogo
esboça uma avaliação
do primeiro ano da reforma econômica de 1990 e um sumário
de indicadores econômicos da história recente relativos
à
expatriação e à acumulação é
dado em Anexo.
|
Situaremos ainda o processo de acumulação entravada enquanto estágio de desenvolvimento, com suas relações com os estágios de acumulação extensiva e intensiva,(2) permitindo assim um retorno à interpretação da crise atual, especialmente em sua diversidade de todas as demais crises da história brasileira. Na época
em que
foi
escrito (1989), este ensaio tinha necessàriamente de se
restringir
a meras conjecturas quanto às perspectivas de desenrolar da
crise
dos anos 80, dada a permanência do impasse das forças
sociais
a que se referirá no texto. Sua apresentação no
Seminário Re-pensando
o Brasil dos anos 80, em novembro de 1990, já encerra a
oportunidade
de se interpretar um fato novo, a saber, a eleição e o
início
de atividades do governo Collor. Este é o assunto do Epílogo:
1990. 1 A gênese do Estado brasileiro Organizar o Estado sem colocar em risco o domínio econômico e social e garantir as relações externas de produção seriam seus principais objetivos. Emília Viotti,
"Introdução
ao estudo da emancipação política", 1968
Ao chegar no início do século XIX, a história do Brasil era uma sucessão ininterrupta de re-imposições da exploração colonial, re-imposições essas em que o expediente já mencionado de redução da escala da reprodução local era predominante em virtude do enfraquecimento tanto militar como econômico de Portugal a partir do século XVII.(4) A sociedade local -de porte considerável, com uma população de uns 3 milhões, ou um quarto da população da Inglaterra- tinha se forjado ao longo de três séculos em torno da produção colonial 'em função do que se organizara sua vida', no dizer de Caio Prado Júnior. Ela tinha por característica de ser invulgarmente estável internamente, com fortes grupos sociais da classe dominante local "interessados em manter a estrutura de produção baseada no trabalho escravo, destinada à exportação de produtos tropicais para o mercado europeu" (Viotti, 1968 :122, onde a ênfase deve ser colocada sobre o essencial 'manter a estrutura de produção', mais do que sobre o circunstancial 'exportação de produtos tropicais'). Não que não ganhassem qualquer expressão social também os interesses ligados à reprodução local no período imediato que precede a declaração da Independência. Os chamados 'radicais' liderados por Gonçalves Ledo e que constituíam um grupo que hoje chamar-se-ia de tendência nacionalista, preconizavam a constituição de um Estado de molde burguês (eleição direta da Constituinte, liberdade de imprensa etc.) com desenvolvimento desimpedido das forças produtivas e primazia, portanto, da reprodução ampliada, ou seja, do próprio princípio da acumulação capitalista. Era precisamente em resposta a esses movimentos que os 'conservadores' se organizaram e formaram, em torno de José Bonifácio, o Apostolado: A constituição de 1824 O arcabouço institucional do novo Estado foi assentado na Constituição de 1824, de forma liberal e de conteúdo elitista. Ainda nas palavras de Viotti: "Resguardava o direito de propriedade em toda sua plenitude,... excluía no entanto [sic] cuidadosamente dos direitos políticos as classes trabalhadoras, ...bem como todos que não tivessem uma renda líquida anual correspondente a 100$000 em bens de raiz, indústria ou emprego" (op.cit, p.123). Diferia também em outro ponto essencial do modelo burguês, a saber, no tocante à (omissão sobre a) soberania nacional: Faltaria
ainda um elo
importante
nas condições de reprodução da sociedade
formada
na colônia após a independência dessa última.
Trata-se da inserção do Brasil nas relações
econômico-financeiras internacionais, de uma maneira que
assegurasse
a continuidade do padrão produtivo da vida econômica do
país. Fiat dívida externa A dívida externa foi a solução encontrada. Na interpretação de Viotti, apesar da 'simpatia discreta da Coroa Britânica', Para
avaliar a ordem de
grandeza
do valor dessa dívida surgida por geração
espontânea,
podemos compará-la com os investimentos em estradas de ferro na
Inglaterra que construiu da ordem de 350 milhas de rede nos
primórdios
da 'idade do trem', entre 1800 e 1825, no valor total de £1,5
milhão,
extensão essa que seria alcançada pelas linhas
férreas
brasileiras (presumivelmente, de semelhante valor) por volta de 1864.
Ou
seja, a dívida assumida pagava com folga todos os investimentos
naquele novo meio de transporte feitos até aquela data na maior
potência da época, ou então cobriria igualmente os
investimentos correspondentes no próprio Brasil pelos 40 anos
subsequentes.
Pagaria ainda pelo custo, para a Inglaterra, de cinco dos vinte cinco
anos
de Guerras Napoleônicas, e é equivalente a 2/3 de toda a
renda
proveniente anualmente do exterior para o mesmo país na mesma
época.
Ainda, para se ter uma idéia de um valor atual correspondente,
seria
ela equivalente a algo como US$ 23 bilhão como
proporção
das exportações brasileiras (metade do total anual), ou a
US$ 35 bilhão, como proporção do maior Produto
Nacional
do mundo (0,7%, então da Inglaterra, hoje dos EEUU). Por
qualquer
critério, pode-se afiançar que constituía uma
amarração
adequada - e que posteriormente foi ainda reforçada por uma
política
de comércio exterior pela qual o Brasil sustentava um
déficit
na balança comercial por um período de quatro
décadas,
aumentando evidentemente sua dívida ainda mais.
Independência ou dependência? Com a constituição do Estado independente, e estando as questões de ordem institucional e econômica resolvidas, opera-se a tranformação que permite a preservação da ordem econômica e social. O que era exploração colonial torna-se expatriação de excedente. O que era determinado de fora passa a ser determinado de dentro. O que era colônia, passa a ser nação-Estado, ainda que 'do Terceiro Mundo', ou 'dependente'. Esse último ponto requer esclarecimento. Em meio a, e apesar de, sua interpretação da constituição do Estado brasileiro sobre o qual nos apoiamos no que precede, Emília Viotti escreve em conclusão do último de seus parágrafos citados acima: Trata-se de pôr a história em pé. Isso requer mais que correções de enfoque ou a procura de respostas a questões que já encerram o conceito de dependência (além do pressuposto de uma comunidade nacional de interesses) a priori, tais como: Porque o Brasil não consegue sair da dependência? ou: Porque o Brasil 'não dá certo'? É necessário reconhecer a especificidade da sociedade brasileira tal qual ela é -e não com referência a algo que ela 'deveria ser', ou 'poderia ter sido'- e explorar a dialética do processo de sua reprodução. A importância prática de tal enfoque vem do fato de que as interpretações alternativas, como o (sub-) desenvolvimentismo, de cunho naturalista, ou o dependentismo, de filiação estruturalista levam, além de obstrução da análise, à imobilização da acão política. Já em 1972 Chico de Oliveira alertou, que A
exploração
da dialética da sociedade brasileira exige conceitos novos,
correspondentes
à especificidade do processo em questão, tais como, acumulaçãoentravada
como distinto tanto de exploração colonial quanto de
acumulação
capitalista em geral, e expatriação
de
excedente
como distinta de 'produção para exportação'
ou 'troca desigual'. Na história em pé, a sociedade
colonial
forjada por forças externas (da metrópole) constituiu, na
Independência, as condições de sua
reprodução
por suas próprias forças. A base institucional dessa
reprodução
é o Estado, criado precisamente com este fim. Sua base de
produção
material é a acumulação entravada e que
determinaria
sua evolução futura. No que segue, esboçamos uma
interpretação
dessa última, um processo de expatriação de
excedente
que toma o lugar da exploração colonial. 2 Expatriação de excedente no estágio extensivo Nícia
Vilela da
Luz A
luta pela industrialização do Brasil, 1961
Uma sociedade capitalista é movida pelas forças antagônicas originadas na tendência para a generalização da forma-mercadoria no mercado unificado dentro do arcabouço de uma nação-Estado, resultando em um processo de acumulação autônomo. Os limites à generalização da forma-mercadoria impõem a intervenção estatal com produção direta de valores de uso. Tal é a dialética da forma-mercadoria, em que a produção é organizada pelos processos simultâneos e antagônicos de mercado e de intervenção do Estado, sendo postulada a primazia dos primeiros. No estágio de acumulação extensiva a expansão da forma-mercadoria procede relativamente desimpedida predominantemente mediante a extensão da produção de mercadorias às custas de formas não-capitalistas de produção. Já no estágio intensivo, em que a expansão da produção fica restrita essencialmente ao aumento da produtividade do trabalho, o antagonismo entre mercado e Estado atinge novo patamar, porque a intervenção do Estado (planejamento, produção do espaço etc) -que nega a forma-mercadoria, ainda que seja necessária para sua preservação- se intensifica e a reasserção da primazia da forma-mercadoria -a negação da negação- torna-se cada vez mais problemática. Já
o processo de
produção
e reprodução social no Brasil, como vimos, ficou
subordinado
na
Independência aos requisitos da
reprodução
das condições de dominação por uma As crises são geradas pelo antagonismo entre a expatriação de excedente e a acumulação - de maneira similar ao próprio processo de exploração colonial já discutido, à diferença que nesse último tais crises eram resolvidas pelo confronto entre forças internas, de um lado, e externas à colônia, do outro lado. No processo de acumulação entravada uma parte substancial do excedente é contìnuamente retirada e enviada além das fronteiras, ao invés de ser incorporada à reprodução ampliada. No entanto, ainda assim há uma certa acumulação (correspondente à parte não expatriada do excedente), sendo essa última uma condição da expansão do excedente expatriável, ou seja, imposta pelo próprio princípio de maximização do excedente expatriado. Uma vez que a produção -e assim, também a produção de excedente- é baseada em trabalho assalariado, a força de trabalho deve se expandir e com ela, a massa salarial, por sua vez, deve pelo menos acompanhar a taxa de crescimento da força de trabalho -mesmo que o nível salarial seja mantido baixo-, resultando em uma expansão correspondente do mercado interno. Por mais restrito que seja esse mercado, a saber, aos bens de consumo dos trabalhadores assalariados (por razões às quais voltaremos, uma atrofia crônica é imposta sobre o Departamento I, de meios de produção, por um lado, e por outro, a produção para subsistência é històricamente alta, ainda que em queda com o recuo paulatino das 'fronteiras' da expansão), a esse nível prevalecem as leis da acumulação e levantam forças antagônicas à expatriação de excedente. Acumulação desimpedida no mercado interno tanto requereria quanto induziria o pleno desenvolvimento das forças produtivas e em particular o fortalecimento da burguesia que em última instância acabaria por desafiar a dominação da elite enquanto classe. Por essa razão a mesma é impedida a todo custo, através do desmantelamento sistemático do desenvolvimento embrionário da indústria por uma variedade de meios tais como, medidas fiscais, monetárias e financeiras, complementados por uma política 'liberal' de importações centrada nas indústrias estratégicas da respectiva época (particularmente, dos meios de produção, donde a atrofia do Departamento I mencionada acima). Ciclos sucessivos de 'substituição de importações' são, ainda assim, necessários devido à restrição da balança de pagamentos; quando a mesma se manifesta, as indústrias dinâmicas (que variam de acordo com cada época) são entregues ao controle de capitais estrangeiros, ou em muitos casos serão constituídas em empresas estatais, que não criarão, nem os primeiros nem as segundas, forças internas que desafiariam a posição da elite. O resultado até a virada do século XX é ilustrado por um depoimento da época: Cerzedelo
Corrêa,
1903
(cit.in Luz,1961:81)
Nas crises provocadas quer por uma restrição da balança de pagamentos quer pelo excessivo fortalecimento da produção nacional no período antecedente (a um ou outro dos polos entre os quais se tende a acumulação entravada) -e tìpicamente, em períodos de crise mundial em que se afrouxam os vínculos externos-, as forças a favor e contra a manutenção do status quo entram em conflito aberto. Tais crises atravessam a história brasileira em uma aparentemente infindável sucessão desde a transmigração da côrte de D.João VI (1808) de geração em geração, dando a aparência de uma 'sociedade sem história' onde se aplicaria o adágio "Plus ça change, plus c'est la même chose", como lembra Florestan Fernandes. (A frase de Lampedusa: 'É preciso mudar, para que tudo possa permanecer o mesmo', vem da Itália num estágio em muitos aspectos semelhante.) A história parece estancar. De fato, o que é o mesmo nessas crises é que elas foram sempre resolvidas até hoje a favor da re-imposição da primazia da expatriação de excedente sobre acumulação. No entanto, acumulação-com-expatriação-de-excedente só é possível a taxas muito elevadas de excedente, como aquelas permitidas por um estágio de acumulação extensiva, em que a taxa de expansão é igual à taxa de excedente pròpriamente dita (dentro da produção de mercadorias) mais a taxa de extensão da produção de mais-valia (isto é, da própria produção de mercadorias à custa de outras formas de produção), onde a segunda é a parcela mais substancial. Nessas condições, uma parte do excedente é expatriada e ainda assim sobra algum para acumulação - ainda que acumulação entravada. O mesmo
não
ocorre
com a passagem ao estágio de acumulação intensiva,
em que a taxa de expansão se restringe à taxa de
excedente
pròpriamente dita proveniente exclusivamente do aumento da
produtividade
do trabalho, e o excedente resultante então pode ou bem ser
expatriado ou bem ser utilizado em reprodução
ampliada,
isto é, acumulado. Com a exaustão do estágio
extensivo
acumulação entravada torna-se impossível.
Assim,
o que não é 'o mesmo' na história
brasileira
são as condições em que a primazia da
expatriação
de excedente tem sido re-imposta mesmo durante o estágio
extensivo,
com o paulatino crescimento do peso relativo do mercado interno e das
forças
sociais correspondentes, e decididamente diverso é as
condições
em que aquela primazia pode ser reimposta agora, findo aquele
estágio. 3 A crise atual e as questões urbanas Presidente
do
Brasil, 2
junho
1988
As implicações da resolução específica da crise para as 'questões urbanas' em geral e a infraestrutura urbana em particular prendem-se às diferenças nas condições de reprodução da força de trabalho nas duas perspectivas delineadas. A primeira, da manutenção da expatriação, significa uma involução das forças produtivas com a cessação da reprodução ampliada, a suspensão do progresso tecnológico (deve estar claro que as 'zonas francas' e filiais de empresas estrangeiras não são focos de irradiação de técnica avançada), e o rebaixamento do nível de subsistência do trabalhador. A segunda, acumulação desimpedida implica na transição para o estágio de acumulação intensiva suportada no aumento da produtividade do trabalho e consequentemente, com a elevação do nível de subsistência da força de trabalho. Ora, as aglomerações urbanas são o local precípuo da reprodução social. A elas cabe o papel de assegurar as condições de reprodução da força de trabalho, aos níveis requeridos pelo estágio de desenvolvimento da sociedade. No passado, assistimos à miséria urbana que acompanha o estágio de acumulação extensiva, e não sòmente no Brasil, senão em todos os lugares históricos - recordemos apenas Os miseráveis de Victor Hugo ou Oliver Twist de Dickens. Quanto ao futuro, abrem-se duas perspectivas de encaminhamento da política urbana de acordo com as alternativas históricas abertas ao Brasil. Dessas, a primeira na ordem acima citada, ou seja, a reimposição da expatriação de excedente, não vale o papel gasto em seu esboço. Seria a 'bolivianização' do país, conforme preconizado recentemente (1988) por um ministro de Estado. Já a segunda, ou seja, a transição para o estágio intensivo com a transformação da ordem elitista em ordem burguesa, deve -conforme eu havia argumentado em outro lugar- impor sobre as aglomerações urbanas requisitos de performance, alguns a um patamar nìtidamente superior aos atuais, e outros inteiramente novos. Tal performance dever naturalmente ser assegurada por uma infraestrutura urbana relativa a todos os aspectos da reprodução social, da produção de mercadorias à reprodução da força de trabalho. Para tomar apenas um exemplo, o transporte urbano não poderia continuar em seu estado de virtual abandono e preso a técnicas obsoletas. Em particular, o ritmo histórico de implantação dos Metrôs de São Paulo e Rio de Janeiro, equivalente a 2km de linha por ano na primeira dessas cidades, é insuficiente para sequer acompanhar o ritmo de crescimento de sua aglomeração urbana. Uma alteração qualitativa de tal quadro implicaria em algo como a quintuplicação do volume de investimentos para em torno de 0,5% do Produto Nacional por um período como 15 anos, para se chegar a uma rede da ordem de 300km de extensão, o que deixaria o índice de atendimento a níveis ainda baixos segundo padrões internacionais -inclusive os latino-americanos-, mas já seria compatível com uma elevação considerável da produtividade do trabalho. Considerações semelhantes valem também para outros elementos de infraestutura, como telefonia e telecomunicações, saneamento básico ou equipamentos e serviços de saúde e educação. Trata-se, em resumo, de uma mudança radical e não apenas de grau, com o abandono do princípio da escassez e sua substituição pelo reconhecimento das condições da reprodução social enquanto necessidade histórica, correspondente ao respectivo estágio de desenvolvimento. A ideologia
promove,
como
dizíamos, uma visão segundo a qual o processo de
desenvolvimento
é determinado externamente, fugindo ao alcance de membros da
sociedade.
Fomenta uma luta quixotesca contra inimigos imaginários,
promovidos
sob nomes de pseudo-conceitos -difundidos pela 'grande' imprensa e por
boa parte dos intelectuais que, coletivamente, os produziram-, tais
como fantasma
da inflação, espectro da recessão, problema
da dívida externa, ineficiência do Estado, fisiologismo
de parlamentares ou atraso da sociedade em
substitução
dos respectivos processos concretos, e que são, na verdade, os
próprios
instrumentos de manutenção do 'status quo'. Em
contraponto,
o enfoque sobre a dialética do processo social brasileiro
permite
romper a barreira ideológica e interpretar a atual crise pelo
que
ela é: uma crise de reprodução da sociedade de
elite
no âmbito da acumulação entravada que -e apesar das
tentativas de recomposição do status quo ante desde
o abandono do II PND há quase quinze anos-,
mantém
em aberto a questão mesma que todas as transições,
umas mais, outras menos, 'democráticas' pretenderam evitar, a
saber:
a questão da transformação da ordem social. Eu sinto ter de dizer que nesse parágrafo excessiva homenagem foi prestada à burguesia alemã. Tanto na Áustria como na Prússia ela tinha, de fato, a oportunidade de "ràpidamente colocar sob seu jugo" a monarquia "por meio da dívida nacional", mas ela não se valeu desta oportunidade em qualquer dos casos. (...) Essa burguesia não quer governar. Engels (1874) The Peasant War in Germany, Prefácio As respostas ou mesmo as implicações da questão colocada pela eventual transformação radical da economia e da sociedade brasileiras no bojo da transição para o estágio de acumulação intensiva foram simplesmente proteladas pelo imobilismo do Governo Sarney. As indefinições assim geradas em pràticamente todos os níveis e âmbitos da organização social, levadas ao paroxismo no final do mesmo governo e manifestas em hiperinflação e 'desassossego social' iminentes, trouxeram um imponderável como elemento novo, na forma da eleição de um presidente da república inteiramente fora do espectro político, vale dizer, dos partidos políticos estabelecidos. O novo governo
anunciou
no
dia de sua posse uma reforma econômica de tal profundidade que,
se
efetivamente implantada, leva à transformação de
algumas
das características seculares mais fundamentais da economia
brasileira,
referidas acima. Entre as medidas concretas estão o fim do
financiamento
automático do déficit público pela via da
emissão
de moeda, a unificação do planejamento,
execução
orçamentária e política monetária, a
montagem
de um sistema financeiro capaz de crédito de longa
maturação,
e drástica redução da imunidade fiscal -tantas
condições
elementares de uma estrutura de produção regulada sob a
primazia
do mercado. Nesse mesmo sentido, a reforma inclui ainda a
extinção
(ou o anúncio de intenção para tanto) das muletas
para indústrias selecionadas (subsídios, cartéis,
monopólios, nichos de proteção), assim como a
montagem
de sistema de financiamento do comércio exterior (até
hoje
dependente de crédito de curto prazo levantado na praça
de
Nova York), e mais geralmente, favorecimento do desenvolvimento do
Departamento
I (de produção dos meios de produção),
estímulo
ao progresso técnico e correspondente elevação dos
salários e primazia do mercado interno. No todo, tal reforma,
sempre
se implantada, equivale à remoção dos entraves
auto-impostos
à acumulação na economia brasileira. Por essa
razão,
de vez que uma tal transformação implica na
transformação
da própria sociedade -que deve perder seu caráter de
elite-,
a 'reforma' equivale também a uma revolução. Uma
revolução
'por cima', oriunda que é da cúpula do poder executivo, e
deixando a questão maior escancarada: qual a
sustentação
-se houver- para a efetiva implantação de tal 'reforma'? von Bismarck Collor de Mello? ... Bismarck realizou os anseios da burguesia alemã contra sua própria vontade. (...) A Prússia tornou a ser uma Grande Potência, e não mais a 'quinta roda' do carro da Europa. A realização das aspirações nacionais da burguesia ia de vento em popa, mas o método escolhido não foi o método liberal burguês. ... Bismarck executava seu programa nacional com uma velocidade e precisão que os enchia de espanto.
Os representantes dos 'eleitos' no Congresso (auto-denominados de representantes do 'povo') desdobravam-se em zêlos para 'defender' os salários dos mesmos trabalhadores, estando empenhados, de fato, no restabelecimento do status quo ante. Seus 'economistas' alardeavam os efeitos recessivos do 'plano' -como se em alguma economia a produção pudesse ser reorganizada sem uma queda da taxa de lucro ou de consumo-, preconizavam seu iminente 'fracasso', e pontificavam a dependência do país de investimentos e de tecnologia estrangeiros, re-entoando a ladainha dos 'liberais' do século passado e de sempre. Aparentemente, tudo como dantes, no quartel de Abranches ... No entanto, apesar da generalizada resistência à mudança, não emergiu qualquer projeto alternativo e assim, e sòmente por isso, a reforma vai se implantando aos trancos e barrancos e no reconhecimento recalcitrante da absoluta falta de alternativa. "Alternativa", no caso, seria a continuidade, o 'consenso' -isto é, a manutenção da acumulação entravada, expatriação de excedente e sociedade de elite- e isto, como vimos, é estágio superado devido à exaustão do estágio de acumulação predominantemente extensiva. Assim, a reforma é menos um grande desígnio, um 'novo projeto para o Brasil' que mera falta de alternativa para o desenvolvimento das forças produtivas, devido à inviabilização de acumulação com expatriação de excedente. O que caracteriza as posições assumidas, de um lado e outro, é a virtual ausência de uma ideologia que as acompanhasse. Com todos os problemas da ideologia liberal já assinalados, ficou ela por demais associada à manutenção do status quo para dela ser descolada de repente e poder ser utilizada pelo projeto oposto, e isto, apesar de que por seu conteúdo, a este teria melhor aderência. Em consequência, qualquer organização das posições políticas segundo linhas partidárias (ou 'propostas claras') fica virtualmente impedida. Daí o caráter bonapartista, a aparência de uma 'revolução por cima': contra tudo e contra todos, Fernando Otto von Bismarck Collor de Mello vai se mantendo como instrumento de uma transformação social profunda em fermentação. A menos de um ano de seu governo -ao se escrever as linhas deste epílogo, na tentativa de concluir uma interpretação da crise dos anos 80- permanece, é claro, em aberto o desfecho do processo em curso. Sabemos que * Este artigo foi republicado em 1999 como o primeiro capítulo de Deák, Csaba & Schiffer, Sueli (1999) O processo de urbanização no Brasil, Edusp/ Fupam, São Paulo Notas * O material deste capítulo foi
originalmente
apresentado no Seminário Re‑pensando o Brasil dos
anos 80, em novembro
de 1990 e publicado em seguida na revista Espaço
& Debates (32), como se esclarece nos
parágrafos introdutórios
que seguem. A parte revisões menores, o texto permanece
inalterado, inclusive
no uso de expressões que se referem ao tempo, tais como, ‘atual’
ou ‘recente’. [1] “Preliminares para
uma
política
urbana”, Deák (1988). [2] Uma
interpretação da crise
brasileira implica necessàriamente em uma
periodização do
capitalismo.
Assinale‑se desde já a oportunidade de atentar
para o parentesco, por um
lado, e sobretudo a diferenciação, por
outro, da conceituação aqui
proposta
com respeito a outras periodizações
pròpriamente ditas ou conceitos parciais
correlatas mais ou menos em voga, tais como,
pré‑capitalismo,
capitalismo
monopolista, dependente ou tardio,
regimes de acumulação
extensiva/intensiva,
Fordismo ou Fordismo periférico. [3] A própria
palavra
significa em
latim simplesmente fazenda (unidade
de produção, no caso,
agrícola). [4] Isto se refletia,
entre
outros,
na precariedade da estrutura produtiva da
colônia, se comparada com a
colônia americana da Inglaterra e que acabou perdendo seu
controle. Por outro
lado, a relativa fraqueza da estrutura
produtiva de Portugal permitia um
desenvolvimento maior da reprodução
brasileira local do que nas colônias
inglesas onde a Inglaterra seguiu a mesma
política de limitação da escala
da exploração, o que estabelece uma
especificidade do Brasil e também de
algumas colônias espanhóis em relação
às colônias inglesas e também
francesas da África e da Ásia. [5] Prado Jr
(1945):134-5. [6] “Eram na maioria
fazendeiros,
altos funcionários ou comerciantes
respeitáveis. Ligados entre si
por laços de família ...
Constituíam uma verdadeira oligarquia depois
da
Independência, integrando [todos os
escalões governamentais]. Dirigiram
o país até meados do século.” Viotti
(1968):118. [7] Citado em Viotti
(1968):118. [8] Para a Inglaterra,
Deane
&
Cole (1967), p.230; para o Brasil, Pinto (1968), p.141. [9] O
custo total das Guerras
Napoleônicas para a Inglaterra foi estimado em £10
milhão (David Harvey,
1979, em comunicação apresentada no
Seminário: Crescimento e pobreza
urbana, Recife, 1979); a renda externa
anual da Inglaterra em 1821, em £3 milhão (Deane
& Cole, 1967:36). [10] Entre
1823 e 1861 a balança
comercial brasileira só não era negativa
em seis anos isolados e nesses,
era virtualmente nula (Pinto,1968:144). O déficit
acumulado no período
chegava a £31 milhões (Prado Jr, 1945, Anexos)
– para então tornar‑se positivo e nunca mais cessar de alimentar
a amortização
da dívida. [11] Faoro (1957):403 e
405 (na
segunda citação, reticências omissas). [12] Oliveira (1972),
p.10. [13] Ignácio
Rangel
já em 1963
denunciava a 'ilusão estruturalista', que
apresentava como uma situação
de escassez aquilo que na verdade, era de
abundância –no caso, da capacidade
produtiva instalada (Rangel,1963, pp.28-35).
Mantega faz reparo similar
em relação aos cepalinos e dependentistas
cuja política 'de verniz nacionalista'
acabava por levar à 'invasão da economia
brasileira pelos capitais estrangeiros'
(Mantega,1984, pp.39-76). [14] A Lei
da Terra
institucionalizava uma pré‑condição do
trabalho
assalariado, a saber, a destituição do
trabalhador de seu meio de
subsistência, enquanto que a efetiva cessação
do tráfico negreiro nos anos
1850-51 (Bethell,1970) era a expressão de que sua
concorrência, o trabalho
escravo, tinha seus dias contados. Assim a
abolição da escravidão em 1888
era pouco mais de mera formalidade, quando
havia menos de 800.000
escravos no Brasil, para uma população de
14 milhões (Prado Júnior,
1945:181): os escravos constituíam menos de 20%
da força de trabalho, e se
considerada sua produtividade, seu peso na
produção era menor ainda. [15] A dialética
da
forma‑mercadoria
e as questões correlatas aqui resumidas são
discutidas em mais detalhes em
Deák (1985), especialmente pp.168ss
e 227ss, e Deák (1986). Aqui lembremos
apenas que neo‑liberalismo consiste precisamente na
tentativa quasi‑desesperada
de combater a tendência de expansão do
Estado no atual estágio intensivo do
capitalismo (vide 'Thatcherismo' e 'Reaganismo'),
inteiramente sem sucesso,
diga‑se de passagem: de fato, privatização
não é o mesmo que mercadorização:
em
uma dialética a negação da negação
não restitui a tendência negada. [16] Há uma
tese
polêmica de
Perry Anderson (Anderson,1987) severamente críticada por
Barratt Brown e
outros, segundo a qual na Inglaterra teria havido “por 300 anos, uma
hegemonia
da aristocracia e da nobreza
latifundiária ligadas a uma olgarquia
financeira,
com uma burguesia industrial subordinada” (no resumo de
Barratt Brown,1988
pp.36-7). Este não é o espaço para entrar no
mérito dessa questão, no entanto
é de se assinalar, tendo em vista a busca da
especificidade da sociedade
brasileira, que seja elite (com Anderson),
seja uma fração da burguesia
ligada ao ‘setor’ externo (com Barratt Brown)
aquilo que se contrapõe à burguesia
industrial ligada à produção
nacional, sua
sobrevivência/ fortalecimento
depende (no que concordam Anderson e Barratt Brown)
do fortalecimento dessa
última, de maneira que seus interesses de
classe são o mesmo, a saber,
acumulação em produção. O
conflito entre
tais frações de capital é apenas um dos
muitos que decorrem das contradições
do capitalismo, tais como conflitos de
interesse entre capitalistas individuais
e entre estes e capitalistas como classe, mas os
interesses de classe
acabam prevalecendo (e impõem a primazia do
princípio da acumulação), ao
passo que no Brasil, pelo contrário, a
sobrevivência da elite depende do
não‑fortalecimento da burguesia, como
será discutido adiante. [17] Referimo‑nos aqui a
medidas
tópicas apenas, tais como uma elevação excepcional
da taxa de juro ou uma restrição excepcional
do crédito. Na verdade nunca houve um sistema de
crédito no Brasil, nem
sistema financeiro digno desse nome, e que
sòmente poderia ser assegurado
pelo Estado – se se quisesse assegurar
condições de desenvolvimento à
produção, algo contrário à
hipótese, como estamos tentando mostrar.
Consequentemente,
“enquanto na Europa pagava‑se de 4 a 5 por cento
(de juros sobre o capital),
no Brasil cobrava‑se de 8 a 10 por cento” (Luz, 1961:37). [18] Sacrificava‑se a
produção dos
meios de produção em nome de uma
ladainha que focalizava os meios de
consumo, do tipo: “a finalidade da indústria... é tornar
possível o máximo de
consumo... aumentando o poder aquisitivo do homem e
diminuindo o preço dos
produtos” (Joaquim Murtinho em 1901, cit.in
Luz, 1961:87). [19] Como no relato
magnífico de
Vilela Luz. As crises observam uma periodicidade de
20 a 30 anos e uma
semelhança espantosa na retórica utilizada, no
desenrolar e no resultado. [20] Fernandes (1972):36. [21] Este
provàvelmente
é também o
ponto em que as histórias dos países
latino‑americanos divergem e a
razão
que previne contra generalizações e
comparações de resto atraentes,
mas
que requereriam uma interpretação similar
específica para cada país. [22] Gazeta
Mercantil,
3.6.88:1. [23] Sobre a
especificidade do
conceito de 'urbano', eu argumentava em Deák
(1986), que a única especificidade,
isto é, sentido, que se pode atribuir a esse termo
é aquele que o mesmo adquire
na expressão 'aglomeração urbana', sendo
essa última um adensamento dos processos
de reprodução social, onde algumas
contradições do capitalismo
manifestam‑se
em conflitos particularmente agudos ou
intensos. São esses conflitos que
tem sido erigidos em 'problemas' ou
'questões' urbanas em seu
próprio
direito e analisados enquanto tais por disciplinas
fragmentadas como “urbanismo”
ou sub‑fragmentos de disciplinas –já
fragmentadas– tais como “economia”,
“sociologia”, “geografia” etc. “urbanas”. [24] Deák (1988). [25] Uma quantificação da demanda por
transporte coletivo para São Paulo,
assim como uma análise do investimento para
atendê-la, encontram‑se no
Capítulo 9. [26] Engels (1888):56-8;
61-7. [27] É espantosa
a
facilidade com a
qual se propagam idéias tais como aquela segundo a
qual o Brasil 'precisa'
de investimento (ou empréstimo) estrangeiro (para
sustentar taxas de crescimento
acelerado, ou 'viabilizar o crescimento') por falta de 'capacidade
de poupança'
interna. Tal concepção, além de compartilhar a
noção, já referida, de que os
destinos do país residem fora dele, ignora o fato
elementar de que o
investimento externo ('direto') nunca chegou a 1%
(-um-por-cento-) do PIB
nas últimas três décadas, à
exceção de 1973, ano em que estabeleceu o
recorde
de 1,1% (cf. Tabela 1 em Anexo). já
se disse até que o 'milagre brasileiro'
também foi 'financiado' pelo
capital estrangeiro, quando o país manteve uma taxa de
investimento de
23-27% do PIB, sustentando uma taxa de crescimento de 9-14%, sem
qualquer
'contribuição' externa: o investimento
direto já foi comentado, mas mesmo a
'entrada líquida de capital' (que já inclui
empréstimos) era virtualmente
nula em um primeiro período (de fato, acumulou em
saldo negativo no
quadriênio 1968-71), para em seu auge subir a um pico
de 4.5% do PIB em 1972
(e se manter acima de 2% por mais dois anos),
inteiramente desnecessária
para acelerar o crescimento que já estava acima de 11%
ao ano –e boa parte
dela ser simplesmente entesourada na forma de
aumento das reservas
internacionais, como assinala Cruz (1983) :65ss
(ver também itens selecionados das contas
nacionais da
referida Tabela 1 do Anexo). Contra
esse pano de fundo e tais ordens de magnitude, é
ridículo esperar que a
taxa de investimento extremamente baixa
dos últimos anos (14% em 1990
[est]) possa ser elevada a algo como 25% do PIB com base em investimento
estrangeiro
(que, ademais, nos últimos anos
anda na casa de 3 a 6% negativos). Tal nível de
investimento, necessário para
se alcançar uma taxa de crescimento da ordem de 6% ao
ano, sòmente pode ser
conseguida com base em uma política
econômica voltada para esse fim, com ‑‑não
é demais repetir‑‑ a constituição de um
sistema financeiro, crédito de longa
maturação, controle de
monopólios, subsídio às
indústrias‑chave, notadamente
àquelas do Departamento I, dos
meios de produção (ao invés da cana de
açúcar, por exemplo), política
tarifária e cambial ativa etc. – vale dizer, o exato
oposto da política que
històricamente prevaleceu. [28] Em retrospecto,
poderia
parecer
que o movimento da unificação alemã sob a
liderança da Prússia, que
transformou uma constelação de
micro‑principados de constituição
arc ica (monarquia absolutista) em uma nação de
primeira grandeza durante
o meio século que vai do fim das guerras napoleônicas
até 1870, e que desafiava
a própria preponderância
britânica, era movido por algum grande desígnio,
um projeto geo‑político de grande envergadura,
concebido e executado por por
alguém ou algum grupo político ou classe
social. Na verdade (ver Engels,1888,
pp.47-9), trata‑se mais de um rumo seguido na falta absoluta de
alternativas
pelo desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. [29] Segundo tirada de
Chico de
Oliveira (Oliveira,1990). Bonapartismo é
precisamente a implantação, por
meios não‑burgueses (ou 'liberais'), de um projeto
não‑hegemônico (por não
estar apoiado em uma ideologia) no interesse da burguesia
enquanto classe,
mas contra a vontade expressa de seus próprios membros
(vide Engels,1888). Referências
BARRATT BROWN, Michael (1988) "Away with all the great arches: Anderson's history of British capitalism" New Left Review 167:26-51 BETHELL, Leslie (1970) A abolição do tráfico de escravos no Brasil (A Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos 1807-1869 Expressão e Cultura/Edusp, São Paulo, 1976 CRUZ, Paulo Davidoff (1983) "Notas sobre o endividamento externo brasileiro nos anos setenta" in Belluzzo,Luiz Gonzaga & Coutinho, Renata (Org,1983) Desenvolvimento capitalista no Brasil, Nº2/ Ensaios sobre a crise Brasiliense, São Paulo DEÁK, Csaba (1985) Rent theory and the price of urban land/ Spatial organization in a capitalist economy PhD Thesis, Cambridge DEÁK, Csaba (1986) "The
market and the State in spatial organization of capitalist production"
Comunicação apresentada à BISS 1986 -Bartlett
International
Summer School, Dessau DEÁK, Csaba (1988b) "The crisis of hindered accumulation in Brazil/ And questions of urban policy" BARTLETT INTERNATIONAL SUMMER SCHOOL, Mexico, Proceedings, London DEÁK, Csaba (1990) "Elementos para uma política de transportes públicos em São Paulo" Espaço & Debates 30:42-55 DEANE, Phyllis & COLE, W A (1967) British economic growth 1688-1959 CUP, Cambridge ENGELS, Friedrich (1885) "Introduction" to MARX, Karl (1850) The class struggles in France, 1848-50 Progress, Moscou, 1979 ENGELS, Friedrich (1888) The role of force in History Lawrence & Wishart, London, 1968 FAORO, Raimundo (1957) Os donos do poder/ Formação do patronato político brasileiro Globo, Rio de Janeiro,1984 FERNANDES, Florestan (1972) "Classes sociais na América Latina" in Fernandes (1972) Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina Zahar, São Paulo, 1981 MANTEGA, Guido (1984) A economia política brasileira Polis, São Paulo LUZ, Nícia Vilela (1961) A luta pela industrialização do Brasil Alfa-Omega, São Paulo, 1975 MOTTA, Carlos Guilherme da (1968) O Brasil em perspectiva Difel, São Paulo OLIVEIRA, Francisco (1972) "A economia brasileira: Crítica à razão dualista" Cadernos Cebrap, 2:5-98 OLIVEIRA, Francisco (1977) A economia da dependência imperfeita Graal, São Paulo OLIVEIRA, Francisco (1990) "Fernando Otto von Bismarck Collor de Mello" Folha de SP, 26.3.90:3 PINTO, Virgílio N (1968) "Balanço das transformações econômicas no século XIX" in Motta (1968) PRADO Jr,Caio (1945) História econômica do Brasil Brasiliense, São Paulo, 1986 VIOTTI da Costa, Emília (1968) "Introdução ao estudo da emancipação política" in Motta (1968)![]() Anexo Balanço de pagamentos, Brasil 1959-90 Taxas de acumulação, investimento e expatriação Apresentamos aqui alguns itens selecionados das contas nacionais, agrupados de maneira a permitir uma avaliação da evolução recente da economia brasileira (1959-90) e do papel do capital estrangeiro, ou, em um sentido mais lato, das contas externas do país. A
evolução
do produto nacional é uma boa medida da taxa de
acumulação
em si. O saldo da conta de capitais, isto é, conta de
serviços
mais empréstimos menos amortizações, é uma
medida razoável da expatriação de excedente
(Tabela
1) -que admitiria a alternativa de se considerar o saldo da
balança
comercial (exportações menos importações)
menos
a variação das reservas internacionais (Tabela 2),
desprezando,
no entanto, o déficit (ou mais raramente, superávit) das
transações correntes. Cruz (1983), por sua vez, deduz os
servicos "de alguma forma produtivos" (fretes, seguros etc.) da conta
de
serviços, desprezando com isto o fato que tais itens são
crônicamente negativos precisamente para a, ou em
função
da, reprodução do entravamento da
acumulação.
Por essa razão, nas ilustrações das Figuras 1-3, a
expatriação é medida pela primeira dessas
alternativas. ![]() Figura 1 Brasil
1959-90:
Taxas de Investimento A Figura 1 representa simplesmente a taxa de investimento, medida pela formação bruta de capital fixo- FBCF (azul) --que determina em boa medida, a taxa de acumulação futura--, os investimentos externos diretos (vermelho) e a conta de capital (verde), contra o pano de fundo da evolução do produto nacional- PIB (pardo). Figura 2 Brasil
1959-90:
Acumulação e expatriação
Figura 3 Brasil
1959-90:
Expatriação e renda Tabela 1: BRASIL, 1959-88
P I B C O N T A DE C A P I T A L Expatriação Tx inv Tx jur
Fontes: [1] De [2] com 1980: Baer (1989):102; valores correntes segundo a inflação do dólar. [2] 1959-63:Baer (1989):61; 1964-70: idem, p.81; 1971-88: IBGE (1989); 1989-90: aprox. [3] 1959-76: IBGE (1968-76: inclui reinvestimento); 1977-90: CjEcon. [4] IBGE. [5],[6] 1959-87: IBGE; 1988-90: CjEcon. [9] 1965-9: Paiva et alii (1987):181; 1970-88: IBGE (1989). [10] Taxa de juro real sobre a dívida externa. BAER (1989): 106. BRASIL, 1959-88
Fontes: [11],
[12] 1959-88: IBGE;
1989-90: CjEcon. Referências das fontes citadas: IBGE: Anuário estatísticoIBGE (1988) Contas nacionais consolidadas do Brasil CjEcon: Conjuntura Econômica BAER,Werner (1989ed) The Brazilian economy Preager, New York PAIVA, Paulo et alii (1987) Plano Cruzado/ Ataque e defesa, Forense Universitária, Rio de Janeiro |