Folha de S Paulo, 2002.2.1 A1,B1
Venda
do Brasil
Desnacionalização
da indústria
De 1991 a 1999, a
participação do faturamento das firmas estrangeiras aumentou
de 36% nas 350 maiores indústrias, para 54% (estatais: 21->13%).
Nos setores de ponta (difusores de tecnologia"),
esses valores são 60% para 87% (estatais .8->0%); na infraestrutura:
21 para 33% (estatais 42->26); na indústria 'tradicional' (de consumo),
37->49 (estatais: )->0).(*)
A recessão provocada pelo aperto de crédito,
combinada com o debilitação da indústria nacional
através da supervalorização do real -- tudo em nome
da estabilização da moeda-- desvalorizaram as empresas nacionais
que assim viraram presa fácil ao capital estrangeiro. Para quem
não percebesse, o diretor do Banco Central (nosso) chamava atenção:
Os ativos brasileiros estão agora
tão desvalorizados que sua compra se torna vantajosa para firmas
estrangeiras
1994-5 Gustavo Franco
Como se vê nos gráficos acima, a operação tem
precisão de bisturi e visa prioritáriamente os setores-chave
da economia (como a indústria de tecnologia de ponta). Nada novo;
apenas a ilustração do porque da 'atrofia crônica'
do Departamento I [dos meios de produção]
"O estrangeiro veio para o Brasil para participar da privatização
e da compra de empresas nacionais, que estavam estranguladas financeiramente."
Julio S G de Almeida, diretor-executivo do Iedi
(*) Instituto de Economia da UFRJ; in FolhaS Paulo,
2.2.10: A1;B1
Mais tarde, o lamento do presidente:
Presidente diz, no Uruguai, que setrores financeiros querem
calote
Para FHC, Brasil sofre "asfixia" dos mercados
"alguns setores financeiros insistem em que não
paguemos, asfixiando-nos para que não possamos pagar", em discurso
ante a Assembléia Geral do Uruguai."
(FolhaSP,2.8.21:A1)
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Farmacéutica
Editorial Folha
de SP, 18 de janeiro de 2003
( O ministro da
saúde, Humberto Costa, vem afirmando que, para controlar o preço
dos medicamentos, pretende mampliar a produção dos laboratórios
estatais, hoje em torno de 3% do consumo nacional.)
(...)
No Brasil, a indústria nacional
de medicamentos caminhou para trás. Hoje, praticamente tudo é
importado. Mesmo os laboratórios nacioonais que produzem genéricos
trazem do exterior o fármaco, limitando-se a transformá-lo
em pílulas. ...(E)xiste aí um importante ralo de dólares.
E o Brasil pode, com um investimento modesto, voltar a fabricar, por meio
de laboratórios oficiais e privados, algumas das drogas mais relevantes
para a saúde pública.
São Paulo,
domingo, 05 de janeiro de 2003
LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Os riscos da travessia
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Nos oito anos de "política
modernizadora", o governo FHC procurou executar diligentemente a agenda
reformista do regime dólar-Wall Street: abertura financeira, desregulamentação,
privatizações e flexibilização dos mercados
de trabalho.
Durante os dois mandatos,
nossos ouvidos foram emprenhados pela retórica do "Novo Renascimento",
pelas teorias "neobobas" da integração competitiva e por
tolices sobre as virtudes da taxa de câmbio valorizada. Essa mixórdia
ideológica e pseudocientífica era supostamente portadora
de estímulos aos ganhos de produtividade e de bem-estar. Mas, na
vida real, teve apenas um propósito: armar outro ciclo de endividamento
externo e de enriquecimento rápido da piranhagem daqui e de fora.
No momento azado, escapuliram com a grana.
Dessa vez, os bons de bico
-nacionais e estrangeiros- não levaram apenas o dinheiro e as jóias
da casa, como fizeram na crise cambial dos anos 80. Carregaram os móveis,
arrancaram as pias, as banheiras e a louça sanitária. Depois
de tais peripécias, ainda têm a cara-de-pau de reivindicar
a posição de guardiões da estabilidade e das boas
políticas, enquanto mandam a conta do desemprego e da queda dos
salários para os que moram nos fundos e nos porões.
(...)
O último grito nos
laboratórios da sabedoria financeira nativa é a adoção
progressiva da conversibilidade do real com taxas flutuantes. Os que advogam
tal providência são adeptos da idéia de que, no mundo
das finanças internacionais, todos os gatos são pardos: não
parecem levar em conta que o sistema monetário global é constituído
por uma hierarquia de moedas, umas mais "líquidas" do que outras.
É improvável, por exemplo, que um exportador alemão
e um importador japonês escolham o real como moeda de transação
nos seus negócios ou que, no mercado de Nova York, surjam investidores
ansiosos para adquirir títulos de dívida denominados em reais.
Pois a razão maior
do fracasso econômico de FHC foi não ter -vamos ser generosos-
compreendido as armadilhas da abertura financeira. Daí nasceu uma
economia sem instrumentos de governança, sem liberdade de utilizar
instrumentos fiscais e monetários compatíveis com o crescimento
e incapaz de engendrar estratégias de longo prazo.
... O processo de privatização
teria sido uma boa oportunidade para reestruturar e centralizar o capital
nacional, colocando a grande empresa brasileira num nível intermediário
de competitividade, com chances de avançar para patamares mais elevados.
Imagino que alguns dos responsáveis pelo programa de transferência
de ativos públicos para o controle privado tenham pensado nisso.
Foram atropelados pelas consequências de um regime cambial absurdo
e pelas idéias toscas sobre a globalização, duas pérolas
do ex-presidente.
DESABAFO
JOSEPH COURI
Presidente
do Simpi (Sindicato de pequenas e médias empresas)
Os patamares
de juros aplicados hoje no Brasil só são viáveis para
quem produz e vende cocaína. O único jeito de termos mais
emprego e produção é com crescimento do mercado interno,
aumento do poder aquisitivo. Estamos esquecendo nosso mercado interno,
o que é um crime.
Folha de S Paulo,
3.5.31:B5
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econômica
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entravada no Brasil |