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Espaço
em matemática - O plano cartesiano é o
próprio
modelo do espaço do mercado unificado de uma sociedade capitalista.
Um espaço é
definido por uma métrica, que é uma
representação
de como se desloca entre dois pontos. Para as métricas
ilustradas,
os contornos em linha grossa representam pontos equidistantes (‘bolas’)
dos respectivos ‘centros’ -- pontos C. Ainda que isso não seja
seu
objetivo principal, os exemplos correspondem de fato a estruras
espaciais
concretas bastante comuns: a malha ortogonal quadrada; a mesma
exceto
que se move mais facilmente (digamos, mais rápido) em uma das
dirações;
um plano isótropo sobre a qual se move livremente em todas as
direções
(como no mar, no ar, ou no deserto); e o mesmo sobre um plano inclinado
segundo o eixo Ox. |
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Produção
do espaço*
Os conceitos
de espaço e de localização
(locus) derivam
da prática social de produção e
reprodução
no contexto da divisão social do trabalho. Toda sociedade
precisa
de um território para viver; com a divisão social do
trabalho
esse território é estruturado em
espaço.
Atividades, isto é, processos de produção e
reprodução --que do ponto de vista da
organização espacial constituem o uso do solo--,
requerem uma localização,
e entre essas
localizações
se estabelece uma interconexão de acordo com a
interação
entre aquelas atividades. Tal interconexão é o
próprio
estofo, matéria constituinte do espaço e define como o
espaço
está estruturado.
A mais simples
–a mais abstrata– representação do espaço é
o espaço matemático. Em matemática o espaço
é definido pelo modo segundo o qual as distâncias entre
pontos
são medidas: uma métrica. Em outros termos, espaço
é formado por pontos –localizações adimensionais–
relacionados entre si de uma maneira específica, descrita pela
métrica
que o define. Localização e espaço são
definidas
simultaneamente, a matéria constitutiva do espaço sendo o
conjunto de relações entre as localizações
nele contidas, e a especificidade do espaço consistindo na
maneira
específica pela qual as localizações são
relacionadas
entre si.
No mundo concreto
em que as sociedades vivem, tanto as localizações como as
relações entre as mesmas –que constituem o espaço
econômico– precisam se materializar, e para tanto, precisam ser
produzidas.
As localizações, de ‘pontos’, se transformam em
extensões
finitas, delimitadas, de território, cuja expressão
elementar
é a forma jurídica de propriedade
(ou, anteriormente,
direito
feudal) –uma porção de terra, uma área
construída
(fábrica, habitação, escritório etc)–
materializada
em uma superestrutura assentada sobre, abaixo ou acima da
superfície
terrestre.1 Do mesmo modo, as relações
que
constituem o espaço econômico são caminhos,
estradas,
fios, cabos, tubulações, antenas, satélites etc,
pelos
quais objetos materiais e pessoas podem ser transportados de
localização
a localização. São estruturas físicas –em
seu
conjunto uma infraestrutura– e devem ser construídas para
existirem.
Somente assim a distância entre duas localizações
(em
comprimento, em tempo, em custo monetário), a estrutura do
espaço
e em última análise, o prório espaço, se
materializa.
O espaço econômico é um produto do trabalho.
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Espaço é produzido;
localizações --que não podem ser produzidas
individualmente-- resultam.
Produção do
espaço é
atribuição precípua do Estado, que delega o uso das
localizações resultantes –o uso do solo– à
regulação, sob
restrições, pelo mercado.
Planejamento é a
explicitação do projeto e produção do
conjunto das infraestruturas.
O planejamento referente específicamente à
produção do espaço se denomina de planejamento
territorial ou urbano, segundo os âmbitos nacional e da
aglomeração urbana,
respectivamente.
Notas
* Texto baseado em Deák (2001).
pp.85-7.
1 Notar
que a forma mais simples de localização, uma
porção
de terra, já é um produto social materializado –mesmo se
não considerarmos a cerca a seu redor– num título legal
escrito,
a concreção do qual os pequenos proprietários
(freeholders)
da Inglaterra do século XVII sentiram duramente na pele,
após
a abolição do direito feudal pela
instituição
do direito burguês à terra – a saber, a propriedade
privada
(Hill,1967:147).
Bibliografia
Deák, Csaba
(1985) Rent theory and the price of urban land/ Spatial
organization
in a capitalist economy PhD Thesis, Cambridge, Chap.4, pp. 85-7.
Versão port. Deák, Csaba
(2001) À busca das categorias da produção do
espaço
Tese de LD, FAUUSP, São Paulo, Cap.5.
Hill, Christopher (1967) Reformation
to industrial revolution Penguin, Harmondsworth, 1969
cd, 4.9.11
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