.Verbetes
 

Periodização do capitalismo


Versão preliminar 4.6.9
Rev. 4.11.29; 11.9.8
.Conexões
 Capitalismo.|.Estágos de desenvolvimento.|.Formas ideológicas



period-K/ cd, 4.6.9

 



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Periodização do capitalismo

Uma periodização de um modo de produção consiste em distinguir estágios de desenvolvimento segundo as condições em que se dá a reprodução da relação social predominante, no caso do capitalismo, a trabalho assalariado e a correspondente mercadorização da produção.

A periodização mais relevante por se referir diretamente às condições do processo de acumulação, distingue, com Aglietta (1976), o estágio de acumulação predominantemente extensiva, ou estágio extensivo, seguido do estágio de acumulação predominantemente intensiva, ou estágio intensivo.

No estágio extensivo, na sequência da dissolução da ordem feudal e do trabalho servil, o assalariamento da força de trabalho, primeiro incipiente, foi se extendendo --daí seu nome-- mediante o paulatina eliminação das terras comunais ('cercamentos') e sua transformação em propriedade. O estágio (de acumulação predominantemente) extensivo se caracteriza por rápido crescimento da produção de mercadorias movido pela taxa de excedente do trabalho assalariado, mais o ritmo de extensão da relação salário em detrimento às relações precapitalistas de produção: servidão, trabalhadores livres, produtores independentes, produção para a subsistência. 

Quando este estágio de desenvolvimento se esgota, não havendo mais espaço para a extensão da produção de mercadorias, o capitalismo entra em seu estágio intensivo. Neste o trabalho assalariado não mais pode ser extendido, apenas intensificado, mediante a elevação da produtividade do trabalho, que por sua vez depende do progresso das técnicas de produção. Este passa a ser a única fonte de expansão da produção de mercadorias.

O estágio intensivo se satura por sua vez com o desenvolvimento das técnicas de produção (e crescente automação), dando lugar a uma crise de superprodução e o estreitamento do ãmbito de produção de mercadorias., como a partir da exaustão do 'boom' da reconstrução pós-guerra, nos meados da década de 1960. Esse é o estágio contemporâneo, ou capitalismo tardio (Mandel), mais própriamente a crise do capitalismocrise K do que estágio de desenvolvimento. A crise do capitalismo desemboca, na verdade, em uma crise de amplitude maior ainda: tornou-se 'insustentável' também a manutenção do simples crescimento do consumo (e evidentemente, da produção) pela exaustão dos recursos naturais, o que coloca em xeque já não sòmente o capitalismo, senão a própria reprodução ampliada.

A polêmica da periodização


Outras periodizações do capitalismo
(Texto abaixo: Nota 12 de Deák (1989) "O mercado e o Estado..."

À primeira vista, é surpreendente a que ponto se generalizou designar este estágio inicial do capitalismo de ‘livre-comércio’ ou de capitalismo ‘concorrencial’ . Tais termos, além de serem relativamente irrelevantes do ponto de vista da acumulação, são na melhor das hipóteses enganosos, se se considerar que dos cerca de dois séculos nesse estágio, a Inglaterra – no intuito de assegurar o desenvolvimento de suas próprias indústrias, livre da concorrência da indústria bem mais avançada do noroeste da Europa – seguiu uma política ferrenhamente protecionista durante mais de um século e meio a partir da Revolução Inglesa e até as Guerras Napoleônicas (Hill, 1967, p.181), ao passo que a política de ‘livre-comércio’ teve a vida efêmera de parcos 20 anos no final desse estágio (1846-65) – depois que a política de protecionismo havia afinal surtido seu efeito espetacular que chegou a ser chamado de ‘revolução industrial’. Este estágio, que tarnbém poderia ser chamado de ‘capitalismo em um só país’, por se restringir essencialmente à Inglaterra, termina com a expansão do capitalismo pelo mundo durante o século XIX e desemboca no imperialismo, estágio esse também comumente chamado de monopolista' com uma variante posterior de capitalismo ‘monopolista de Estado’ com igual falta de fundamento. (Monopólio não é específico a qualquer estágio do capitalismo em particular: ele não é específico nem ao próprio capitalismo). Por essa razão, além dos razoavelmente óbvios termos ‘estágio inicial’ e ‘imperialismo’ utilizamos também (estágio de) acumulação ‘predominantemente extensiva’ e ‘predominantemente intensiva’ como em Aglietta (1976), onde estes conceitos vêm acoplados ao conceito adicional de "regimes de acumulação". O conceito de regime de acumulação de Aglietta não deixa de ser problemático e não precisamos aceitá-lo, mas as expressões ‘predominantemente extensivo’ e `predominantemente intensivo' apontam com precisão um aspecto crucial de cada estágio, respectivamente. No primeiro, a expansão da produção de mercadorias se baseia principalmente na extensão das relações de produção capitalista (isto é, do trabalho assalariado) em detrimento de relações pré-capitalistas, enquanto no último, uma vez esgotadas as possibilidades do primeiro, a expansão só pode se dar mediante a intensificação da produção através do progresso técnico (vale dizer, mediante aumento da produtividade do trabalho).   

acumulação entravada.Os estágios de desenvolvimento do capitalismo no Brasil 
Bibliografia
  • Aglietta, Michel (1976) Une théorie de la regulation du capitalisme Maspéro, Paris 
  • Deák (1989) "O mercado e o Estado na produção capitalista" Espaço & Debates 28:18-31
  • Hill, 1967, p.181*
  • Mandel, Ernst (1972) Late capitalism Verso, London, 1978
  • Ricardo, David (1817) Principles of Political economy Dent & Dutton, London
  • cd,4.6.9


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