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Periodização
do
capitalismo
Uma
periodização de
um modo de produção consiste em distinguir estágios
de
desenvolvimento segundo as condições em que se
dá
a reprodução da relação social
predominante,
no caso do capitalismo, a trabalho assalariado e a correspondente
mercadorização
da produção.
A
periodização mais
relevante por se referir diretamente às condições
do processo de acumulação, distingue, com Aglietta
(1976), o estágio de
acumulação
predominantemente extensiva, ou estágio
extensivo,
seguido do estágio de acumulação
predominantemente
intensiva,
ou estágio intensivo.
No estágio
extensivo, na sequência
da dissolução da ordem feudal e do trabalho servil, o
assalariamento
da força de trabalho, primeiro incipiente, foi se extendendo
--daí
seu nome-- mediante o paulatina eliminação das terras
comunais
('cercamentos') e sua transformação em propriedade. O
estágio
(de acumulação predominantemente) extensivo se
caracteriza
por rápido crescimento da produção de mercadorias
movido pela taxa de excedente do trabalho assalariado, mais o
ritmo
de extensão da relação salário em
detrimento
às relações precapitalistas de
produção:
servidão, trabalhadores livres, produtores independentes,
produção
para a subsistência.
Quando este
estágio de desenvolvimento
se esgota, não havendo mais espaço para a
extensão
da produção de mercadorias, o capitalismo entra em seu estágio
intensivo.
Neste o trabalho assalariado
não
mais pode ser extendido, apenas intensificado, mediante a
elevação
da produtividade do trabalho, que por sua vez depende do progresso das
técnicas de produção. Este passa a ser a
única
fonte de expansão da produção de mercadorias.
O estágio
intensivo se satura
por sua vez com o desenvolvimento das técnicas de
produção
(e crescente automação), dando lugar a uma crise de
superprodução
e o estreitamento do ãmbito de produção de
mercadorias.,
como a partir da exaustão do 'boom' da
reconstrução
pós-guerra, nos meados da década de 1960. Esse é o
estágio contemporâneo, ou capitalismo tardio
(Mandel),
mais própriamente a crise do capitalismo
do que estágio de desenvolvimento. A crise do capitalismo
desemboca,
na verdade, em uma crise de amplitude maior ainda: tornou-se 'insustentável'
também a manutenção do simples crescimento do
consumo
(e evidentemente, da produção) pela exaustão dos
recursos
naturais, o que coloca em xeque já não sòmente o
capitalismo,
senão a própria reprodução ampliada.
A
polêmica
da
periodização
Outras
periodizações
do capitalismo
(Texto
abaixo:
Nota
12 de Deák (1989) "O
mercado e o Estado..."
À
primeira
vista,
é surpreendente a que ponto se generalizou designar este
estágio inicial do capitalismo de ‘livre-comércio’ ou de
capitalismo ‘concorrencial’
. Tais termos, além de serem relativamente irrelevantes do ponto
de vista da acumulação, são na melhor das
hipóteses
enganosos, se
se considerar
que dos cerca de dois séculos nesse estágio, a Inglaterra
– no intuito de assegurar o desenvolvimento de suas próprias
indústrias,
livre da concorrência da indústria bem mais
avançada
do noroeste da Europa – seguiu uma política ferrenhamente
protecionista
durante mais de um século e meio a partir da
Revolução
Inglesa e até as Guerras Napoleônicas (Hill, 1967, p.181),
ao passo que a política de ‘livre-comércio’ teve a vida
efêmera
de parcos 20 anos no final desse estágio (1846-65) – depois que
a política de protecionismo havia afinal surtido seu efeito
espetacular
que chegou a ser chamado de ‘revolução industrial’. Este
estágio, que tarnbém poderia ser chamado de ‘capitalismo
em um só país’, por se restringir essencialmente à
Inglaterra, termina com a expansão do capitalismo pelo mundo
durante
o século XIX e desemboca no imperialismo, estágio esse
também
comumente chamado de monopolista' com uma variante posterior de
capitalismo
‘monopolista de Estado’ com igual falta de fundamento.
(Monopólio
não é específico a qualquer estágio do
capitalismo
em particular: ele não é específico nem ao
próprio
capitalismo). Por essa razão, além dos razoavelmente
óbvios
termos ‘estágio inicial’ e ‘imperialismo’ utilizamos
também (estágio
de) acumulação ‘predominantemente extensiva’ e
‘predominantemente
intensiva’ como em Aglietta (1976), onde estes conceitos vêm
acoplados
ao conceito adicional de "regimes de acumulação". O
conceito
de regime de acumulação de Aglietta não deixa de
ser
problemático e não precisamos aceitá-lo, mas as
expressões
‘predominantemente extensivo’ e `predominantemente intensivo' apontam
com
precisão um aspecto crucial de cada estágio,
respectivamente.
No primeiro, a expansão da produção de mercadorias
se baseia principalmente na extensão das relações
de produção capitalista (isto é, do trabalho
assalariado)
em detrimento de relações pré-capitalistas,
enquanto
no último, uma vez esgotadas as possibilidades do primeiro, a
expansão
só pode se dar mediante a intensificação da
produção
através do progresso técnico (vale dizer, mediante
aumento
da produtividade do trabalho).
.Os
estágios de desenvolvimento do capitalismo no Brasil
Bibliografia
Aglietta, Michel
(1976) Une théorie de la regulation du capitalisme
Maspéro,
Paris
Deák
(1989)
"O mercado e o Estado na
produção capitalista" Espaço
& Debates 28:18-31
Hill,
1967, p.181*
Mandel,
Ernst
(1972) Late capitalism Verso, London, 1978
Ricardo,
David
(1817) Principles of Political economy Dent & Dutton, London
cd,4.6.9
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