PEQUENA HISTÓRIA DA
HUNGRIA I.
Da fundação à alta
Idade Média
(Até 1500)
Os reis Anjou
[1308-1382]
A luta dinástica que se seguiu à
extinção da casa de Árpád deu‑se –mais uma vez–, contra o pano de fundo da rivalidade entre o Papado e o Sacro Império (germânico). Cada um tinha seu candidato:
o primeiro, Carlos
Roberto Anjou, descendente do Rei de Nápoles
e da rainha abandonada
de László (O Kuno); o segundo apoiava
inicialmente o menor Venceslau
e depois, Bávaro Otto, ambos bisneto e neto, respectivamente, de Béla IV
pela linha feminina. Os primeiros movimentos pareciam
favorecer esses últimos, mas após breves períodos de presença (dizer ‘reinado’ seria exagero) ambos foram expulsos do país e finalmente Anjou foi
coroado rei para ser
Károly I (1308-42).
O longo reinado de Károly
Anjou começou com uma década e meia de luta encarniçada
durante a qual o
habilidoso e enérgico Károly
quebrou os oligarcas
agigantados durante o último meio século e
reconstituiu a monarquia centralizada com base em uma nova nobreza criada por ele e cuja submissão lhe era assim assegurada.
Vindo da Itália rica em prósperas cidades, estimulava
a formação de novas praças de mercado, burgos e cidades‑livres, à
maneira de Béla III.
Sua política externa
baseava‑se na idéia de contrabalançar a pressão do império
germânico, e suas alianças e contatos nesse sentido iam do Reino de Nápolis
(sua terra natal) até a Polônia,
presentemente às voltas com problemas sucessórios,
estabelecendo laços familiares em ambos os reinos, que vingaria m durante o reino de seu filho e sucessor. Seu grande fracasso foi não conseguir segurar a costa Adriática mesmo ao preço de custosas
campanhas contra Veneza, principalmente em consequência da
falta de visão de seus prepostos para a região que não tinham
tino para a administração de cidades livres,
portuárias, e orientadas para o comércio marítimo, e que assim perderam sua tradicional
preferência de pertencer à Hungria,
para o arqui‑rival
dessa, Veneza. Restabeleceu no entanto o poder
central, a
administração e as finanças do país, sendo
reconhecido como rei que ganhou o epiteto Nagy (Grande)
.
Károly
Anjou
coroado, 1308.
|
Csák
Máté,
a quase-lendária figura e um dos
maiores potentados que
'reinava' no noroeste da Hungria
(cf. mapa
da seção anterior).
|
Boa
parte dos frutos do trabalho árduo de Károly foi
colhida por seu filho Lajos, o Magno (1342-82). Um
projeto de união com o Reino e Nápole falhou
– seria a mesclagem de duas sociedades diferentes demais– mas, com o poder interno firmemente assegurado, e aliado à tradicional rival de Veneza,
Gênova, reconquistou (e conservou
contra várias tentativas de reconquista por parte de Veneza) a
Dalmácia, e estendeu a sua soberania aos estados limítrofes de Bósnia,
Valáchia e Moldávia.
Enquanto isso, na Anatólia, um clã otomano comecou a
conquistar a preponderância em meio à constelação de emirados turcos e
unificá-los sob seu domínio na região
noroeste, reduzindo também, no processo, o
Império Bizantino a um pequeno
enclave em torno de Constatinopla. Em 1353 os otomanos
cruzaram as Dardanelas e estabeleceram uma
cabeça‑de‑ponte na Europa em Gallipoli. Quando desafiados em sua expansão pela Trácia pelas forças conjuntas
servo‑búlgaras, destruíram essas últimas e
Bulgária tornou‑se seu vassalo. Mais uma campanha vitoriosa sobre os sérvios pôs o Império Otomano em contato direto com a Hungria (1371) e
mais para o fim de seu reino, Lajos Magno chegou a ter de rechaçar um exército turco em campamha exploratória (1377) ainda sem consequências, em
boa medida porque a atenção |

|
dos otamanos se voltou
então a leste, para a conquista do resto da
Anatólia, originando a formação do Império
Otomano. O avanço turco nos Balcãs
só se tornaria
mais ameaçador de novo alguns anos mais tarde, com o advento do sultão
Bayazid (1389).

Europa, 1360 -- A
França e a Inglaterra continuam
ocupadas com sua Guerra dos 100 anos.
A nordeste expremidos entre os
tártaros (a Horda de Ouro) e os
Cavaleiros Teutônicos, estão
renascendo os principados de Polônia,
Litvânia e de Novgorod, O refluxo
árabe a oeste é
contrabalançado pela expansão dos
também muçulmanos turcos a leste. Mapa:
MEP.
|

Os
Balcãs em 1377. -- A rapidez
da expansão dos turcos otomanos pode
ser apreciada pela extensão
conquistada por eles nos Balcãs em 14
anos a partir do estabelecimento de
sua cabeça-de-ponte do lado europeu
das Dardanelas (azul). Do império
Bizantino sobra somente Constantinopla
em si e um território já desconectado
na Trácia (amarelo), e o Império
Otomano passa a ser vizinho direto da
Hungria (em vermelho). Mapa:
HSz.
|
Como resultado da política de casamentos de Károly Anjou, as casas de Boêmia e da Polônia estavam entrelaçadas com a casa da Hungria. Em consequência disso, Lajos
interveio algumas vezes a favor de seu tio, o rei da Polônia, na tradicional luta desse contra os lituanos, assegurando‑lhe a
Galícia, e quando aquele morreu sem herdeiro (1370), chegou a assumir o trono polonês, sem no entanto interferir muito na vida daquele país. Por último, mencione‑se a fundação da universidade de Pécs (1367),
seguindo a tendência de época na Europa central (fundação das universidades de Praga, 1348, Cracóvia e Viena, 1365). É
um sinal da adaptação do segundo Anjou no trono da Hungria à sociedade local o fato dele ter promulgado –ou mais exatamente, endossado as proposições de um Parlamento dominado pela alta nobreza– a legislação que consolida as instituições feudais (1351) há muito obsoletas e efetivamente inaugura, na Hungria, a “segunda servidão” que se generalizaria em toda a Europa Oriental para só se extinguir em 1848.
Na Europa Ocidental, a Guerra dos Cem Anos, em aparência uma herança da conquista normanda da Inglaterra, mas na verdade, pelo controle da região desenvolvida de produção téxtil dos Flandres, iniciada em 1327, acompanha todo o reinado de Lajos Magno, quando pára para uma pausa (1383) para recomeçar após uma geração. Na península ibérica, Castilho se expande no continente e Aragão, no Mediterrâneo. A boca do Báltico continuava a ser disputada por dinamerqueses e germânicos, como já há séculos, e a costa do Báltico, pelos Cavaleiros Teutônicos, Polônia, Lituânia (ainda pagão) e o Principado de Novgorod (russo, ainda com os mongóis nas costas).
Anterior .| .Próxima
Topo
|