Apresentação
Nômades nas estepes
A conquista: nos Cárpatos
A época das expedições
Consolidação: o território
A monarquia feudal
Economia européia 
A consolidação do Estado
O apogeu do feudalismo
A Bula de Ouro (1222)
O ocaso do feudalismo
A invasão dos tártaros
Os últimos Árpádinos [1301]
Os reis Anjou  [1308-1382]
Os turcos e Hunyadi [1430]
O rei eleito: Mátyás
Nasce um novo mundo 
Epílogo: HISTÓRIA II: Dos
 
descobrimentos até hoje

Criado 2005.7.21

PEQUENA HISTÓRIA DA HUNGRIA I.
Da fundação à alta Idade Média
(Até 1500)


Os turcos e Hunyadi


Zsigmond (1382-1437) filho do Imperador germânico Carlos IV e casado a uma das filhas de Lajos Magno subiu ao trono após alguns anos de lutas internicinas com pretendentes rivais. Desde o início ia perdendo a autoridade real e o baronato adquiria crescentes po­deres regionais. E os turcos agora batiam à porta da Hungria: tendo se consolidado na Ásia Menor, voltaram a se expandir nos Balcãs, anexando a Bulgária e aniquilando uma tentativa de recuperação sérvia na batalha de Kosovo (Rigómező, Campo dos Melros, 1389), quando ascendeu ao trono o novo e enérgico sultão Bayazid. Zsigmond liderou a úl­tima 'cruzada' contra ele, na qual o exército de cavaleiros bur­gun­dos, alemães, ingleses, italianos, húngaros e molda­vos foi totalmente destruído a Nicápolis. Veneza aproveitou para retomar a Dalmácia e o rei Anjou de Nápoles, para tentar tomar o trono (com o apoio da esdrúxula combinação de apo­ios do papa e de Baya­zid). Não conseguiu, mas deu trabalho. Quando não es­tava prisioneiro de seus próprios barões, Zsigmond ia brigar com seu irmão o rei da Boêmia até que em 1410 foi eleito imperadorromano’ (isto é, germâni­co). Isto lhe trouxe uma das maiores causas de distúrbio de seu reinado: o com­ba­te à revolta Hus­sitaum precursor tcheco dos movimentos de reformação reli­giosa do século subsequente– que lhe tomou praticamente vinte anos. A guerra hussita o impe­diu de tirar qualquer proveito da destruição de Bayazid (1402) por um dos grupos rema­nes­cen­tes do império mongol em Turquistão sob a direção de Timurlão, que paralisou a as­cen­são oto­mana por uma geração. Ao fim do longo reinado de Zsigmond o Império Otomano estava reconstruída, os territórios nos Balcãs firmemente sob seu controle, e a pró­pria Hungria sujeita a incursões por parte de tropas de re­conhecimento turcas. À sua mor­te (1437) o país se encon­tra­va sem herdeiro como antes dele, após Lajos Magno, com a enorme diferença que agora, além do pro­blema sucessório, as fi­nan­ças, a organização do Estado, a economia e o tecido social estavam em fran­­galhos.

Seu sucessor imediato foi o príncipe austríaco Albert Habs­burg (1437-9) que pas­­sa para a história como o pri­meiro Habsburg com a corôa húngara. Se ele teria con­se­guido firmar‑se no trono ou não, é uma questão em aber­to, uma vez que morreu após dois anos em uma cam­panha (fracassada) para romper o cerco tur­co de uma fortaleza na Sérvia. A partir daí, houve dois reis: um (recém‑nascido) filho de Zsigmond, László V (1440-57); e outro, da casa da Polônia, Ulászló I (1440-44). Formaram-se dois grandes parti­dos entre os nobres da Hun­gria: da alta nobreza os partidários da conexão ger­mânica (que implicava aceitar um papel subordinado nesta relação) e os nacionalistas da pequena nobre­za –aqui, os partidá­rios de Ulászló I. O líder deste último grupo era János Hunyadi, comandante militar consu­ma­do, guindado ainda por Zsigmond a um dos maiores se­nho­­res da Hungria, e Albert lhe conferiu o domínio da Cro­ácia, todo o Sul do país e a Transilvânia. As­sim ele se tornou o comandante natural da luta contra os tur­cos, mas simul­ta­neamente teve de lutar contra os ‘germanistas’ e oca­si­o­nalmente con­tra o imperador romano (germânico) que sequestrou a Coroa e o Infante‑Rei László V. Em um
cessar‑fogo da guerra ci­vil efetuou uma brilhante campanha (1443) domínios turcos adentro que o le­vou a penetrar até Sofia quando o in­verno o obrigou a recuar. No ano seguinte estava se pre­parando para retomar a campanha quando veio uma ofer­ta de de­volução  da linha de defesa dos turcos na Sérvia que os próprios sérvios aconselharam a Ulászló de acei­tar. Seguiu‑se uma confusão em que en­co­rajado pelo papa e por uma falsa promessa de apoio dos vene­zianos, Ulászló voltou atrás e fez seu exército mar­char sobre o turco. Chegou ao Mar Negro, mas caiu na bata­lha de Varna em que tomou parte pessoal, transformando a derrota em desastre. A falta de comando unificado perdurou, e a luta contra os tur­cos ia com sorte variável, sempre entremeada por lutas internas. Mas o prestígio de Hunyadi crescia como sendo o único a poder fazer frente à ameaça otomana, foi eleito Regente (László V. era ainda menor e em poder do imperador germânico) e atingiu seu apogeu quando, com a notícia e o trauma da queda de Cons­tantinopla (1453) ainda vívida nas memórias, resis­tiu com sucesso a um avanço turco de larga escala liderado pelo sultão Muhamad a Nándor­fehér­vár (Bel­gra­do) em 1456, consolidando a linha de defesa da Hun­gria. Os festejos da vitória do ‘salvador da cristandadeordenados pelo papa mal começaram quando Hunyadi mor­reu da peste trazi­da pelas tropas invasoras.

A Guerra dos Cem Anos terminou em 1453, o mes­mo ano da queda de Cons­tan­ti­nopla, com a expulsão dos ingleses de todos os territórios franceses (exceto a ci­da­de e porto de Calais) depois que o que come­çou como uma guerra feudal transformou‑se paulati­namente em uma guerra entre povos, em vias de se tornarem nações. A rigor, ambos os paí­ses de­vi­am sua unidade nacional a essa guerra que minou as es­truturas feu­dais; a Inglaterra ganhou, adicionalmente, a necessidade de implantar sua pró­pria indústria têxtil que não conseguiu a incorpo­ra­ção ou o controle de Flan­dres. An­tes mesmo da re­cuperação total da Península Ibérica pelos europeus aos mou­ros, eles efetuaram uma contra‑invasão: Por­tugal ocupou Ceuta, a ponta africa­na do estreito de Gibraltar (1415). Estava fechada a porta leste do Me­diterrâneo, tornando sua bacia oriental um fundo de quintal; abria‑se sua porta oeste para mun­dos inex­plorados pelos europeus.

Europa, 1430. Mapa: MEP.


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